O comentarista de segurança pública da Rede Globo, Rodrigo Pimentel, afirma que a origem dos ataques em SC é o sistema penitenciário. Para o ex-ofical do Bope que inspirou o personagem capitão Nascimento do filme Tropa de Elite, a solução passa pela reestruturação do sistema e questiona o governador se não é hora de mudança na área.
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Ele fala também da questão política, cita a influência do PMDB na Secretaria de Justiça e apela para decisões técnicas.
Diário Catarinense – Por onde começa a solução dos ataques que Santa Catarina está sofrendo?
Rodrigo Pimentel – As medidas reparadoras passam pela reestruturação do sistema penitenciário local. Pergunto: será que o governador está esperando uma terceira ação para pensar na substituição do diretor do sistema penitenciário (Leandro Lima)? Sei que o diretor responde a um grupo político que é o grupo da secretária de Justiça, que é o do PMDB. Eu não sou desinformado não. Sei que as considerações políticas as vezes pesam mais que as considerações técnicas. SC está ficando a mercê de terrorismo, ônibus queimados. Está demandando resposta enérgica da Polícia Militar, da Polícia Civil. Está gerando repercussão nacional e a origem é o sistema penitenciário e pela segunda vez.
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DC – A alegação é que trata-se de uma reação ao linha dura nas cadeias e combate ao crime.
Rodrigo Pimentel – Não são ações unicamente de endurecimento da conduta do agente penitenciário, de mais disciplina. São ações criminosas, inclusive. Eu sinceramente não vou falar que defendo a demissão (do diretor do Deap, Leandro Lima).
Diário Catarinense – A mudança de postura do governo mostraria à tropa que ela não está lutando sozinha.
Rodrigo Pimentel – Evidente. Bandido queima ônibus, ele está aterrorizando a cidade, eu tenho que mobilizar a polícia para reagir. Para os policias importa sinalizar à sociedade, aos agentes penitenciários e até aos presos que estou tomando providência para que melhore condições e os casos sejam apurados com rigor. Pude anunciar na imprensa que vai punir com mão pesada. Posso sinalizar de várias formas que estou com disposição de resolver o Deap.
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DC – De onde vem tanta certeza da origem do problema?
Rodrigo Pimentel – Ninguém nega em off ou em on que os acontecimentos são resultado do que acontece dentro dos presídios. Desde a morte da esposa do Carlos (ex-diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara). O negócio do bandido não é queimar ônibus, mas roubar e vender drogas. Se ele está mobilizando esforço dele, está colocando a vida em risco é porque alguma coisa está acontecendo. Qual a origem do problema. Vou atuar só na consequência ou na origem do problema. Com todos que falei, seja em on, seja em off, a origem é a administração penitenciária. São dois incidente iguais em 90 dias. O que estão esperando? O PMDB autorizar. É evidente que a culpa do que está acontecendo não é da Secretaria de Segurança Pública, da PM. Eles estão apagando incêndio que começou em outro lugar.
DC – A influência política prejudica?
Rodrigo Pimentel – Sei que o diretor reponde ao grupo político da secretária de Justiça (Ada de Luca), que é do PMDB. Sei que as considerações políticas às vezes pesam mais que as considerações técnicas. Mas Santa Catarina está ficando à mercê deste terrorismo.
DC – O senhor defende a saída do diretor?
Rodrigo Pimentel – Não conheço o Leandro Lima. Eu li o currículo na internet. Parece um cara muito conhecedor do sistema penitenciário, é professor, dá aula, tem livro publicado. Parece uma pessoa muito capacitada. No entanto, na gestão dele isto está acontecendo. Pode ser o momento de afastá-lo e buscar um colaborador que possa conduzir uma mudança no departamento.
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DC – E como o senhor avalia o trabalho da polícia?
Rodrigo Pimentel – Bom. Para cada dois ataques tem praticamente um preso (75 ataques e 30 detidos). E capturar alguém nestas circunstâncias é muito difícil.
DC – Como o Rio de Janeiro resolveu o problema dos ataques em 2011?
Rodrigo Pimentel – O que funcionou foi o Tribunal de Justiça e o governador anunciarem que todos os presos em ataques seriam transferidos para penitenciárias federais. E eles cumpriram.
DC – A transferência tem toda esta força?
Rodrigo Pimentel – É a pena dentro da pena
DC – Como está sendo a repercussão dos atentados no restante do Brasil?
Rodrigo Pimentel – Existe a preocupação de moradores do Rio, São Paulo e Minas que querem viajar para Santa Catarina no Carnaval. Falei com o secretário de Segurança por telefone para um comentário e fui informado que os ataques não são em áreas turísticas.
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Diário Catarinense – Como o senhor avalia a recusa à oferta da Força Nacional de Segurança?
Rodrigo Pimentel – Neste momento, qualquer reforço é muito bem-vindo.