Uma parte da história de Jaraguá do Sul que é pouco conhecida virá à tona. A sociedade civil está determinada a resgatar a memória do povo negro da cidade – desde a chegada, durante a colonização, até os dias de hoje. Nesta quarta-feira, movimentos sociais e o poder público realizaram a primeira reunião de 2015, na Câmara de Vereadores.
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A comissão que executará o projeto conta com 18 pessoas, entre militantes, historiadores e representantes da cultura africana. Com mais de 40 envolvidos, o grupo deverá trabalhar no levantamento de informações sobre a população negra atual, no resgate da chegada dos negros na região, em entrevistas com os moradores mais antigos e na identificação das personalidades conhecidas da cidade.
Tudo será publicado em um livro, que depois ficará disponível nas escolas e na biblioteca municipal. Outra homenagem planejada pela comissão é a construção de um monumento de simbologia africana.
– Hoje, aos 63 anos, vejo que a luta do negro não foi em vão. Estou começando a tirar aquela mágoa que eu tinha do resto da humanidade. Deixamos de ser negros, brancos, amarelos e vermelhos para sermos seres humanos. Meus filhos e netos terão uma sociedade mais humana do que eu tive – diz Everaldo Corrêa, secretário da comissão.
Nos próximos dois meses, o grupo estará aberto ao recebimento de documentos, imagens, textos e relatos que possam enriquecer a pesquisa. Quem quiser contribuir, pode entrar em contato com o presidente da comissão, Francisco Alves, pelo telefone 9185-0013.
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– É o momento de construção de ideias. Houve uma época em que não se podia falar sobre o negro. Hoje podemos reconstruir essa história. Ela é parte da história de Jaraguá – afirma o vice-presidente, Luis Fernando Olegar.
Estão envolvidas entidades como o Movimento da Consciência Negra do vale do Itapocu (Moconevi), Comunidade Negra de Jaraguá do Sul (Conejas), Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), Federação de Umbanda, Candomblé e Angola (Fuca), Abadá Capoeira e blocos de Carnaval. A iniciativa foi do vereador Pedro Garcia, que já atuou na comissão de resgate histórico da explosão da fábrica de pólvora.
Poloneses, italianos, húngaros, alemães e negros também
Para os integrantes da comissão, o projeto veio para unir e fortalecer a atuação dos movimentos negros de Jaraguá do Sul. Segundo a ex-coordenadora do Movimento da Consciência Negra do Vale do Itapocu (Moconevi), Marlene Rosa dos Santos, a iniciativa dará visibilidade à população e colocará a cultura negra em igualdade com a polonesa, italiana, húngara e alemã.
O presidente da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, Sidnei Marcelo Lopes, lembrou que a maior casa cultural do município leva o nome de um negro: Emilio da Silva. Outras personalidades afrodescendentes também denominam o bairro Chico de Paulo, o colégio Abdon Batista, a escola Machado de Assis e as ruas Joaquim Francisco de Paulo e Domingos Rosa, por exemplo. Apesar das homenagens, é cedo para comemorar avanços na igualdade.
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– Ainda é prematuro dizer que não há racismo. Precisamos pesquisar quantos são os negros na cidade, qual o grau de instrução e a posição no trabalho: se estão à frente ou nos fundos. Enfrentamos barreiras todos os dias. O racismo pode ter se modernizado, mas não acabou – destaca Juarez Gomes, presidente da Comunidade Negra de Jaraguá do Sul (Conejas).