Aos poucos voltam a reabrir salas e lojas comerciais que foram desocupadas no Centro de Joinville ao longo da recessão econômica brasileira, iniciada em 2014. A retomada dos setores de serviços e comércio é apontada pela Associação Empresarial de Joinville (Acij) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) como fonte mobilizadora de novos negócios imobiliários na área central.

Continua depois da publicidade

Uma consulta informal feita pelo "AN" na última quarta-feira, considerando as ofertas online de imóveis comerciais para locação nas empresas que compõem o Núcleo de Imobiliárias da Acij, mostra que estão disponíveis no Centro cerca de 130 salas e pontos de comércio. Em agosto de 2017, outro levantamento feito pelo jornal sobre o tema contabilizava mais de 170 imóveis aptos para aluguel.

Um dos sinais de recuperação vem por meio da geração de empregos, em especial, na área de serviços. No primeiro quadrimestre deste ano foram abertas 3,4 mil novas vagas no setor, o que correspondeu a 53% dos novos postos de trabalho em Joinville até abril.

— Vivemos um tempo de muita transformação nas áreas de serviço e de comércio. Em antigos pontos comerciais de Joinville, por exemplo, estão surgindo empresas de prestação de serviços. Constato também que as pessoas estão caminhando mais pela área central, o que acaba movimentando o comércio e os serviços. Consequentemente, há um círculo virtuoso. Mais pessoas circulando, mais possibilidades de negócios. Algo bastante positivo para a cidade — avalia José Manoel Ramos, presidente da CDL.

Confiança para empreender

A análise é corroborada por Rozana Barros, presidente do Núcleo de Imobiliárias da Acij e sócia de uma empresa do setor na qual a procura por locação aumentou em torno de 12% no comparativo com os últimos dois anos. Para este crescimento a empresária vê certa influência da expectativa de melhora na economia diante do início de um novo governo.

Continua depois da publicidade

— Com essa perspectiva de retomada econômica muitas pessoas ficaram mais confiantes para empreender e abrir o negócio próprio, e, quem já está no mercado, para expandir. Isso amplia a variedade de segmentos no mercado de rua, o que acaba aquecendo os mercados de compra e locação de espaços comerciais — justifica — Outro fator é a negociação entre o locatário e o locador, que está mais flexível, tornando o mercado imobiliário mais propenso a crescer — continua.

Ainda conforme a especialista, grande parte das lojas no Centro já vêm de herança familiar, mas cresce a compra ou o aluguel de salas comerciais, por exemplo, para o primeiro empreendimento de quem está saindo da faculdade. Outra avaliação é que o mercado está mais diverso, mirando áreas como saúde, beleza e varejo em geral.

— Há a vinda de muitas pessoas de fora e com pensamentos diferentes para Joinville, o que provoca esse aumento do mercado misto e o crescimento, inclusive, na área comercial — analisa.

foto mostra mulher arrumando prateleira com produtos de beleza
Karla abriu uma loja no Centro depois de atuar por três anos como consultora (Foto: Salmo Duarte)

Coragem para abrir o próprio negócio

O dia 18 de junho, na última terça-feira, marcou um novo momento na vida profissional de Karla Trindade Barbosa, de 36 anos. A joinvilense conseguiu realizar um sonho que a acompanhava há ao menos três anos: ter o próprio negócio na linha de cosméticos. Ela abriu a primeira franquia física da Natura na rua Doutor João Colin, depois de atuar como consultora e líder de negócios no setor.

Continua depois da publicidade

— Tive coragem com um empurrãozinho do meu esposo, que disse ‘se existe a possibilidade de você ter o seu negócio, corre atrás’. Foi o que eu fiz. Procurei a empresa e a proposta de franquia foi aceita. Depois visitamos vários lugares e quando vi essa loja para alugar na imobiliária eu vi que era a cara da marca. Estou confiante que o negócio dará certo — torce.

A poucos metros dali, na mesma rua, o gaúcho Christopher Fonseca, 28, resolveu apostar na Brillance For Men, uma loja com produtos exclusivamente masculinos. O endereço foi alugado ao lado de outro empreendimento familiar voltado ao público feminino.

— Faz dois meses que decidimos investir nessa nova loja e a resposta do público está sendo muito boa. Estamos otimistas, porque entramos no segundo semestre e logo começa a movimentação para o final do ano, que costuma ser a melhor época para o comércio — afirma Christopher.

Crise e obra do rio Mathias ainda atrapalham

Em contrapartida outros lojistas não demonstram a mesma confiança quanto a movimentação no comércio ao longo do ano, ainda em decorrência da crise e falta de infraestrutura nas ruas.

Continua depois da publicidade

É o caso da empresária Andrea Trentini, 41, que possui três lojas de vestuário mix espalhadas pela região central, a última delas Amor de Lizz, aberta no último semestre. Segundo ela, apenas uma – de moda fitness – está tendo o retorno esperado.

— O comércio ainda não se recuperou, não só pela crise, mas a obra do Rio Mathias começou há anos e ainda não tem prazo para terminar. Isso afastou os consumidores do Centro. Mantemos comércio na Rua do Príncipe há alguns anos e não sei até quando vai continuar aberto. Por lá e na Jerônimo Coelho, ou as lojas estão mudando de endereço ou estão fechando — diz.

Ainda segundo a comerciante Andrea, outro fator determinante para a redução do movimento de compradores é o fato de que as lojas nos bairros estão melhores estruturadas e o preço da passagem de ônibus para quem deseja ir até o comércio no Centro pode acabar não compensando para a vinda de novos clientes.