*Por Sharon Otterman
Nova York – Uma dúzia de pessoas esperava na fila quando o Imani, no Brooklyn, abriu para o brunch pela manhã. Naquela noite, os clientes se acomodaram em mesas na calçada, em frente ao Anton’s, um café e adega em Greenwich Village.
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No Queens, dois restaurantes que funcionam de lados opostos da mesma rua, o Angel Indian e o Phayul Himalayan, colocaram mesas ao ar livre e esperavam ansiosamente pelos clientes.
Os restaurantes, um pilar da vida em Nova York, foram devastados pelo shutdown da pandemia, mas a permissão para oferecer refeições ao ar livre contribuiu para manter as empresas abertas e foi uma bênção para pessoas em busca de um pouco de normalidade. Quase dez mil restaurantes passaram a oferecer mesas em áreas externas desde julho, mesmo que o serviço ainda seja proibido em locais fechados.
Ainda assim, o setor está em crise.
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Embora as refeições a céu aberto sejam um sucesso entre os clientes, os donos de restaurante têm recebido muito menos clientes que o habitual. Muitos só estão abertos graças ao programa de proteção salarial dos EUA, que subsidia a folha de pagamento das empresas, e porque não pagam o valor cheio do aluguel há meses. Uma lei emergencial municipal protege donos de restaurantes da responsabilidade pelos contratos de locação comerciais.
“Este é um momento extremamente difícil para mim. Estou apenas sobrevivendo. As coisas não estão como antes”, comentou Amritpal Singh, dono do Angel Indian, no Queens, que gastou US$ 3 mil para reformar a área externa do restaurante.
Está em jogo a sobrevivência de um setor vital para Nova York que, antes da pandemia, empregava 300 mil pessoas, de imigrantes recentes a músicos, artistas, escritores e atores que ajudam a definir a cidade como um centro cultural.
Sem eles, a cidade de Nova York se torna um destino menos desejável e mais pessoas optam pela vida em outras cidades ou nos subúrbios.
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Cerca de 160 mil trabalhadores do setor de bares e restaurantes continuam sem trabalho na cidade, de acordo com dados de emprego divulgados em julho, e cerca de 1.300 restaurantes fecharam as portas permanentemente entre março e julho.
Durante a semana do dia 14 de agosto, os restaurantes de Nova York receberam cerca de 23 por cento do total de clientes registrados no mesmo período do ano passado, segundo os dados de reservas feitas pelo aplicativo Resy, usado por muitos restaurantes com mesas a céu aberto. Esse volume ainda é muito baixo, mas o total registrado na semana anterior foi de 18 por cento, enquanto, em meados de julho, foi de apenas 10 por cento.

