O comandante do iate de luxo que afundou na semana passada ao Sul de Florianópolis suspeita que a embarcação foi sabotada. Ele citou uma vigia, nome náutico para janela, ter se desprendido. José Augusto da Costa Lopes também declarou que o homem responsável pela guarda do iate sabia das saídas.

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Confira o vídeo:

Diário Catarinense – Como foi a organização da excursão? O sr. vendeu pacotes?

José Augusto da Costa Lopes – Não, é um grupo de amigos e cada um pagou R$ 800 para comprar comida, diesel, despesas, etc e sobraria dinheiro, uns R$ 2 ou R$ 3 mil que eu faria o conserto de uma ponte móvel do barco, que não tem nada a ver com a navegação.

DC – Quantas pessoas deram os R$ 800 reais?

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Lopes – 11 pessoas.

DC – Dentro do barco estavam quantas pessoas no dia do acidente?

Lopes – 13 pessoas. Nem todos pagaram. O dinheiro arrecadado não era de aluguel. Era pra pagar os custos. É uma embarcação que consome muito diesel.

DC – Que horas vocês saíram? No trajeto viram algo estranho no barco?

Lopes – Saímos por volta das 14h30. Não vimos absolutamente nada. O barco estava perfeito em todos os aspectos, mecânico, hidráulica.

DC – Chegaram que horas? Foi nessa hora que perceberam o problema?

Lopes – Chegamos perto das 17h. Foi nessa hora que um dos tripulantes veio falar comigo e disse que tinha água na proa. Na mesma hora corri e quando cheguei, até a parte que desce as escadas, onde tem três camarotes, o camarote da direita de trás, já entrei com a água pelo joelho. Vi que a janela, que a gente chama vigia, não estava aberta, saiu por inteiro. Uma janela dessas sair, que é aparafusada, é muito estranho. Um barco com seis anos de navegação, motores com 1000 horas, sair uma janela dessas é praticamente impossível. O que nos leva a crer que houve uma sabotagem na embarcação. A janela ficava a apenas 20 centímetros da linha da água, então qualquer onda, qualquer coisa, por menor que fosse entraria água. Como vi que já tinha entrado muita água, o primeiro passo que eu tomei foi subir e tocar o barco à frente fazendo curva apertada à bombordo, para que o barco inclinasse e parasse de entrar água ali. Infelizmente, a quantidade de água era muito grande e o barco não obedeceu mais. Na hora que fomos colocar travesseiros, para tentar estancar a água, começou a dar choque, porque o gerador estava funcionando. Corri para a sala de máquinas e desliguei o gerador. Pedi para todos os tripulantes colocar o colete salva vidas e amarrar as defensas, que são tipo de umas boias, e que ficassem todos juntos. Pedi ajuda de dois que ajudassem a estancar a água. Tentaram por uns 10 minutos e tentei colocar bombas para ajudar a puxar a água para ajudar as que estavam já funcionando e não estavam dando conta de dar vazão à água. Infelizmente, foi em vão. A água começou a entrar com mais força e os dois desistiram. Não quis perder a embarcação e continuei, mas antes fui ver se estavam todos bem. Eles já tinham chamado um barco de pesca e eu voltei de novo para estancar a água. A água que eu vi que não conseguiria sair, eu desisti e vi que tinha perdido o barco e ele ia afundar. Vi que as pessoas já estavam no barco de pesca. Desci pra cabine de popa para pegar os meus documentos e ao subir para o salão a água me pegou e me arrastou para a proa, dentro do barco e estava 80% afundado. A água me empurrou, o barco embicou e não consegui mais subir. Tentei, tentei, tentei. Em poucos segundo o barco afundou e eu fui junto. Não sei como eu fui cuspido fora. Eu disse adeus à minha filha e pensei que ia morrer ali, mas estava feliz que todo mundo estava salvo.Eu considero uma fatalidade um barco daquele tamanho ter afundado e acho muito estranho uma janela daquela ter saído por inteiro. Depois de feito um laudo pela capitania dos portos, que vai constatar se houve ou não sabotagem.

DC – Há quanto tempo o senhor cuidava desse barco?

Lopes – Esse barco estava em uma briga judicial entre o seu Ronald e seu Luis Fernando. O Luis Fernando comprou essa embarcação há 3 anos. Foram feitas melhorias e após o trabalho o engenheiro fez nova vistoria e viu que todos os itens foram realizados e apresentou à Marinha o laudo. Através do advogado, entramos com uma petição e o comandante Melo deferiu a navegabilidade em toda a costa brasileira. Não diz nesse documento o número de pessoas a bordo. Após isso, o barco saiu várias vezes.

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DC – Esse documento emitido pela Capitania foi emitido quando?

Lopes – Agosto ou setembro.

DC – Desde então, utilizam o barco normalmente?

Lopes – Sim. Todo barco tem que andar, senão estraga. Eu usava o mínimo possível, porque o custo era grande, mas fui na Beira-mar, Jurerê, ou seja, o barco andou, mas liberado para andar. É mentira que o barco não tinha liberação para navegar.

DC – Nós recebemos um laudo do dono do iate, do dia 24 de outubro, que diz que o barco não tinha condições de navegar. O que o sr. tem a dizer sobre esse documento?

Lopes – Ele não tinha autorização para entrar no barco. Entrou, tirou fotos do barco e permaneceu dentro da embarcação. Uma semana depois aconteceu um acidente onde uma janela foi desparafusada. É muito estranho.

DC – Em entrevista com sr. Ronald, ele diz que você não tinha autorização para sair com o barco, principalmente com passageiros.

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Lopes – Eu ainda não falei com seu Ronald, mas todas as vezes que o barco saiu ele sabia. Ele estava aqui na semana passada e eu avisei da pescaria. Ele sabia que ia sair. E tinha o GPS e ele sempre sabia onde o barco estava. O sr. Ronald sempre me deu liberdade para tudo, contratou os serviços todos, todas as notas fiscais foram remetidas, os pagamentos dos profissionais e empresas, pagamento dessas empresas.

DC – Antes dessa pescaria, você tinha saído para longe com o barco?

Lopes – Não.

O que dizem

Ronald Miro Barton, fiel depositário responsável pela guarda do barco

Ele saiu sem autorização, sem meu conhecimento e desobedecendo instruções. Nunca dei liberdade para ele e nenhum marinheiro tem esta liberdade.

Fernando Cruz, comprador do barco

O único bem que assegurava o caso era o barco. Se eu fosse sabotar que garantia teria sabendo que não tem seguro e colocando mais de R$ 2 milhões no fundo do mar. Por que eu afundaria um bem que já havia investido um monte de dinheiro? Não tem lógica! E o barco teve colisão no píer dias antes. Acontece algo desses e dizem que estou sabotando minha propriedade? Nem louco joga R$ 2 milhões no fundo do mar. Estão tentando tirar a culpa das costas.