Dois dias depois de uma mancha escura aparecer no rio Perequê, Porto Belo sente as consequências para o comércio e turismo. Nesta terça-feira, a orla da praia onde a mancha se concentrou estava vazia, exceto por um ou outro turista desavisado. Na foz do Perequê a água continuava escura e as ondas carregavam uma espécie de resíduo brilhante.

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No final da tarde desta terça-feira a Fatma divulgou que os exames de balneabilidade da água feitos na segunda-feira não apontaram alterações nos índices de coliformes fecais – o que, tecnicamente, exclui a hipótese de vazamento de esgoto na região.

Os guarda-vidas já não avisavam mais os banhistas sobre os perigos da água e alguns até se arriscaram no mar. Enquanto isso, um pescador tentava fisgar algum peixe nas águas escuras do Perequê.

A mancha não afastou apenas os turistas da areia em um bonito dia de sol, os comércios também estavam vazios. Ingo Casamar tirava um cochilo à espera de clientes sentado em frente ao seu estabelecimento. De acordo com ele, desde que a mancha apareceu, a praia esvaziou e o movimento caiu 80%.

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– De sábado pra hoje a cor da água mudou muito, está bem melhor. Mas os turistas foram embora depois que os bombeiros pediram para não entrar no mar. Isso é ruim para quem nos visita e pra quem investe em bar e restaurante – avalia.

Casamar diz ainda que não é a primeira vez que a mancha aparece no mar. Segundo ele, todo ano o problema se repete, mas às vezes acaba passando despercebido.

– Acho que a prefeitura e os moradores deveriam investir em saneamento e fossas sanitárias, não adianta enterrar canos se não tem tratamento de esgoto – opina.

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A comerciante Marlene Costa, que trabalha em um quiosque perto da foz do Rio Perequê, também está sentindo os efeitos da mancha escura. Ela conta que dias antes a praia estava lotada e agora o movimento caiu muito. Marlene explica que todos estão com medo de entrar na água – o genro dela, por exemplo, pegou uma virose após se banhar no domingo à tarde.

– Não trago mais meu filho junto por medo que ele pegue alguma doença nessa água. Fomos muito prejudicados e os turistas estão indignados. Aqui do lado, o pessoal que alugou a casa resolveu ir pra outra praia. Todos perdem com isso – afirma.

Quem veraneia na praia também não gostou da situação. O agricultor Celso Padovani, do Mato Grosso, tem casa de frente para o mar do Perequê, mas ontem foi até Bombinhas com a família. Ele relata que nunca tinha visto a água deste jeito e diz que o problema se repete desde o fim de novembro.

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– Eu costumo caminhar pela praia, andar de stand-up e jet sky e percebi a água do rio mais escura desde o dia 20 de novembro. No domingo a situação piorou. Acho um descaso e um absurdo, se não tivesse casa aqui, não voltaria mais. Tenho vários conhecidos que estão indo para outras praias ou cancelaram a viagem – conta.

Prejuízo nas locações

Nas imobiliárias próximas ao bairro Perequê teve gente pedindo a devolução do dinheiro das locações. O corretor da Baron Imóveis, Fabiano Roberto Baron, diz que clientes desistiram do aluguel e a imobiliária teve que devolver o dinheiro de oito casas – um deles, inclusive, ameaçou processar a empresa pelo fim das férias antecipado.

– Essa história do rio é antiga, todo verão a gente fica nessa agonia e imagina que alguma coisa vai acontecer. O problema é que chega o inverno e as pessoas esquecem – observa.

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Morador de Porto Belo há 43 anos, Baron lembra da época em que as águas do Rio Perequê eram limpas e não havia problemas com saneamento. Hoje, ele conta que não aconselha a tomar banho de mar na praia.

– Independentemente do problema é preciso fiscalização e solução. Por enquanto a gente só vê Porto Belo e Itapema empurrando o problema um para o outro, quando deveriam se juntar pra resolver – completa.