Jonas mal sabe o poder que tem nas mãos. Carioca da gema e flamenguista orgulhoso, o homem com o bigode do Belchior é muito mais do que um simples trabalhador que recebe uma ordem via walk-talk e com cones alaranjados fecha o caminho. É ele quem dita o vaivém de carros, o sobe e desce de veículos ávidos por cruzar uma linha de chegada imaginária e quem ouve o incessante toma lá, dá cá de buzinas que por vezes toma conta do cenário. Jonas não é o culpado por isso, é claro, mas é tirado para Cristo cada vez que estica o braço e fecha a BR-470, adiando um ansioso rolar de pneus que é imobilizado pelo pedal do freio.

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– Os caras vêm, chutam os cones e ficam ameaçando a gente – resume, ao citar a aventura que é fazer funcionar o sistema siga e pare, essencial para o caso de uma obra como a de recuperação asfáltica que ocorre na rodovia federal.

::: BR-470 ficará em obras por dois meses

Jonas Galberto é um dos trabalhadores da LCM Construções, empresa responsável por fazer a reforma na pista de rolamento na BR-470 e que está desde quinta-feira passada operando próximo ao trevo de acesso a Pomerode. Há menos de três meses no novo emprego – ao lado do irmão, Augusto Galberto –, ele está no fogo cruzado entre a fúria e os questionamentos de motoristas impacientes. Xingamentos e ameaças não faltaram nesses menos de 90 dias, em que a pressa do dia a dia dos condutores virou parte de sua rotina.

– Bota lá no jornal para o pessoal ter mais paciência, por favor? Não tenho culpa, a gente só quer arrumar o asfalto – pede em tom de simplicidade o trabalhador enquanto vê o sentido Oeste da BR-470 começar a formar a fila que, duas horas mais tarde, próximo das 10h30min, se transformaria em sete quilômetros de congestionamento até o limite de Blumenau com Indaial.

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Sim, Jonas, colocamos. Até porque paciência é um dos pré-requisitos que os motoristas que querem ou precisam passar pela rodovia terão de ter pelos próximos dois meses. Com os trabalhos se estendendo do Km 50 ao Km 63 – trecho compreendido entre o trevo da Dudalina e a Flora Mariva – os congestionamentos se tornarão parte da rotina. Bom humor pode ser uma das melhores saídas para aguentar o tempo dentro do veículo com uma ou outra eventual colocação da terceira marcha. É o exemplo de Nilton Steffen, 44 anos, que trabalha como o caminhoneiro responsável por levar macarrão à casa das pessoas. Após 40 minutos na estrada, ele prefere entender que tudo ocorre para que melhorias saiam do papel.

– Quem depende da rodovia e usa ela diariamente como eu sabe como isso vai ser melhor. Vale o sufoco agora para o bem maior daqui a pouco. É só ter bom senso – destaca o motorista, instantes antes de embarcar na cabine e seguir viagem.

Alguns metros atrás está Luiz Carlos Melin, 37. Com o seu Volkswagen Golf desligado, ele aguarda ansiosamente o momento em que precisará acionar o motor de arranque do carro. O objetivo é chegar o quanto antes em alguém cujo aparelho de ar-condicionado despertou interesse em um desses sites de compra e venda que a internet oferece. Vindo de Pouso Redondo ele queria apenas fechar negócio. Nada mais.

– Vi um ar-condicionado bom e barato e preciso trocar o que está no quarto do meu filho. Mas agora acho que vou perder negócio – lamenta o pouso-redondense, que já estava uma hora atrasado no horário combinado com o anunciante.

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No congestionamento, lei da oferta e procura prevalece

Onde há motoristas parados e entediados, há também quem encontre uma forma de ganhar dinheiro. Seja vendendo cinco panos de louça por R$ 10, pés de moleque ou então cocadas, como é o caso de Gerson Volnei, que há 12 anos comercializa o delicioso docinho às margens de rodovia, onde quer que haja uma obra.

– Dá para vender umas duas caixas e meia por dia – destaca, enquanto segue caminhando sem parar à procura de clientes.

No momento em que tentava convencer motoristas para comprar a cocada, outro homem bem-vestido se aproxima:

– Sabe se tem alguém vendendo água?

– Acho que não – responde Volnei.

E, assim, surge uma nova oportunidade, enquanto motoristas e mais motoristas se amontoam no piso cinza e esburacado da BR-470 no Vale do Itajaí.

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