Um comediante sem experiência política foi o mais votado na eleição presidencial da Guatemala e disputará o segundo turno com um candidato que ainda será definido, num pleito marcado pelo escândalo de corrupção que provocou a renúncia e detenção do presidente Otto Pérez.

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Jimmy Morales, um ator e comediante de 46 anos, tinha 25,8% dos votos após a apuração de 81,5% das urnas, segundo o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Guatemala.

O segundo lugar é disputado voto a voto entre o magnata e advogado Manuel Baldizón (45 anos), com 18,6% dos votos, e a ex-primeira-dama Sandra Torres (59), com 17,9%.

Centros de votação da Guatemala são fechados após eleições pacíficas

Julio Solórzano, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, disse em coletiva de imprensa que “até o momento ainda não há data definida” para anunciar ao vencedor da disputa, e que o resultado oficial pode levar até cinco dias para ser divulgado.

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Nenhum dos três ficou perto dos 50% dos votos, marca necessária para vencer no primeiro turno. Os dois candidatos mais votados disputarão o segundo turno em 25 de outubro.

Começam eleições na Guatemala após escândalo de corrupção

Para os analistas, a votação de Morales é uma resposta à necessidade de procurar alguém fora do sistema, em um momento de repúdio à corrupção da classe política tradicional.

– Jimmy (Morales) foi o único candidato que você pode chamar de externo ao sistema e que vendeu uma mensagem de “nem corrupto nem ladrão”, e as pessoas precisam disto – afirmou o analista político Sandino Asturias, do Centro de Estudos da Guatemala.

Morales corroborou a análise ao discursar depois do anúncio do resultado:

– Somos parte da população cansada, que não quer mais do mesmo.

Ao ser questionado sobre um adversário preferido no segundo turno, respondeu que não tem preferência, porque Torres e Baldizón são “mais do mesmo”.

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O futuro presidente, que deverá assumir em 14 de janeiro, terá a difícil tarefa de devolver a esperança à Guatemala, afetada pela pobreza em que vivem 54% de seus 15,8 milhões de habitantes e uma violência gerada pelo narcotráfico e por quadrilhas que contribuem com uma taxa de 39 homicídios por cada 100.000 habitantes.

Guatemala encerra campanha eleitoral com ex-presidente preso por corrupção

– Quem for eleito deve saber que será fiscalizado por toda a população guatemalteca e, claro, pelo Ministério Público, que investigará quem for preciso, não importa se é o presidente, o vice-presidente ou qualquer outra autoridade – disse a procuradora-geral Thelma Aldana.

Aldana fez parte da investigação que revelou um esquema de corrupção que provocou a renúncia de Pérez, que teve prisão decretada, e da vice-presidente Roxana Baldetti.

Mais de 7,5 milhões de guatemaltecos estavam registrados para votar e eleger o novo presidente, o vice, 338 prefeitos, 158 deputados e 20 deputados do Parlamento Centro-Americano.

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No povoado indígena San Juan Sacatepequez, no oeste da Guatemala, guatemaltecos de origem maia com trajes coloridos desafiaram o frio das montanhas para chegar ao centro de votação.

– Os casos de corrupção nos incentivam mais a buscar novos governantes para poder exigir mais – comentou o fabricante de móveis Carlos Cuyuch, enquanto aguardava para dar seu voto.

Candidatos tiveram pouco apoio

As eleições transcorreram tranquilamente em um ambiente de desencanto com a classe política do país, aprofundado pelo escândalo envolvendo uma rede que cobrava propina para sonegar impostos alfandegários revelada em abril pela Comissão da ONU contra a Impunidade (Cicig).

O ex-presidente Pérez e sua ex-vice-presidente Baldetti foram apontados como os líderes da rede de corrupção, obrigando-os a renunciar em meio a grandes protestos que exigiam sua saída.

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– O governo que surgir dessas eleições terá a menor legitimidade dos últimos 30 anos. A eleição não resolve a crise, irá agravá-la ainda mais – previu o ex-chanceler da Guatemala e analista político Edgar Gutiérrez.

Juiz pede prisão provisória de ex-presidente da Guatemala Otto Pérez

Um sinal do sentimento dos eleitores foi o momento em que o juiz Miguel Angel Gálvez, que anunciou a prisão provisória de Perez e Baldetti, foi aplaudido ao votar em uma escola da colônia Quinta Samayoa, no oeste da capital.

Até que o novo presidente assuma, o ex-magistrado Alejandro Maldonado, de 79 anos, exerce a presidência do país. Ele ocupa o cargo desde o dia seguinte à renúncia histórica de Pérez, na última quarta-feira.

– O povo deve castigar com o voto os candidatos que enganam – disse Maldonado depois de votar na capital.

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* AFP