A chegada do verão traz uma série de eventos “previsíveis” para essa época do ano. Filas para as praias, invasão de turistas e, invariavelmente, surtos de viroses. Apesar de ser um problema multifatorial, um dos fatores relacionados às doenças diarreicas agudas (DDA) é a balneabilidade das praias do litoral catarinense.
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A área técnica do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) explica que no Brasil, a balneabilidade é regida por uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que é a CONAMA 274 do ano 2000.
A resolução estabelece três indicadores para medir a qualidade da água, sendo que em Santa Catarina foi adotado como indicador um deles, que é a presença da Escherichia coli.
— A Escherichia coli é uma bactéria que está presente somente no sistema digestivo dos animais de sangue quente. Então, se em uma análise de água a gente encontra uma grande concentração de Escherichia coli, significa que essa água teve contato com algum tipo de contaminação, esgoto, nesse caso — aponta o IMA.
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As análises são feitas na água para contato primário, no que é chamado de uso recreativo, como o banho de mar durante um dia de praia, a pesca, a canoagem e outros esportes no mar.
O monitoramento é feito porque em atividades com contato prolongado com a água, seja em práticas esportivas ou recreativas, se ingere pequenas quantidades de água, o que pode facilitar a contaminação por vários microrganismos, como bactérias, protozoários e alguns vírus. É o que destaca a médica infectologista Mickaela Fischer.
— A transmissão de microrganismos normalmente vai envolver o contato com mucosas, especialmente ao engolir quantidades, mesmo que pequenas, de água. Entretanto, não podemos ignorar que o contato com águas impróprias ou com areias contaminadas pode trazer reações na nossa pele, seja por alergia ou até por infecção, através de pequenas escoriações ou ferimentos que eventualmente tenhamos — detalha a médica.
O IMA explica que a presença de Escherichia coli serve como um indicador de risco potencial para viroses, protozoários e bactérias que são nocivas ao ser humano. Não necessariamente a Escherichia coli será o causador da doença, mas por estar presente na água ela indica que outros patógenos também podem ser encontrados.
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— A Escherichia coli é uma bactéria que está presente somente no sistema digestivo dos animais de sangue quente. E a gente sabe que existe uma série de doenças que são transmitidas por origem fecal-oral ou oral-fecal. Viroses, a gente tem várias desse tipo, norovírus, rotavírus. Existem problemas com protozoários, existem problemas com uma série de bactérias, streptococcus, a própria Escherichia coli — afirma o IMA.
O contato com a água contaminada com esses patógenos, ligados a problemas gastrointestinais, faz com que a pessoa que está se banhando em praias impróprias esteja sujeita a contrair essas doenças.
Sintomas e cuidados
Os principais sintomas das doenças infecciosas gastrointestinais, popularmente chamadas de viroses, são dor de cabeça, enjôo, vômitos, diarreia e dor no corpo. A infectologista Mickaela Fischer reforça que esses sintomas podem ser atribuídos a diversas viroses, como, por exemplo, a dengue.
A recomendação é procurar atendimento médico em sinal de gravidade, e o tratamento inclui tomar bastante água, alimentação leve, respeitando a tolerância do corpo, e repouso, segundo Mickaela.
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A infectologista aponta ainda que o contato com a água do mar contaminada não é o único fator que leva a casos de viroses.
— A aglomeração de pessoas em locais fechados, mesmo que com ar condicionado, os alimentos mal conservados ou mal cozidos, o contato com outras pessoas doentes, além do risco dos focos de dengue nos locais com água parada, são todos pontos que favorecem o número de viroses que estamos vendo — afirma.
A médica recomenda ainda que a população mantenha hábitos de higiene, como lavar as mãos com frequência e sempre antes de cozinhar ou se alimentar, evitar consumo de alimentos de procedência desconhecida e usar máscara em caso de sintomas gripais.
Ela também reforça a importância de tomar bastante água, respeitar as noites de sono, ter uma alimentação variada e nutritiva e praticar atividade física para manter uma boa imunidade nesse período do ano.
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Crescimento de casos de doenças diarreicas agudas
Os casos de doenças diarreicas agudas (DDA) costumam crescer durante o verão, em especial nos municípios litorâneos. Além do crescimento temporário da população devido à procura desses destinos no verão, o contato com águas impróprias para banho e o aumento do consumo de alimentos em estabelecimentos fora de casa, muitas vezes em condições inadequadas de manipulação e armazenamento, estão entre as razões para esse crescimento.
O Informe Epidemiológico das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA) em Santa Catarina, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), traz dados das doenças até esta quarta-feira (22). A primeira semana de janeiro teve 11.652 atendimentos por DDA, um crescimento de 40,13% em comparação com o mesmo período de 2024.
