Chega aos cinemas do Brasil nesta sexta-feira, a ficção científica Elysium, filme que marca a estreia de Wagner Moura em Hollywood.

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E o ator brasileiro satisfaz plenamente a expectativa em quesitos que costumam ganhar importância neste tipo de investida: relevância do personagem, fluência dramatúrgica no inglês e, como já era esperado, a qualidade da performance.

>> Leia entrevista com Wagner Moura sobre o filme

Neste que é seu segundo longa, o diretor e roteirista sul-africano Neill Blomkamp volta a colocar na trama futurista elementos que retratam relações políticas e sociais do mundo contemporâneo. Se no ótimo Distrito 9 (2009) _ que surpreendeu com quatro indicações ao Oscar, inclusive a melhor filme _ a distopia tinha como referência o apartheid na África do Sul, com alienígenas no lugar dos negros como raça subjugada, em Elysium esse espelhamento é mais facilmente identificado.

Com orçamento mais generoso _ US$ 115 milhões contra os US$ 30 milhões de Distrito 9 _, Blomkamp tenta ser original num enredo que tem sido recorrente no gênero: o do herói que se insurge de forma quixotesca contra um “sistema” poderoso, injusto e opressor que separa os seres humanos entre ricos privilegiados e pobres condenados à existência indigna. E por mirar numa plateia mais ampla e ter o suporte de um grande estúdio (Sony) nada disposto a correr riscos na bilheteria, Elysium se distancia da proposta mais autoral e inventiva de Distrito 9. A mensagem, aqui, é mais didática, a trama traz a ação e as explosões esperadas numa superprodução de Hollywood, e o elenco conta com um astro do primeiro time, Matt Damon.

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Elysium se passa em 2154. A Terra virou um lugar miserável, em ruínas e assolado por doenças. Quem tem dinheiro vive agora em Elysium, gigantesca base espacial onde a vida literalmente renasce, uma vez que ali todos os males se curam e os mais graves ferimentos podem ser reparados em instantes.

Em Los Angeles, transformada num imenso favelão com predominância de latino-americanos, vivem três personagens centrais da história: Max da Costa (Matt Damon), operário da fábrica dos equipamentos robóticos bélicos que zelam pela vigilância e repressão do lugar, Spider (Wagner Moura), uma combinação de hacker e coiote que age no submundo transportando imigrantes ilegais a Elysium, e Frey (vivida pela brasileira Alice Braga), enfermeira que sonha com a improvável viagem à estação paradisíaca para salvar a filhinha condenada por um câncer.

Eles serão protagonistas de uma insurgência que, ao fim, tem a nobre intenção de tornar o sistema, na Terra e no espaço, mais justo e solidário. O palco da grande batalha é Elysium, no momento em que o base se encontra sob a ameaça de um golpe de estado orquestrados por aqueles que defendem um tratamento ainda mais duro contra os excluídos pelo sistema _ representados por Delacourt (Jodie Foster, um tanto caricata como vilã), responsável pela defesa do local, e Kruger (Sharlto Copley, o protagonista de Distrito 9), seu fiel, lunático e nada confiável capanga que atua como agente de infiltrado na Terra.

Movido inicialmente por uma razão pessoal, Max acaba se tornando líder do movimento revolucionário. Mas se o operário encarna aquele que busca a mudança pela ação física, é Spider quem se mostra o agente capaz detonar a transformação por meio da inteligência visionária. Damon, ator que versátil que sempre parece confortável em filmes de ação, encontra na atuação vigorosa de Wagner uma ótima parceria. O ator brasileiro não parece nem um pouco intimidado com o tamanho e a importância de seu Spider. Pelo contrário, incorpora o espírito inflamado do personagem com um desempenho caloroso que justifica os elogios que recebeu da imprensa americana.

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Mesmo com um enredo previsível levado no piloto automático, as causas e as consequências da revolta vislumbradas em Elysium são merecedoras de atenção. O fato de estas questões estarem presentes em um blockbuster de Hollywood que será visto mundo afora talvez estimule mais espectadores a enxergarem no filme algo para refletir além da diversão. Já é muito mais que o gênero costuma oferecer.

ELYSIUM

De Neill Blomkamp.

Com Matt Damon, Wagner Moura, Jodie Foster e Alice Braga.

Ficção científica, EUA, 2013.

Duração: 109 minutos. Classificação: 16 anos.

Cotação: 3 estrelas (de 5)