Por quatro meses, a rotina da hoteleira Juliana Ribeiro Leonhardt, 31 anos, se resumiu aos cuidados de Pedro. Com o fim da licença-maternidade, ela comemora o início das férias e de uma folga oferecida pela empresa em que trabalha para dar mais atenção ao pequeno e tomar uma das decisões mais importantes: escolher quem cuidará dele enquanto estiver trabalhando.
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Juliana sabe que a tarefa é difícil. Primeiro, ela e o marido cogitaram a ideia de contratar uma babá. A opção permitiria o crescimento dele em casa e o protegeria mais de infecções respiratórias, comuns em ambientes com muitas crianças. Entretanto, faltou uma profissional com boas referências.
– O ideal seria ficar em casa. Mas é melhor colocá-lo na escola do que estar com uma desconhecida. Desistimos da babá porque ficamos inseguros – conta a mãe.
Em seguida, começou a peregrinação por um bom berçário. Até agora, ela já percorreu sete escolas. Observou espaços de área comum, número de cuidadores, alimentação, higiene e condições da pracinha. Das sete, visitará algumas novamente.
– Mesmo que o bebê não use a pracinha, é importante pensar no espaço que ele vai brincar no futuro – explica.
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A fase de transição pela qual as mães passam no fim da licença é considerada por especialistas como uma das mais delicadas. Preocupadas com o filho, elas podem se sentir ansiosas na hora de escolher um cuidador para o bebê e precisam de apoio para tomar a decisão.
– Quando o casal está junto na pesquisa, escolher é mais fácil. Os pais devem sentir que a pessoa ou a instituição têm valores semelhantes aos deles – explica a psicóloga Iara Camaratta Anton.
Para a psicóloga Vanessa de Castilhos Susin, independentemente da decisão, é preciso observar a maneira como o cuidador troca o bebê, o alimenta e interage com ele. Além disso, é importante conversar para deixar claro como gostaria que a criança fosse cuidada.
– Quando optam pela escola, os pais precisam seguir as regras do local, mas podem analisar a seleção de professores e entrevistá-los – sugere Vanessa.
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Depois da decisão, os pais devem guardar um tempo para fazer a adaptação da família à nova rotina. Dependendo da reação da criança, pode ser um indicativo de que será necessário mais tempo e paciência.
A polêmica da creche
Na maioria dos casos, quando os pais perguntam a opinião dos pediatras sobre com quem deve ficar a criança, a resposta é sempre muito semelhante.
– – Primeiro, eu pergunto o que eles pensam. Em seguida, falo que, até os dois anos, o recomendado é ficar em casa – conta o pediatra Roberto Mário Issler.
A opinião é unanimidade entre os médicos. A explicação é que, até os 24 meses, a criança tem tempo de aprender a caminhar, de se comunicar e de melhorar a imunidade, que reduz as chances de processos infecciosos. A explicação, entretanto, não é uma regra.
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Ficar em uma creche não significa que a criança ficará mais doente. Pelo fato de os vírus circularem mais em locais com mais pessoas, as chances adoecer são maiores. Mas isso não ocorre com todo mundo.
Com quem fica o bebê?
Na hora de decidir entre a escola ou a babá, pais precisam de tempo e paciência para investigar qual a melhor alternativa para deixar o filho
Mesmo sem palavras na ponta da língua para fazer qualquer reclamação ou pedido, os bebês captam a serenidade dos pais e a confiança que eles têm na escola ou na babá. Esses sentimentos se transformam em reações, dizem especialistas, o que significa que, se a mãe não está feliz com o trabalho do cuidador, o filho poderá ficar mais manhoso e até mesmo resistente.
– Pode haver a sensação de abandono por parte da criança, mas geralmente quem precisa de ajuda são os pais, que não sabem como lidar com a situação – explica a psicóloga Iara Camaratta Anton, presidente da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul.
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Outro fator que pode influenciar na adaptação é a ansiedade de separação. Quando as mães se sentem culpadas por deixar as crianças após a licença-maternidade, podem ter dificuldade de se separar dos pimpolhos. E, como os sentimentos dela são captados pelo filho, as reações também surgem.
– Quanto mais tranquila e mais apoio a mãe tiver, mais condições terá de se separar do filho – avalia Iara.
De acordo com a psicóloga Vanessa de Castilhos Susin, especialista em psicanálise, os pais devem compreender que a babá ou a escola serão continuidade da educação que oferecem às crianças. Por isso, é necessário se preocupar também com a parte emocional de quem vai cuidar do bebê, seja a babá ou a professora.
– A escolha não é como uma receita de bolo. Os pais precisam interagir e ter muita calma na hora da escolha – lembra Vanessa.
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Compare antes de decidir
Primeiro, é preciso calma e tempo para pesquisar. Depois, pai e mãe devem avaliar juntos o que será melhor para a criança e para a rotina deles. Além de olhar currículo da babá ou da creche, é preciso avaliar a parte emocional dos cuidadores e reservar um horário para uma boa conversa.
Quando os pais estão tranquilos em relação à decisão, a adaptação do filho será mais fácil, e nada impede que a escolha não seja modificada ao longo do ano. Abaixo, veja algumas dicas.
A parceria da escola
A instituição escolhida deve ser uma parceria na educação dos filhos e um local para a socialização das crianças e desenvolvimento da autonomia delas.
Em grupo, elas aprendem a respeitar os outros e a conviver com as diferenças. Entretanto, pediatras alertam que o contato com mais crianças e o fato de os pequenos ficarem em locais fechados os deixam mais propensos à infecções respiratórias.
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É preciso avaliar a qualidade dos materiais usados em sala de aula, qual o limite de crianças por sala (a recomendação do Ministério da Educação é de um adulto para seis crianças de até um ano e de pelo menos um para cada oito pequenos com idade entre um e dois anos), estrutura física (banheiros, cozinha, móveis, entre outros) e verificar a proposta pedagógica e o currículo dos professores.
O berçário integral precisa ter ambiente planejado, com pessoas que trabalham diariamente com brincadeiras e estímulos. A presença de uma nutricionista também deve ser avaliada, assim como os horários de funcionamento, que devem se adequar ao dia a dia dos pais.
A cumplicidade da babá
A babá permite a permanência da criança dentro de casa e a adequação do pequeno às rotinas domésticas. Deve seguir as instruções dos pais para dar continuidade à educação que eles dão ao filho.
Para a escolha ser acertada, diálogo é fundamental na hora de eleger quem trabalhará como cuidador.
A candidata precisa ser tranquila, gostar de criança, saber se comunicar com os pequenos e ser afetiva. Ter experiência anterior ou noções de como cuidar de crianças é fundamental para a escolha. Também é necessário observar se ela mantém princípios de higiene e se é alfabetizada (para poder ler instruções, histórias ou bulas de remédio).
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Antes de contratá-la, você pode fazer um contrato de experiência. Acompanhe o trabalho da babá, observando o comportamento e a prática que tem ao cuidar das crianças. É importante perceber também se seu filho está se adaptando e se tem alterações de sono ou na alimentação (sinais que podem revelar alguma reação a mudanças).
Fontes: Iara Camaratta Anton, presidente Sociedade Psicologia, pediatra Roberto Mário Issler e psicóloga Vanessa de Castilhos Susin e Mara Debus, consultora educacional