Uma entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira marcou o início da coleta de assinaturas para a realização da CPI mista de Cachoeira. O líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), e o líder do PSDB na Casa, deputado Bruno Araújo (PE) assinaram o requerimento no Salão Verde do Câmara.
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Os dois líderes calculam que até a próxima terça-feira terá sido concluída a coleta. São necessária 171 adesões na Câmara e 27 no Senado.
Se esse cronograma for cumprido, será possível protocolar o pedido de abertura da CPI na quarta-feira. A comissão será instalada quando o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ler o requerimento em sessão do Congresso, o que deve ocorrer ainda na semana que vem.
A CPI do Cachoeira vai apurar tudo que foi investigado nas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. A gravações da operação Monte Carlo, recentemente divulgadas, revelaram a ligação de Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). A operação Vegas, por sua vez, apurou que Cachoeira pretendia operar no Brasil cassinos montados em barcos e, para isso, agia para que o Congresso promovesse a legalização de jogos de azar no país.
Nesta tarde, o presidente do PT, Rui Falcão negou que o partido deseje usar a CPI para criar um clima contra o julgamento do mensalão. No entanto, reconheceu que uma das principais tarefas do partido este ano é “desbaratar a farsa do mensalão”.
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Na quarta-feira, o PT publicou em seu site um vídeo onde Falcão conclama centrais sindicais e partidos políticos que combatem a corrupção a fazerem uma mobilização contra o que chamou de “operação abafa” para impedir a realização da CPI, que já envolve parlamentares de seis partidos, inclusive do PT. No vídeo, pela primeira vez, o presidente do PT citou a intenção de desmascarar o que, segundo ele, seria a “farsa do mensalão”.
Confira quem ganha e quem perde com a CPI do Cachoeira:
GOVERNO
Ganhos
– tirar o foco do julgamento do mensalão no STF, que deve ocorrer no segundo semestre
– atingir líderes da oposição que sustentaram a denúncia do mensalão. Entre eles, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que teria alertado Lula sobre o esquema, e o senador Demóstenes Torres
– o ex-presidente Lula disse a aliados que a CPI pode esclarecer como surgiram não apenas o mensalão, mas vários outros escândalos de seu governo que teriam como origem arapongagens do grupo do contraventor.
Perdas
– pode atingir petistas, como o governador do DF, Agnelo Queiroz
– pode expor os negócios da principal tocadora de obras do PAC, a Delta Construções. A empresa, com sede no Rio, obteve cerca de R$ 4 bilhões em repasses diretos desde o governo Lula. Em 2010, a Delta desembolsou R$ 2,3 milhões nas eleições, em iguais fatias para o PT e o PMDB nacionais
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– partidos aliados também podem ser expostos, levando a um racha na base
Quem pode ser atingido:
Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal (PT)
Grampos indicam que grupo comandado por Carlinhos Cachoeira teria operado para dirigir licitação milionária com a participação de um integrante do governo
Rubens Otoni, deputado federal (PT-GO)
Teria recebido doação não declarada de R$ 100 mil de Cachoeira na campanha para a prefeitura de Anápolis. O empresário queria ajuda para desenrolar papelada de um laboratório na cidade
Jovair Arantes, deputado federal (PTB-GO)
Admitiu ser amigo de Cachoeira, e pediu apoio dele à pré-candidatura a prefeitura de Goiânia
Sandes Júnior, deputado federal (GO)
Em grampos, o deputado fala no edital de uma concorrência pública e dá satisfações sobre recebimento de cheques, cujos valores seriam divididos com Cachoeira
OPOSIÇÃO
Ganhos
– O PSDB aposta que a investigação possa atingir o governador do DF, Agnelo Queiroz, e até integrantes do Planalto
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– Preserva o discurso de combate à corrupção, afastando integrantes sob suspeita com mais agilidade que o governo
Perdas
– Em ano eleitoral, verá alguns integrantes expostos o que deverá ser explorado durante a campanha
– Dificultará o propósito de explorar o julgamento do mensalão, previsto para a antes da eleição
Quem pode ser atingido:
Marconi Perillo, governador de Goiás (PSDB)
Admitiu ter estado com Carlinhos Cachoeira em reuniões festivas. Sua chefe de gabinete foi flagrada passando informações sigilosas sobre operações policiais contra o empresário.
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Demóstenes Torres, senador goiano (ex-DEM)
Atuava no Senado em favor de Carlinhos Cachoeira, de quem ganhou de presente um fogão e uma geladeira. Receberia 30% do faturamento do empresário para alimentar Caixa 2.
Stepan Nercessian, deputado federal (PPS-RJ)
Teria recebido R$ 175 mil de Cachoeira em um suposto empréstimo. Confirmou ser amigo do empresário.
Carlos Alberto Leréia, deputado federal (PSDB-GO)
Teria recebido um valor de Cachoeira no valor de R$ 100 mil. Usava um telefone cedido pelo empresário e habilitado nos Estados Unidos para dificultar os grampos