Rotatividade das cargas, manuseios, possibilidade de combustibilidade e a localização desses depósitos perto de áreas residenciais. Todos esses são pontos que de alguma forma tornam vulneráveis os riscos de incêndio e explosões em estocamentos de grande quantidade.
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É preciso ainda levar em conta a existência de planos de prevenção contra incêndios, equipes de brigadas e de treinamento. Essa fiscalização cabe aos Corpo de Bombeiros. O comandante-geral da corporação militar em Santa Catarina, coronel Marcos de Oliveira, admite que não consegue fiscalizar 100% dos estabelecimentos.
No caso do depósito de São Francisco do Sul, a informação que Oliveira repassou na noite desta quarta-feira é de que o lugar não passou por vistoria do escritório local dos militares. Os bombeiros voluntários da cidade, por sua vez, disseram ao DC que há alguns meses não fazem mais vistorias, tarefa que seria dos militares.
A realidade de depósitos, armazéns e lugares do tipo em Santa Catarina não consegue ser dimensionada pelos bombeiros. Agora, após o incêndio de São Francisco de Sul, se estima que ocorrerá a apuração da situação local e dos demais estabelecimentos do gênero pelo Estado. É o chamado efeito pós ocorrido, como ocorreu depois da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria (RS), que gerou fiscalizações em locais do mesmo tipo em todo o país.
– Vamos fazer um levantamento estadual e tornar público. Em 1987 o bombeiro apagava fogo. Hoje o bombeiro faz trabalho preventivo. O que não se pode é alarmar – afirmou o coronel Oliveira.
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ENTREVISTA: Álvaro Maus, ex-comandante geral dos Bombeiros
Ex-comandante geral dos bombeiros militares no Estado, o coronel Álvaro Maus, 54 anos, é perito de incêndio. Com 35 anos de experiência, revela a preocupação com situações como a que gerou o caso de São Francisco do Sul.
Diário Catarinense – A quem cabe fiscalizar esses depósitos?
Álvaro Maus – Uma série de órgãos. Tem também a responsabilidade dessas empresas com o Ministério do Trabalho, todo um ordenamento jurídico, a preocupação com seguro. Tudo isso faz com que a preocupação que o bombeiro possa ter, no sentido de fiscalizar com mais assiduidade, eu diria que nem é procedente. Porque elas (empresas) têm controle próprio.
DC – Por que acontecem então esses incêndios?
Maus – Acidentes acontecem se formos analisar na história. A quantidade de grandes incêndios e frequência que têm acontecido é estatisticamente pequena. Não há indicativo de que precisamos olhar com mais intensidade. A perícia é quem deve detectar o que houve.
DC – A fiscalização desses lugares compete ou não aos bombeiros?
Maus – Sim. Não diria que pudesse se creditar o ocorrido à falta de fiscalização. O Exército não fiscaliza a não ser que houvesse produto controlado, o que não me parece que é o caso. Fertilizantes não são de controle do Exército.
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DC – Como o senhor vê a vulnerabilidade desses depósitos e armazéns que temos pelos portos e estradas? São sujeitos a incêndios?
Maus – Todos são. Todo produto de alta rotatividade, combustibilidade, é perigoso.
DC – Há muitos?
Maus – Desconheço. Seria até um alerta para despertar os outros. Se isso aconteceu com o que não é perigoso, imagina os outros.
DC – Que tipo de alerta?
Maus – No sentido de que se tenha a devida cautela. O problema maior que vejo é o fato de esses estabelecimentos comerciais se instalarem em zonas não residenciais, mas com o crescimento das cidades elas acabam envolvendo eles.
DC – Incêndio em contêineres é perigoso?
Maus – Perigoso, perigoso não é. É difícil de combater porque é confinado, ele não se expande, a não ser para outro contêiner. Em termos de propagação acho que não é preocupação. É difícil de ocorrer.
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DC – O que deve ser feito para se evitar? Qual a principal recomendação de segurança?
Maus – Sem saber a causa a gente não consegue estabelecer recomendação, se foi manuseio ou armazenamento indevido. É importante que as empresas tenham responsabilidade, projeto preventivo contra incêndio aprovado nos bombeiros, a manutenção dele em dia, solicitar vistoria dos bombeiros, investir em pessoal e treinamento.
DC – Nesses 35 anos de bombeiro como o senhor avalia a realidade desses estabelecimentos em Santa Catarina?
Maus – Atuei mais de 15 anos na área de vistoria e projetos. As estatísticas depõem a favor da população catarinense. Os índices são baixos. Se tivéssemos que apontar local de preocupação é o de reunião de público, estádios, shows. E não é o fogo, é a concentração e o pânico.. Os industriais são bem fiscalizados, periciados.