Já na semana dois, foram 16.315 casos, em uma sequência de crescimento, com uma queda na semana três, com 14.112 casos de DDA. As regiões da Foz do Rio Itajaí e da Grande Florianópolis tiveram os maiores números de atendimentos, sendo 10.498 e 7.381 casos, respectivamente.
O indicador reflete o aumento do fluxo de turistas nessas duas regiões, que concentram diversos municípios com grande atrativo turístico, o que reflete nos casos de DDA.
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A faixa etária mais atingida pela doença foi a de 10 anos ou mais, com 35.192 casos (84%); seguida da faixa etária de 5 a 9 anos, com 3.335 casos (8%); 1 a 4 anos, com 2.662 casos (6,4%); e menores de 1 ano de idade, com 703 casos (1,7%).
Até o momento, foram notificados quatro surtos de DTHA nos sistemas oficiais de notificação de vigilância em 2025.
Como são feitas as análises de balneabilidade
Para determinar se um ponto é próprio ou impróprio para banho, o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) faz uma série de cinco análises. Para um ponto ser considerado próprio, ele precisa ter quatro das últimas cinco análises com o indicador de Escherichia coli menor que 800 por 100ml.
O número indica uma concentração baixa de esgoto, que representa um baixo risco sanitário, segundo o IMA. São consideradas as últimas cinco análises, sendo que em alguns pontos as análises são feitas duas ou três vezes por semana.
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— Novamente, não é somente Escherichia coli que é danosa ao ser humano, mas por ter uma baixa concentração desta bactéria, possivelmente há baixa concentração ou insignificante concentração de outros patógenos. Por isso é um indicador, significa que é uma água limpa, com baixo contato com esgoto sanitário, enfim, fezes de animais — diz o IMA.
Ainda, a análise mais recente da quantidade de Escherichia coli não pode ser superior a 2 mil em 100 ml. Nesse caso, mesmo que as outras quatro medições tenham sido inferiores a 800, o ponto é considerado impróprio.
Isso porque o local provavelmente recebeu uma carga muito grande de efluentes que podem trazer danos à saúde.
As coletas são feitas mensalmente de abril a outubro e semanalmente de novembro a março. Os técnicos fazem as coletas da água do mar a até um metro de profundidade, na quantidade de 100 mililitros em cada ponto. Durante o verão, os boletins são divulgados semanalmente no site do IMA.
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Chuvas intensas acendem alerta sobre balneabilidade das praias
Na última semana, fortes chuvas atingiram o Vale do Itajaí, Litoral Norte e a Grande Florianópolis, provocando alagamentos, enxurradas e deslizamentos em diversas cidades. A chuva fez também com que o IMA não emitisse o relatório de balneabilidade das praias do litoral catarinense, tradicionalmente divulgado nas sextas-feiras.
As chuvas que ultrapassaram os 250 milímetros acumulados em alguns pontos causaram danos materiais em praias, desmoronamento de barreiras e movimentação hídrica, o que compromete a análise de balneabilidade das praias, segundo o órgão.
As coletas de amostras de água nos 238 pontos monitorados também não foi realizada ao longo desta semana, e assim o relatório não será publicado, novamente, nesta sexta (24).
O IMA explica que os sistemas de esgotamento sanitário são fortemente influenciados pela chuva. No caso das residências que estão ligadas na rede de esgoto sanitário adequadamente, algumas estações elevatórias de esgoto não suportam a grande quantidade de água decorrente das chuvas e essas estações acabam transbordando.
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Assim, ao invés de levar os dejetos para uma estação de tratamento de efluente, a água misturada ao esgoto transborda para as drenagens pluviais.
Há ainda o problema das ligações irregulares, em que a residência tem na sua rua a rede de esgoto, mas o indivíduo ou não se ligou à rede ou ligou inadequadamente, e acaba lançando o seu esgoto na drenagem pluvial.
— Nesse caso, sempre que há grandes chuvas ou enxurradas esse material todo ele é levado junto com a água da chuva para rios, mares, para onde há esses exames de balneabilidade. No caso das residências com fossa, filtro e sumidouro o solo acaba saturando esse esgoto que deveria ser infiltrado no solo, que acaba sendo carregado com toda chuva também no solo diretamente para os rios e mares — explica o IMA.
Ainda, as sujeiras das ruas são carregadas pela água, com grandes lavações de galerias, das estações elevatórias e dos sistemas sobrecarregados, que tem o mar como destino final, local onde o exame de balneabilidade é feito.
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Por conta disso, depois de grandes chuvas como as da semana passada, por ter influência em todos os sistemas de escoamento, o banho de mar não é recomenda por 48 horas, até que haja completa diluição no mar do material contaminado.
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