No Aerolula, Rosemary Nóvoa de Noronha entrava com ou sem autorização do comandante. Voava na companhia do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Rosto delineado por plásticas, olhos negros e cabelos avermelhados, Rose, como é conhecida, desfrutou do zelo do padrinho. Acostumou-se a usar a proximidade para expandir sua influência e obter benesses, até ser indiciada pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, que investiga um esquema corrupção e tráfico de influência em órgãos federais.

Nomeada por Lula em 2003 para integrar o gabinete da Presidência em São Paulo, a assessora passou a chefiar a unidade em 2005, função que manteve até a última semana, quando foi exonerada pela presidente Dilma Rousseff após a eclosão do escândalo.

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Com base em mais de 10 mil e-mails interceptados, a assessora é apontada como elo entre o governo e a quadrilha que tentava fraudar pareceres, a fim de favorecer empresas. Rose, ou Madame, como alguns adversários a chamam, usou sua influência para colocar os irmãos Paulo e Rubens Vieira em diretorias de agências reguladoras e ainda emplacou a filha na Anac e o ex-marido na Infraero.

O poder para apontar dirigentes de importantes órgãos ela construiu aos poucos e em silêncio dentro do PT. Há mais de duas décadas conheceu José Dirceu no diretório nacional, em São Paulo. Assessorou o ex-presidente do partido por 12 anos, até cair nas graças de Lula, com quem já convivia desde a década de 1990.

A serviço do Planalto, Rose circulava silenciosa nos bastidores do poder. Ganhou intimidade a ponto de chamar o ex-metalúrgico por “Luiz Inácio” e não presidente. Nos e-mails interceptados se referia a ele como “PR”. Na edição desta semana, a revista Época diz que a assessora se apresentava como namorada de Lula para dar demonstração de poder.

PT trabalha para desqualificá-la

Em Brasília, os próprios petistas sabiam das idas seguidas da assessora à Capital, a fim de despachar em particular com Lula, muita vezes durante ausências da primeira-dama Marisa Letícia, que não lhe dirigia a palavra. Só a funcionária era capaz de fazer o ex-presidente faltar a compromissos importantes da legenda.

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A confiança recebida também rendeu boa quilometragem no Exterior. Levantamento da ONG Contas Abertas indica que Rose viajou a mais de 20 países em comitivas presidenciais. Em 2009, passou por Alemanha, Portugal, França, Reino Unido, Qatar, El Salvador, Guatemala, Costa Rica, Paraguai, Ucrânia e Venezuela. No ano seguinte rodou por México, Cuba, El Salvador, Rússia, Portugal, Moçambique e Coreia do Sul.

Após a sucessão de Lula, a auxiliar teria ido apenas uma vez a Brasília. Não gozava da simpatia de Dilma, que a segurou no cargo por força do antecessor. Mesmo assim, a assessora manteve a pose. Nas ligações para o Planalto, só aceitava conversar com nomes de primeiro escalão. Se outro funcionário atendesse, passava o telefone para um dos seus subordinados.

Rose usou do prestígio com o antigo chefe, que segue influente no governo, para fazer indicações e requisitar reuniões em troca de favores. Segundo a PF, a lista de mimos recebidos incluiria uma cirurgia plástica, a reforma de um apartamento e um cruzeiro animado pela dupla Bruno e Marrone.

Insistindo, por meio de notas oficiais, que não cometeu irregularidades, Rose vem tendo a vida devassada. O temperamento explosivo e as crises de choro que tem passado provocam calafrios nos cardeais do PT. Emissários tentam silenciar a assessora. Parlamentares, desqualificá-la.

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– É um exagero creditar a uma funcionária mequetrefe o poder de indicar diretores de agências – aponta um petista próximo de Lula.

guilherme.mazui@gruporbs.com.br

*Colaborou Kelly Matos

A teia de influências

Rosemary

Por conta do prestígio junto ao então presidente Lula, Rosemary Nóvoa de Noronha acumulou poder e capacidade de influência. Em São Paulo, centralizava as demandas que chegavam para a Presidência. Usava da influência para marcar encontros de empresários em dificuldades com autoridades do governo.

José Dirceu

Foi pelas mãos de José Dirceu que Rosemary cavou acesso ao centro do poder. Ela foi secretária do petista por 12 anos, antes de o PT chegar ao Planalto. Rose trabalhou com ele na Câmara. No dia em que a PF deflagrou a Porto Seguro, Rose ligou para Dirceu pedindo ajuda quando os policiais chegaram em seu apartamento, em São Paulo.

Lula

Quando chegou ao Planalto, em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva nomeou Rosemary para um cargo de assessora especial no escritório da Presidência em São Paulo. Dois anos depois, a promoveu a chefe. Ao longo dos anos, Lula e Rosemary se aproximaram. Ela passou a integrar as missões ao Exterior. Viajou para mais de 20 países com Lula.

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Paulo Vieira

Era diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) desde maio de 2010, Paulo Vieira chegou a ser preso pela PF. É investigado por favorecimento de empresas com pareceres fraudulentos do órgão. Para a PF, era o chefe da quadrilha. Um auditor do TCU diz ter recebido dele oferta de R$ 300 mil por parecer fraudado em nome de empresa.

Rubens Vieira

Irmão de Paulo Vieira, Rubens Carlos Vieira era diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Anac desde agosto de 2010. É suspeito de participar da quadrilha, usando a função para favorecer empresas interessadas no esquema. Após ser favorecido por Rosemary Noronha, empregou a filha dela na Anac, com salário de R$ 8,6 mil.