A chegada do verão tende a levar pessoas a procurarem alternativas para tentar “driblar” o calor dos dias quentes em Santa Catarina. Uma das opções — especialmente para quem mora longe das praias do Litoral — são os rios, que até podem parecer ideais para se refrescar nas altas temperaturas, mas também causam tragédias que nem mesmo os socorristas conseguem evitar. É o que relata o comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários de Indaial, Evandro Vinotti, que diante do aumento de ocorrências de afogamentos na cidade, teve de subir o tom ao pedir que a população não frequente esses locais durante essa época do ano.

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Em um áudio compartilhado pelo profissional no último domingo (3), Vinotti comenta que, naquele dia, a equipe havia sido acionada para socorrer uma vítima que teria sido levada pela água em um ribeirão no bairro Carijós. O jovem, por sorte, conseguiu se salvar e foi encontrado com vida pelos bombeiros pouco depois de ter se afastado dos amigos.

Não é sempre, porém, que o desfecho deste tipo de ocorrência termina bem. Em 26 de novembro, pai e filho desapareceram no Rio Itajaí-Açu após a canoa em que estavam virar. A dupla voltava de uma ilha quando o acidente ocorreu. O corpo de Vilso Giacomozzi, 60, foi encontrado pelos bombeiros no dia 30.

Já o jovem Rodrigo Teixeira Giacomozzi, 27, ainda não foi localizado. As buscas continuam.

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— Mesmo sabendo nadar muito bem, você pode cair em uma armadilha dessas e acabar morrendo afogado agora, nas vésperas de festas, causando não só uma tragédia pessoal, mas para a família e todos os entes queridos que ficam aqui. Então, por favor, coloquem a mão na consciência e não entrem nos rios da região — suplica.

Buscas por filho que desapareceu no rio, em Indaial, continuam ocorrendo (Foto: CBVI, Divulgação)

Vinotti destaca que, além de serem sujos e potencialmente contaminados (principalmente após fortes chuvas), os rios da região também são perigosos por causarem redemoinhos, por exemplo. Segundo um levantamento feito pelo Corpo de Bombeiros Voluntários de Indaial, há, em média, um afogamento fatal por ano na cidade. O número, no entanto, poderia ser reduzido a zero se as pessoas procurassem apenas locais próprios, com guarda-vidas, para se refrescar durante o calor, conforme sugere.

Ao fim do comunicado, o comandante ainda menciona que, na cidade, não há estrutura suficiente para que os socorristas consigam atender a demanda crescente do número de acidentes, situações clínicas, apoio ao Samu e, ao mesmo tempo, permanecer nos rios para fazer buscas em casos de afogamentos.

— O Corpo de Bombeiros faz o que pode, mas também não vai colocar mergulhadores e equipes de resgate em risco por conta de uma situação que, infelizmente, não tem mais retorno — finaliza.

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Maioria dos afogamentos com morte no Brasil ocorre em água doce

Conforme dados da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) divulgados no ano passado, 90% dos afogamentos com morte no país ocorrem em águas naturais, sendo que a maioria (75%) são registrados em água doce, como rios com correnteza, represas e lagoas.

Em 2020, os estados do Amapá, Roraima, Amazonas e Mato Grosso foram os que tiveram as maiores taxas de mortes por esse tipo de causa a cada 100 mil habitantes. O levantamento apresenta dados a partir de 1979, que são atualizados a cada 11 anos.

Em Santa Catarina, há mais de 40 anos, eram registrados mais de sete afogamentos fatais a cada 100 mil habitantes (7,17), um número que chegou a aumentar na década de 1990 (7,48). Desde então, porém, a estatística vem diminuindo e, em 2020, o Estado chegou a ficar entre os oito do país com a média de 2 a 3 óbitos por 100 mil habitantes — um avanço em comparação ao dado de 2001 (4,66).

A neurocirurgiã do Hospital Santa Isabel, em Blumenau, Dra. Danielle de Lara, reforça que os afogamentos, quando não levam à morte, podem fazer com que a pessoa perca até mesmo os movimentos dos braços e das pernas durante banhos e mergulhos.

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— Ao mergulhar em rios e cachoeiras não é possível ter a noção da profundidade, com isso, em caso de locais rasos as pessoas acabam muitas vezes, batendo a cabeça em pedras ou até mesmo no fundo, agravando o quadro de saúde e podendo causar traumatismo craniano ou até mesmo uma fratura de coluna. Por isso a prevenção é o melhor caminho para evitar esse tipo de acidente — ressalta.

Veja dicas da especialista para evitar acidentes aquáticos.

  • Conhecer a profundidade do local, principalmente em lugares que possuem pedras, como rios, cachoeiras e costão do mar;
  • Observar se há salva-vidas por perto. Caso não tenha, pedir para familiares ficarem atentos e /ou evitar ir longe ou fundo;
  • Para as piscinas, observar que o motor está desligado, assim evitará problemas de sucção;
  • Evitar ingerir bebidas alcoólicas e alimentos pesados antes de entrar na água;
  • Evitar saltar de cabeça e ficar atento com saltos em beiradas de piscinas, trampolins e afins;
  • Crianças sempre devem estar supervisionadas por um adulto;
  • Não superestime sua capacidade de nadar, caso não saiba nadar, não vá para o fundo.

*Sob supervisão de Augusto Ittner

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