A superlotação de hospitais públicos em Santa Catarina fez o governo mudar a previsão e, agora, buscar chegar a 92 novos leitos infantis. A previsão até então era de mais 82 vagas para crianças e bebês. No entanto, mesmo com 60 delas já abertas, a crise se mantém, ainda com fila de espera por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
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Na manhã desta terça-feira (12), eram três crianças na fila e um bebê em processo de transferência para um hospital no Sul do Estado. Ao menos dois deles tinham problemas respiratórios. Entre os adultos, eram sete pacientes sem previsão de vaga e um outro que já havia recebido liberação, mas que aguardava para ser transferido.
Há exato um mês, Santa Catarina teve a morte de uma bebê que, segundo a mãe, Samara Ester dos Santos, esperou por uma vaga de UTI no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, por dois dias antes de vir a óbito.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES), que afirmou à época que investigaria o caso, diz que menina chegou ao local em estado demasiadamente grave e que recebeu todo o atendimento possível. Disse ainda se solidarizar com a família da criança.
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Ainda hoje, devido à lotação, pacientes não urgentes chegam a esperar até 10 horas apenas por um atendimento na emergência na unidade, inapropriada para internações, mas onde pacientes com quadros graves são alocados agora para aguardar por uma vaga.
O cenário foi relatado por representantes do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC) ao Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) na última sexta (8).
O Diário Catarinense procurou a direção do hospital, mas não obteve retorno. A crise não se resume, no entanto, ao Joana de Gusmão. Entre as sete regiões de saúde do Estado, cinco têm 100% de lotação de leitos de UTI neonatais e pediátricos. São 119 ativos em Santa Catarina, com só cinco deles disponíveis até esta segunda (11).
O MP-SC, que chegou a judicializar a questão em algumas regiões do Estado, exigindo a abertura de novos leitos, diz que as medidas adotadas desde que gestão Carlos Moisés (Republicanos) decretou emergência em saúde, em 3 de junho, não são o bastante.
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— Um primeiro planejamento já foi apresentado ao Ministério Público, com a implementação de alguns leitos, de estratégias de vacinação e de reforço na atenção primária, para evitar que os pacientes agravassem. Mas essas medidas têm se mostrado insuficientes. A realidade tem mostrado que elas não conseguiram alcançar os resultados esperados — disse o promotor de Justiça Douglas Martins à NSC TV.
— O Estado precisa, junto com os municípios, colocar em prática alguns planejamentos que já foram apresentados e pensar em outras ações que possam reduzir essa pressão sobre o sistema de saúde, para dar o atendimento adequado para as crianças — afirmou.
A gestão Moisés diz que já tem mobilizado um plano emergencial em complemento ao que vinha adotando e que estuda novas medidas para tentar conter a crise.
“De imediato, foram autorizadas transferências de equipes, empréstimos de equipamentos, insumos e medicamentos, além de outras ações com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento dos pacientes, como a contratação de mais profissionais em caráter de urgência”, escreveu, à reportagem.
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“[Entre o que foi discutido] Está a ampliação de mais leitos, de equipes, de rede de apoio, de aporte financeiro às unidades, além da estratégia de transferência inter hospitalar de pacientes menos graves para desafogar as unidades e envio de equipamentos, medicamentos e insumos hospitalares”, completou.
Quanto aos novos leitos já previstos, mas que ainda não foram abertos, o governo estadual afirma que o processo é limitado pela dificuldade em contratar novos profissionais de saúde, o que já havia afirmado em ocasiões anteriores, e pela necessidade até de construir novos espaços em alguns hospitais.
A gestão Moisés tem reforçado que a superlotação dos hospitais é motivada por um surto de doenças respiratórias e que isso está associado às baixas taxas de vacinação.
Apenas 50,6% dos menores de 12 anos no Estado foram vacinados contra a gripe neste ano. No caso da imunização contra a Covid-19, só 48,35% das crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose — menores do que isso não têm vacinação liberada pelo governo federal, o que já ocorre nos Estados Unidos, por exemplo.
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A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) ainda tem o governo federal como um de seus responsáveis, em especial no que se refere às UTIs, de maior custo para operação e que costumam estar concentradas em hospitais de referência.
Em visita a Santa Catarina no mês passado, no entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se esquivou quando questionado se repassaria recursos para habilitar novos leitos e disse que o Estado já tinha uma boa capacidade de resposta.
Por conta disso, as vagas de UTI abertas hoje em Santa Catarina só têm previsão de funcionar em caráter emergencial, por serem financiadas pelo governo estadual.
A reportagem questionou o governo federal se Queiroga tem uma nova avaliação sobre a situação no Estado, mas não obteve retorno até esta publicação.
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Novo leitos infantis em SC
- Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, com 3 leito de UTI neonatal e 8 leitos de cuidados intermediários pediátricos (já abertos)
- Hospital Hélio dos Anjos Ortiz, em Curitibanos, com 5 leitos de UTIs neonatal (já abertos)
- Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí, com 6 leitos de UTI pediátrica (já abertos)
- Hospital e Maternidade Jaraguá do Sul, com 6 de UTI pediátrica (já abertos)
- Hospital Seara do Bem, em Lages, com 5 de UTI pediátrica (já abertos)
- Hospital Azambuja, em Brusque, com 10 de UTI neonatal (já abertos) e 2 de UTI pediátrica (ainda previstos)
- Hospital Regional de Araranguá, com 5 de UTI neonatal (ainda previstos)
- Hospital e Maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, 3 leitos intermediários cangurú (ainda previstos)
- Hospital Infantil Jesser Amarante Faria, em Joinville, com 10 de UTI pediátrica (já abertos)
- Hospital Regional Alto Vale, em Rio do Sul, com 4 de UTI neonatal (2 já abertos e outros 2 ainda previstos)
- Hospital Materno Infantil Santa Catarina, em Criciúma, com 7 de UTI neonatal (ainda previstos)
- Hospital Regional de São José, com 10 de UTI neonatal (ainda previstos)
- Hospital Oase, Rio do Sul, com 10 de UTI neonatal (ainda previstos)
Novos leitos adultos em SC
- Hospital Florianópolis, 10 novos leitos de UTI adulto e 17 de enfermaria (já abertos)
- Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis, com 4 UTI adulto (ainda previstos)
- Hospital Regional de São José, com 1 de UTI adulto (ainda previstos)
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