Numa derrota admitida com antecedência, o Palácio do Planalto viu o impeachment avançar mais uma etapa na Câmara, ameaçando o mandato da presidente Dilma Rousseff. Depois de quase 10 horas de discussões e troca de ofensas, nas quais os parlamentares quase foram às vias de fato, o parecer favorável do relator, Jovair Arantes (PTB-GO), foi aprovado por 38 votos a 27.

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A continuidade do processo será decidida pelo plenário da Câmara, o que deve acontecer no próximo domingo. Caso pelo menos 342 dos 513 deputados se posicionem a favor da admissibilidade do afastamento da presidente, a questão vai ao Senado.

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O revés do governo na comissão especial era aguardado. Às 18h, mais de duas horas antes da votação, o ministro Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) registrou em seu Twitter que “a votação de hoje (segunda-feira) não significa o final dessa disputa”, e projetou somar entre 208 e 212 votos no domingo. O petista confirmou a posição externada por Paulo Pimenta (PT-RS) ainda pela manhã, antes da abertura da última sessão do colegiado:

— É tudo carta marcada. Aqui não tem mais volta. Nossa luta é no plenário.

Com a Câmara blindada por um aparato de segurança, o trabalho da comissão foi tumultuado. O líder do PT, Afonso Florence (BA), chegou a ameaçar os colegas caso o parecer de Jovair fosse aprovado.

— Vocês não vão ter sossego. O povo mobilizado vai lutar pelas suas conquistas — alertou, sob apupos da oposição.

O ambiente já estava tenso no começo da manhã. Orlando Silva (PC do B-SP) discutiu com Carlos Marun (PMDB-MS) e Laudívio Carvalho (SD-MG) por causa da fila dos suplentes. Primeiro a chegar, Laudívio entrou na sala da comissão às 6h40min para ter o direito a ocupar a vaga de algum titular ausente. Como o deputado Washington Reis (PMDB-RJ), tido como indeciso, está hospitalizado com H1N1 e não compareceu, o mineiro foi saudado pela oposição como um voto a favor do impeachment. Orlando não aceitou, dando início a um bate-boca.

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— Vocês não respeitam nem fila — reclamou Marun.

Prevista para começar às 10h, a reunião foi aberta com 55 minutos de atraso pelo presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF). Depois de agradecer a solidariedade dos colegas e lamentar a instalação de um muro em frente ao Congresso — para separar os manifestantes pró e contra o afastamento de Dilma —, o parlamentar passou a palavra a Jovair. Em 40 minutos, o relator renovou a convicção de que a presidente cometeu crime de responsabilidade.

Após o pronunciamento do relator, o ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, apresentou uma nova argumentação em prol do governo e disse que o Tribunal de Contas da União mudou seu entendimento sobre as pedaladas fiscais, que a responsabilidade sobre eventuais ilegalidades seria do ministro da Fazenda e defendeu a nulidade do parecer.

— Não há um mínimo de prova sobre a presidente da República — resumiu, antes de ser interrompido por uma discussão entre Henrique Fontana (PT-RS) e Francisco Francischini (SD-PR).

Disputa por apoio para domingo está acirrada

À tarde, entre períodos de calmaria e de gritarias, Silvio Costa (PT do B-PE) agitou o plenário ao reproduzir o áudio em que o vice-presidente Michel Temer fala como se a admissibilidade já tivesse sido aprovada pela Câmara, que não pôde ser ouvido pelos gritos da oposição. Contudo, nem todos os atos foram beligerantes. Benedita da Silva (PT-RJ) ofereceu maracujá aos colegas, na tentativa de acalmar os ânimos.

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Nos discursos, os deputados recorreram às mais diversas citações — passando por frases de Rui Barbosa, Chico Xavier, Maquiavel e John Kennedy — e até mesmo à Oração de São Francisco. Havia parlamentares comentando a sessão por aplicativos de celular e outros gravando vídeos para enviar aos eleitores. Enquanto uma deputada petista distribuía flores, Pauderney Avelino (DEM-AM) e Marco Feliciano (PSC-SP) cabalavam votos ao parecer de Jovair.

Aprovado o relatório pela admissibilidade do processo de impeachment, as projeções para votação de domingo se acentuaram. Líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) liberou os votos dos integrantes da sigla na comissão. A decisão foi considerada um indicativo para orientação em plenário, influenciada pelo anúncio de apoio do PMDB fluminense, comandado pelo pai do deputado, ao afastamento de Dilma. 

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