O primeiro comboio de combatentes rebeldes deixou Ghuta Oriental nesta quinta-feira (22), pela primeira vez desde o lançamento da ofensiva do regime sírio, determinado a recuperar este reduto insurgente nas proximidades de Damasco.

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“Partiram os primeiros ônibus transportando os combatentes de Harasta rumo a Idlib”, região no noroeste do país que segue sob controle insurgente, anunciou a televisão estatal síria.

Cerca de 1.500 pessoas, incluindo 400 combatentes, viajavam em 26 ônibus, segundo uma fonte militar no terreno.

O governo sírio e seu aliado russo concluíram um acordo com o grupo rebelde islamita Ahrar al-Sham para evacuar Harasta, o menor e menos povoado dos três bolsões rebeldes que ainda resistem em Ghuta Oriental.

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Outro grupo rebelde, o Faylaq al Rahman, que controla a zona sul de Ghuta Oriental, anunciou nesta quinta-feira um cessar-fogo a partir da meia-noite para permitir negociações com a Rússia, aliada do regime sírio.

Em Harasta, as operações de evacuação começaram no final da manhã, com várias horas de atraso, e podem durar vários dias, segundo o porta-voz do Ahrar al-Sham, Munzer Fares.

No total, cerca de 1.600 combatentes e 6.000 membros de suas famílias devem deixar Harasta, de acordo com a agência oficial de notícias síria Sana.

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Mas os ataques aéreos do regime e fogo de artilharia continuavam nesta quinta em outras localidades, enquanto os rebeldes dispararam com morteiros e foguetes contra Damasco, matando quatro pessoas na capital.

Ao menos 39 civis morreram nos ataques aéreos contra Ghuta, sendo 25 na cidade de Zamalka, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Desde o início da ofensiva, em 18 de fevereiro, mais de 1.500 civis morreram, segundo o OSDH.

Em mais de um mês de bombardeios aéreos e combates terrestres, o regime do presidente Bashar Al-Assad recuperou mais de 80% do território deste enclave rebelde.

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“Harasta foi completamente destruída, a situação dos habitantes é dramática”, declarou à AFP o chefe do conselho rebelde local, Hossam al-Beirut.

“Esta semana, metade das famílias não tinha nada para comer. As doenças estão causando estragos nos porões”, onde as pessoas vivem escondidas para escapar dos bombardeios do regime, lamentou.

– Milhares de deslocados –

A evolução em Ghuta lembra o que aconteceu em outras fortalezas rebeldes recuperadas nos últimos anos pelo governo, inclusive na cidade de Aleppo (norte) no final de 2016.

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Ao final de intensos bombardeios e de cercos asfixiantes, os insurgentes dessas localidades e os civis que os apoiavam foram colocados em ônibus, na direção de Idleb. A Anistia Internacional denunciou o deslocamento forçado de populações.

Multiplicando as vitórias contra os rebeldes, mas também contra os extremistas, Assad, apoiado por seus aliados Rússia e Irã, já reconquistou mais da metade da Síria.

Em Idlib, os ataques aéreos, provavelmente russos, mataram 22 civis, segundo o OSDH.

Em Ghuta, a ofensiva do regime fez mais de 80.000 deslocados no total.

Somente nesta quinta-feira, mais de 4.000 civis deixaram a grande cidade rebelde de Duma, segundo o OSDH.

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Esses civis não tiveram outra escolha a não ser ir para os locais controlados pelo governo, apesar do medo de retaliação.

Deflagrada em 2011 pela repressão sangrenta de manifestações pró-democracia, a guerra na Síria deixou mais de 350.000 mortos e forçou milhões de sírios ao exílio.

Ao longo dos anos, o conflito evoluiu para uma guerra complexa, envolvendo múltiplos personagens que lutam em várias frentes, às vezes com a intervenção direta de potências estrangeiras.

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No noroeste, o Exército turco lançou em 20 de janeiro uma ofensiva para expulsar a milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG) de suas fronteiras, assumindo o controle total do enclave de Afrin. Mais de 250.000 civis fugiram do avanço das forças turcas, de acordo com o OSDH.

* AFP