Na barbearia que mantém há nove meses na Alameda Rio Branco, no Centro de Blumenau, Ramon Eufrázio Dorow recebe os clientes na porta, à moda antiga. O gesto não é só uma cortesia, mas também uma forma de manter o acesso seguro enquanto está envolvido com cortes de barba e cabelo. A porta da frente tem trancas e grades de ferro no vão entre as laterais de madeira. O acesso dos fundos tem inclusive suportes em que são apoiadas barras de madeira. Nem mesmo essas proteções impediram que há cerca de um mês, na madrugada de uma quinta-feira, um homem arrombasse a fechadura da frente, invadisse o estabelecimento e levasse um massageador e outros produtos usados no dia a dia.

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A ação frustrou o empresário, mas não foi exatamente uma surpresa por causa de relatos de outros vizinhos de comércio. O estabelecimento é apenas um da região da Alameda que nos últimos meses sofreu com os bandidos. Em geral, a preferência é por furtos e arrombamentos à noite, de madrugada ou nos fins de semana, quando os locais estão vazios. A aproximadamente 100 metros dali, em um salão de beleza e estética, trabalha Laerte Stoever. Na manhã do último dia 2, um domingo, o espaço teve a porta da frente arrombada. Quatro pessoas fizeram a limpa no interior do salão: levaram televisão, notebook, celulares, prancha e secador, enquanto um quinto elemento encapuzado dava cobertura do lado de fora.

Na última semana foram levadas até as luminárias que existiam no jardim. Laerte afirma não ter medo, mas reconhece a insegurança maior, principalmente nos dias em que o horário de atendimento precisa se estender à noite. Policiamento, segundo ele, é algo difícil de ver na localidade. O jeito foi colocar mais trancas nas portas e redobrar os cuidados.

– A gente confere 20 vezes as portas e janelas antes de ir embora e fica sempre de olho no celular para ver se não tem nenhum aviso (da empresa de alarme). Agora que estamos relaxando um pouco, mas as primeiras semanas foram complicadas – admite a sócia Val Santos.

Nem a câmera de vigilância escapou

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No mesmo trecho da Alameda Elen Hsiao tem uma lanchonete há seis anos. Nesse período foram pelo menos 10 vezes em que o local sofreu com a criminalidade. Em geral furtos e arrombamentos em que os suspeitos levaram TVs e bebidas. O caso mais recente ocorreu na semana passada. O estabelecimento ficou fechado na Sexta-feira Santa. Na chegada para trabalhar no sábado os funcionários viram que uma das duas câmeras de vigilância que ficam na entrada não estava mais lá. Restaram só os fios pendurados. As ocorrências exigiram a colocação de grades nas portas e janelas.

Comerciantes estudam contratar vigilantes

Em janeiro deste ano, uma confeitaria na parte final da Alameda Rio Branco foi alvo de um assaltante que no meio da tarde abordou uma funcionária do caixa e fugiu a pé por transversais em direção ao bairro Garcia. O suspeito foi localizado logo depois pela Polícia Militar com a ajuda de um sócio que seguiu o autor do roubo. Foi apenas uma das mais de 20 vezes em que o local foi alvo da criminalidade. As janelas ganharam barras de ferro para aumentar a proteção.

– Queira ou não isso desanima, mas a gente não pode parar – conta o sócio Sidinei Poleza.

Os furtos e arrombamentos afetam também comerciantes que preferem não se identificar por medo de que a ação dos bandidos afaste os clientes. É o caso de um estabelecimento do ramo alimentício assaltado há cerca de 10 dias. Outro comércio, na Rua Nereu Ramos, instalava uma grade de ferro na porta ontem à tarde depois de ter sofrido um arrombamento no dia anterior. O suspeito levou apenas moedas que estavam no caixa.

Empresários estudam parceria

O problema leva comerciantes a estudarem uma parceria para dividir os custos da contratação de vigilantes privados para monitoramento da região nos horários de portas fechadas. Uma proposta de instalação de câmeras também foi oferecida a alguns lojistas.

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– Ainda estamos conversando, mas é uma ideia que cogitamos para tentar inibir esses casos – pontua a empresária Val Santos.

PM promete estudar medidas para diminuir casos

Questionado sobre os relatos dos comerciantes, o comandante da Polícia Militar de Blumenau, tenente-coronel Jefferson Schmidt, afirmou que as ocorrências registradas na região da Alameda Rio Branco estão dentro de um padrão e que a área hoje é menos visada do que comércios de bairros como Itoupavazinha e Itoupava Central – segundo o comandante, nesses locais os comércios dispõem de menos sistemas de alarme e segurança e os suspeitos costumam visar o alvo mais fácil.

– O índice na Alameda não é alarmante, estatisticamente não tem uma mancha criminal tão preocupante, mas a partir do momento em que alguém se sente incomodado, e é natural que qualquer um que tenha sua segurança ameaçada se sinta, nós vamos buscar primeiramente uma leitura do que está acontecendo, qual fator está facilitando os indivíduos a furtarem ali e, conhecendo a situação, vamos tentar buscar medidas que possam diminuir esses casos – pontua Schmidt.O comandante acrescenta ainda que um eventual aumento nos furtos da região pode ser reflexo da atuação da PM e da Polícia Civil em outras áreas da cidade.

– O bandido de forma muito prática vai sair da zona que está sendo saturada e vai para outra – analisa o comandante, que aponta ainda que as ações nos bairros mais estratégicos têm resultado na diminuição de roubos a mão armada.

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Cuidados para comerciantes

– Em padarias, mercados e comércios de pequeno porte, é recomendado que a caixa registradora não fique ao lado da porta. Isso pode fazer com que os bandidos não precisem nem entrar no estabelecimento para praticar um eventual roubo. O ideal é que seja distante da entrada e tenha uma espécie de corrimão para delimitar o caminho do cliente entre pagar e sair.

– A iluminação interna e externa também é vista como forma de afugentar eventuais suspeitos. Quanto mais o bandido se sentir exposto, menos vai querer cometer o delito.

– Um sistema de alarmes também é apontado como bom aliado para evitar casos de arrombamentos.

Fonte: tenente-coronel Jefferson Schmidt, comandante da PM de Blumenau