O Bar Sardine, no West Village, costuma ter longas filas de espera para as seis mesas ao ar livre, mas é um dos restaurantes que anunciaram que fecharão permanentemente devido à pandemia.
Gabriel Stulman, que é dono de outros oito restaurantes em Manhattan, disse que o Bar Sardine tem faturado apenas 30 por cento do normal e que os donos do imóvel se negaram a negociar o valor do aluguel. Sem ajuda do governo, ele acredita que muitos restaurantes fecharão as portas nos próximos meses, caso o oferecimento de refeições em locais fechados continue proibido.
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“Não quero ser dramático, mas isso representa um apocalipse para o setor. Compreendo que não é seguro abrir, pois jogo em equipe. Mas é preciso fazer algo a respeito do meu aluguel e da minha folha de pagamento. Essas questões precisam de resposta”, afirmou Stulman.
Menos da metade dos 25 mil restaurantes e bares de Nova York estão participando do programa que permite oferecer refeições a céu aberto, de acordo com Andrew Rigie, diretor executivo da Aliança da Hospitalidade da Cidade de Nova York. O restante fechou as portas ou está se virando com serviços de delivery, catering para lojas ou trabalhos de caridade, como a preparação de refeições para pessoas carentes.
A aliança e alguns donos de restaurante têm pressionado o prefeito Bill de Blasio para definir uma data para a reabertura da área interna dos restaurantes, argumentando que a cidade tem superado as expectativas definidas pelo estado – com resultados positivos de exames girando em torno de um por cento há semanas. Eles destacam que outras áreas do estado de Nova York já permitiram o oferecimento limitado de refeições em áreas internas sem aumentar as taxas de infecção.
Mas o governador Andrew Cuomo e de Blasio ainda não estão cedendo. “Precisamos ver muito mais melhorias no combate a esse vírus”, disse de Blasio recentemente.
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Alguns restaurantes tentaram encontrar uma solução por conta própria: a vigilância sanitária suspendeu as licenças de dezenas de restaurantes e bares que permitiam o consumo ilegal de bebidas e alimentos em áreas internas.
Outros proprietários concordam que as refeições em locais fechados criam desafios em Nova York, onde muitos restaurantes funcionam em espaços apertados e pouco ventilados. Por isso, eles pedem mais ajuda do governo, como assistência no pagamento do aluguel.
“Refeições em locais fechados me dão medo. Se você olhar para outros países, verá que muitos casos vieram de bares e restaurantes, e acho que o risco não vale a pena”, comentou Annie Shi, uma das proprietárias do King, em Greenwich Village, que tem servido metade do número habitual de clientes usando cerca de 30 por cento da equipe.
Alguns restaurantes foram relativamente bem-sucedidos nessa reinvenção. O Olmsted, no Brooklyn, transformou o jardim e a calçada em um destino de verão com mais mesas externas que internas, e aproveitou para abrir uma mercearia.
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No entanto, outros restaurantes próximos a faixas de pedestres e pontos de ônibus descobriram que não tinham espaço para instalar muitas mesas ao ar livre ou, em alguns casos, não podiam colocar nenhuma mesa.

Além disso, o fim de outubro se aproxima, quando a temperatura da cidade cai e os programas de refeições a céu aberto e de proteção às folhas de pagamento devem ser interrompidos. Se ainda não for considerado seguro servir refeições em espaços fechados até lá, muitos donos de restaurante dizem não saber como vão aguentar.
“Neste momento, estamos segurando as pontas”, disse Ann Redding, que anunciou em agosto que ela e o marido não reabririam o popular Uncle Boons.
Por enquanto, o casal está concentrado em manter vivo seu restaurante mais novo, o Thai Diner, que tem uma fachada maior para mesas a céu aberto.
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“No Thai Diner, estamos conseguindo pagar as contas com as mesas externas. Mas ainda não sabemos o que acontecerá no futuro. Essa incerteza nos deixa exaustos, emocionalmente exaustos. E a única coisa que podemos fazer é seguir o fluxo”, comentou Redding.
A contribuição do programa de refeições a céu aberto foi tanto psicológica como financeira, permitindo que milhares de funcionários em licença remunerada ou que haviam sido despedidos retornassem ao trabalho, de acordo com os donos de restaurante.
A segurança continua a ser uma preocupação, em parte porque é raro ver clientes de máscara, ainda que as leis municipais e estaduais recomendem o uso sempre que a pessoa não estiver comendo ou bebendo.

No King, em Greenwich Village, os clientes fazem os pedidos por meio de códigos QR, os funcionários usam escudo facial e os clientes são orientados a colocar a máscara quando estão em contato com os funcionários.
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A grande maioria dos clientes respeita as regras, mas alguns reviram os olhos e resistem.
“Houve casos em que as pessoas colocaram a máscara para o garçom branco, mas não para o faxineiro latino. Existe essa expectativa de que o vírus desapareça no momento em que a pessoa se senta para comer”, comentou Shi.
Ainda assim, os restaurantes a céu aberto têm ajudado a cidade a voltar à vida. No bairro de Williamsburg, no Brooklyn, a Rua Berry às vezes se parece com uma terça-feira de carnaval. Todas as mesas do restaurante de comida italiana Lilia estão reservadas há semanas.
No Delhi Heights Restaurant and Bar, no Queens, o motorista de Uber Suhan Shrestha, de 25 anos, contou que gosta de se sentar do lado de fora e ouvir os sons da cidade novamente. Ele não hesitou quando teve a oportunidade de comer ao ar livre. “Algum dia, teremos de sair às ruas novamente”, disse.
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