Pouco mais de 20 dias após ter sido demitido da Globo por um vídeo no qual fez uma piada racista, o ex-apresentador do Jornal da Globo William Waack publicou um artigo na edição deste domingo (14) do jornal Folha de S.Paulo no qual defende que sempre combateu a intolerância e a discriminação ao longo de sua carreira e que a piada foi feita em tom de brincadeira. O jornalista ainda critica a Rede Globo, sem citá-la, por ceder à “gritaria de grupos organizados”.
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Waack ressalta que existe racismo no Brasil, mas diz que, durante toda a sua vida, combateu a intolerância de qualquer tipo, incluindo a racial. “Tenho como prova a minha obra, os meus frutos. Eles são a minha verdade e a verdade do que produzi até aqui”.
Ele menciona a ex-colega, Glória Maria, segundo a qual Waack não foi racista e que a piada “foi de português”. E afirma que tem amigos negros, mas que não os cita por não separá-los “segundo a cor da pele”.
Sem citar a Globo, o jornalista critica o canal televisivo por ceder à “gritaria de grupos organizados” em um contexto no qual a mídia tradicional precisa se adaptar à popularização das redes sociais.
“Em todo o mundo, na era da revolução digital, as empresas da chamada ‘mídia tradicional’ são permanentemente desafiadas por grupos organizados no interior das redes sociais. (…) Julgam que ceder à gritaria dos grupos organizados ajuda a proteger a própria imagem institucional, ignorando que obtêm o resultado inverso (o interesse comercial inerente a essa preocupação me parece legítimo).
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Por falta de visão estratégica ou covardia, ou ambas, tornam-se reféns das redes mobilizadas, parte delas alinhada com o que ‘donos’ de outras agendas políticas definem como ‘correto’. Perversamente, acabam contribuindo para a consolidação da percepção de que atores importantes da ‘mídia tradicional’ se tornaram perpetuadores da miséria e da ignorância no país, pois, assim, obteriam vantagens empresariais”.
Waack diz que “prostrar-se” diante desses grupos significa “não só desperdiçar uma oportunidade de elevar o nível de educação política e do debate, mas, pior ainda, contribui para exacerbar o clima de intolerância e cerceamento às liberdades”, citando a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia.
O jornalista termina o texto admitindo que piadas podem manifestar discriminação e exclusão, mas que “constitui um erro grave tomar um gracejo circunstanciado, ainda que infeliz, como expressão de um pensamento” e que “não se poderia tomar um pensamento verdadeiramente racista como uma piada”.