Caio Júnior é um treinador que gosta de estudar. Sempre está presente no Congresso Footecon, o único que debate o futebol no Brasil, organizado pelo coordenador técnico da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira. Em 2006, ele surpreendeu o Brasil ao levar o Paraná a uma vaga inédita na Libertadores. Depois ganhou oportunidades em grandes clubes. Na Ásia fez o pé de meia e voltou ao Brasil para treinar o Vitória. Foi demitido justamente após uma derrota para o Criciúma. Depois de seis meses sem treinar nenhum time, aceitou o convite do Tigre por ser um desafio. Mas não é só isso. Ele quer mostrar ao Brasil que qualquer time organizado e com as mínimas condições de trabalho pode ter sucesso na Série A.
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Em um papo de mais de 30 minutos na concentração do time em São José, antes da partida contra o Figueirense, Caio conversou com o Diário Catarinense e falou sobre a carreira e os planos para o Criciúma.
Diário Catarinense – Seu nome é Luís Carlos Saroli, por que te chamam de Caio Júnior?
Caio Júnior – Na verdade o meu apelido sempre foi Caio e quando eu subi para o profissional do Grêmio em 1983 tinha um outro Caio, mais experiente, e dai começaram a me chamar de Caio do Júnior. Depois sugeri tirar o “do” e ficar só Caio Júnior, agora de onde saiu o Caio eu não sei (risos).
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DC – Você teve uma transição de jogador para treinador muito rápida.
Caio – É, foi uma coisa incrível. Quando eu parei de jogar em 1999 me tornei comentarista em Curitiba, da Banda B e da CNT. Eu estava indo muito bem e por causa da minha opinião o Coritiba me contratou como supervisor, e assim voltei para o campo. Percebi que supervisor não é a minha área, fiz o meu trabalho mas não me identifiquei. No ano seguinte o Ivo Wortmann foi para o Cruzeiro e ele me convidou para ser auxiliar dele. Mas logo fomos demitidos e eu tive que recomeçar. Foi o Paraná me abriu a porta como treinador dos juniores.
DC – E foi também no Paraná a sua primeira oportunidade profissional, livrando eles do rebaixamento em 2002, certo?
Caio – Isso, tínhamos 90% de chance de ser rebaixado e na última rodada empatamos com o Figueirense em Florianópolis, o Muricy Ramalho era o treinador do Figueira. Foi 2 a 2 e não caímos. Em 2006 levei o Paraná para a Libertadores, mas antes disso eu tinha desistido de ser treinador e tinha trabalhado como comentarista na SporTV.
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DC – E como você voltou a ser técnico?
Caio – Em 2006 o presidente do Paraná, o professor Miranda (José Carlos de Miranda) me chamou e disse que me daria a chance no clube e que o Paraná tinha sido injusto comigo depois que eu os salvei do rebaixamento em 2002. E foi uma loucura. Levar o Paraná para a Libertadores foi incrível e muito porque o presidente acreditou em mim. Me deixou ficar até o final, mesmo perdendo quatro jogos seguidos.
DC – Em 2005, com o Cianorte, você já tinha mostrado qualidade ao derrotar o Corinthians de Teves na Copa do Brasil. Você teve um ótimo início de carreira.
Caio – Tem gente no meio do futebol que tem muita capacidade, mas não consegue uma sequência. E acaba ficando nos campeonatos estaduais. Para embalar no Brasil, o treinador tem que fazer alguma coisa diferente. Foi o meu caso, levei o Paraná para a Libertadores. Isso chama a atenção.
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DC – Você jogou oito anos em Portugal, aprendeu algo lá que você usa hoje?
Caio – Você vai se adaptando ao mercado. Eu joguei oito anos e já era um futebol muito competitivo. Mas outros países já estavam na frente e continuam. O Barcelona, o Real Madrid, os times ingleses e alemães têm uma outra estrutura. Eu me espelho muito nessas equipes maiores. Os últimos anos foram muito importantes para mim. O que me motiva hoje para ser treinador são desafios, não mais a parte financeira. Não que a gente não precise, mas graças a Deus tive uma estabilidade nos últimos anos que me faz escolher. Eu não precisava escolher o Criciúma, inclusive financeiramente eu abri mão de outras propostas. Porque eu gostei da forma que o Criciúma insistiu e a vontade deles em ter o meu trabalho e eu criei um desafio. Quero provar que não depende da equipe, que é possível fazer um bom trabalho em qualquer equipe da Série A. Desde que a equipe te dê condições. E o Criciúma tem o mínimo dessas condições. O presidente me garantiu que a gente vamos poder contratar jogadores com nível de Série A.
DC – O que te trouxe para o Criciúma?
Caio – É um clube com um grande potencial e tem uma torcida que, se entender a sua força, pode ser decisiva para a gente fazer uma grande campanha.
DC – Você vai ter mais liberdade no Criciúma que em outros clubes que passou com Palmeiras, Botafogo, Flamengo?
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Caio – Teoricamente sim. A pressão no time grande é para ser campeão da Série A, e às vezes você não tem time para isso. Eu acho uma injustiça tão grande com a minha carreira algumas avaliações. Infelizmente não fui campeão no Botafogo, Palmeiras e Flamengo. Mas foram campanhas fortes, até a última rodada brigando pela Libertadores. Perdemos todo o ataque, que foi vendido. O Palmeiras não tinha dinheiro. O Paulo Baier saiu do Palmeiras para o Goiás porque tinha quatro meses de salário atrasado. Eu levei atletas do Paraná, que foram grandes contratações e lutamos até o final pela Libertadores. No Botafogo foi o time sensação e fui demitido três rodadas antes do fim do campeonato porque terminamos em quinto. São coisas sem nexo.
DC – A parada para a Copa do Mundo será importante para você que não fez a pré-temporada no clube?
Caio – Coincidentemente o ano do Paraná na Libertadores foi ano de Copa. A gente fez uma pré-temporada e recuperamos os atletas fisicamente. Já temos essa experiência. No ano passado no Vitória, eu tracei um objetivo. Mtas para a gente ficar no grupo dos quatro antes do intervalo para a Copa das Confederações. E ficamos em segundo. Então temos que trabalhar fortes para esses primeiros nove jogos. Cinco serão em casa e espero que a torcida entenda e nos apoie.
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DC – Você prefere uma equipe mais jovem, experiente ou mesclada?
Caio – Eu não acho que idade define se o jogador é experiente ou não. O ideal é mesclar. Não é nem experiência, mas sim liderança. Você precisa na equipe três ou quatro líderes e se for titulares até melhor. O jogador que não tem liderança sente mais a pressão e temos que buscar isso. Vou tentar indicar atletas assim.
DC – A sua prioridade é o Campeonato Catarinense?
Caio – Eu sou bem frio. O torcedor e nós sempre vamos querer o título estadual. Mas em termos de clube, a permanência de Série A é fundamental. Se for campeão e cair o prejuízo é grande. Esse é o grande problema no Brasil. Na Série A é um orçamento, na Série B despenca. Eu acho cruel o fato de cair quatro equipes, é só no Brasil. Em outros países são duas, três. É uma pressão muito grande.
DC – Você gosta de usar atletas da base?
Caio – Estou na expectativa de ver o Bruno Lopes, mas ele está machucado. Eu sempre lancei jogadores e se eu observo alguém diferente uso. Não tem idade, existe competência e personalidade.
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