A grave crise econômica que a Argentina passa vai trazer menos hermanos para as férias em Santa Catarina nessa temporada, conforme a previsão da Fecomércio-SC. Em Canasvieiras, principal destino dos nossos vizinhos, o clima é de apreensão entre os lojistas. E não poderia ser diferente: no ano passado eles representaram quase um quarto dos turistas no Estado. Por isso, a Hora de SC foi até o bairro do norte da Ilha para saber como o comércio se prepara para esta temporada.
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Esse é assunto mais falado nas lojas do bairro, junto com as eleições. Funcionária há 9 anos de uma loja de lembranças na Rua Maria Vilac, Driele Costa dos Santos diz que em outubro já era para os argentinos estarem chegando. E ao contrários das temporadas passadas, dessa vez o patrão não contratou um vendedor temporário pra ajudá-la.
— Ninguém foi chamado até agora e pelo jeito nem vai. Nós até estendemos o horário da loja, mas parece que não adiantou.
A a dona Sinara Flores Marin, que cuida de uma loja de artigos de praia, acha que os gringos virão igual, mas com menos dinheiro no bolso.
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— Eles têm uma cultura diferente da nossa. Sempre guardam dinheiro pras férias. O pessoal está com medo, mas eu acredito que eles vão vir.
Já a empresária Betina Ramos, dona de uma loja de roupas, travou uma estratégia diferente: ela está focando seus produtos para o público brasileiro. A ideia é trazer marcas que agradam mais o consumidor local.
— Nós mudamos o direcionamento do nosso cliente. Não podemos ficar dependente do turista argentino. A gente tem que ser autossustentável o ano todo. Canasvieiras é o bairro mais turístico da Ilha, mas no inverno é bem difícil vender, muito por causa disso.
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Ela diz que foi-se o tempo em que os hermanos chegavam nas lojas e levavam quatro, cinco peças de uma vez. E que aprendeu isso nas temporadas passadas.
Turista local é a bola da vez
O economista da Fecomércio, Luciano Córdova, lembra que o peso argentino perdeu muito valor tanto em relação ao dólar quanto ao real. Nos últimos 30 dias, a moeda deles ficou 6,5% mais barata em relação à nossa.
– É importante que o empresário e a sociedade busquem atrair o turista interno, do próprio país ou de outras regiões – corrobora Córdova.
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Já o Aeroporto Hercílio Luz informou que houve um recuo de 8% na solicitação de voos da Argentina para Florianópolis na próxima temporada, na comparação com a anterior. Porém, a Floripa Airport salienta que ainda é cedo para precisar a diminuição, pois nem todas as companhias aéreas que operam para o país vizinho realizaram os pedidos de voos.
América do Sul faz a diferença
Na última temporada, os argentinos representaram sozinhos 23,5% de todos os turistas que visitaram Santa Catarina, segundo dados da própria Fecomércio. O número foi o segundo maior desde que a entidade passou a pesquisar o perfil dos visitantes, em 2013.
Conforme o levantamento da Fecomércio, outros turistas que ‘hablan español’, principalmente vindos do Chile, Uruguai e Paraguai, também representaram um número importante no total de estrangeiros na última temporada de verão.
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Para o presidente da sede catarinense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Raphael Dabdab, a expectativa é de que o turismo interno consiga compensar a falta de estrangeiros. Mesmo assim, ele lembra que o hábito de muitos veranistas mudou nas últimas temporadas.
– Vimos muitos turistas levando comida às praias, frequentando atacado, dando preferência pelo aluguel de uma residência em vez de um hotel – afirma Dabdab, lembrando que a crise econômica brasileira também afetou o consumo dentro do Brasil.
Secretaria de Turismo está otimista
Apesar de o mercado prever uma queda no número de argentinos nos destinos catarinenses, a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer de SC está otimista e acredita que existe uma boa oportunidade de crescimento. Segundo o secretário da pasta, Valdir Walendowsky, o país vizinho vive principalmente uma situação de inflação alta. Para ele, essa condição econômica pode incentivar a vinda de pessoas para Santa Catarina.
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– Com a inflação alta, é mais vantajoso para eles viajar para fora do país do que ficar por lá – aponta Walendowsky.