Com quantas mãos se constrói uma igreja? As histórias que resistem ao tempo em Blumenau

Quem passa em frente às construções religiosas de Blumenau pode não se dar conta da quantidade de mãos envolvidas no “nascimento” das estruturas que também são símbolos históricos para a cidade. É o caso da Igreja do Espírito Santo e da Catedral São Paulo Apóstolo. Erguidas há mais de 100 e 50 anos, respectivamente, as duas edificações guardam, além da fé, fragmentos da história dos blumenauenses.

Paredes capazes de conectar o passado com o presente.

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Ao entrar na igreja católica, João Mosimann lembra de acompanhar, ainda na infância, o processo de construção da então “matriz”, que começou a ganhar vida no Centro da cidade em 1953. Como morava com a família a cerca de 100 metros da obra, ele costumava ver os homens que transportavam as primeiras pedras de outras regiões para erguer a estrutura.

— Eu era criança, andava por aqui, brincando, mas observava essas coisas — comenta.

Na parte central da igreja, a comunidade encontra uma rosácea de oito metros de diâmetro e com vitrais que representam uma coroa de espinhos. A imagem chama a atenção de quem se direciona para o altar, mas tem um significado ainda maior para as pessoas que presenciaram a origem do símbolo.

— A gente acompanhou, por exemplo, aquela rosácea que tem a pedra do meio com quatro toneladas. Aquilo foi colocado lá em cima com correntes. Eles tiveram que fazer uma estrutura toda de madeira para colocar aquilo lá. E ainda tem aquelas vinte hastes para sustentá-la. Foi milimétrico. Eu me orgulho muito porque muitos blumenauenses ajudaram a construir isso aqui — ressalta Seu João.

Também não é necessário estar fisicamente no processo de edificação da obra para entender a força da comunidade envolvida. Através de documentos e pesquisas, Cristiane Lindner conseguiu voltar para 1868 e resgatar detalhes sobre a história da Igreja do Espírito Santo, considerada a primeira luterana no Vale do Itajaí.

Ela explica que, em um dos primeiros cultos do pastor Oswald Hesse no local, ele pediu para que as pessoas se unissem na construção da casa dos sinos. A estrutura não poderia ficar na igreja e, por isso, foi montada no cemitério.

Em comparação com esse cenário, Cris relembra a participação da comunidade durante o restauro da Igreja do Espírito Santo, que teve início em 2021 e foi finalizado em dezembro do ano seguinte. Para ela, mesmo com o passar do tempo, as pessoas permanecem envolvidas com o templo através da cultura de fé. Algo que não muda nem no decorrer dos séculos.

— Há 145 anos a comunidade é do mesmo jeito, com o mesmo propósito, sentido e mesmo norte. E isso sempre vai ser assim. Outros restauros virão, outros desafios estarão aí e a comunidade vai estar à frente, fazendo isso estar sempre fervilhando como uma chama no coração de cada pessoa que tem acesso a essa religião — relata.

Com o processo de restauro, Cris recebeu a missão de escrever um livro sobre a história da igreja. Em breve, o legado do templo que representa a comunidade luterana no bairro Garcia também poderá ser conhecido ao redor do Brasil.

Voltando às origens da Catedral São Paulo Apóstolo

Construída no Centro de Blumenau, a Catedral é uma herança cultural deixada pelos imigrantes. Ela foi projetada pelo arquiteto alemão Gottfried Böhm para trazer modernidade e se tornar uma releitura do estilo gótico.

Em 2010, o espaço também recebeu o título de “Catedral São Paulo Apóstolo”, representação que se deve à torre de 45 metros de altura erguida em 1962. A estrutura já era considerada um símbolo de Blumenau desde 2006.

Com três sinos e um relógio vindo direto da Alemanha em 1930, a obra não é a única antiguidade que permanece intacta com o passar do tempo. No local, um órgão de tubos com quase 100 anos também ajuda, através do som, “a manifestar a fé”, conforme ressalta o padre João Humberto Luciani.

O sacerdote explica que o instrumento veio de Hamburgo, na Alemanha, e foi instalado na antiga igreja matriz. Em 1958, no entanto, foi transferido para a Catedral São Paulo Apóstolo, de onde nunca mais saiu.

Atualmente, há cerca de 17 missas por semana no local, sendo que quatro delas ocorrem só no domingo. Neste dia, mais de mil pessoas costumam passar pela igreja histórica.

— A catedral de Blumenau acolhe muitas pessoas da cidade, visitantes, turistas, e encanta a todos. Trabalhar nessa igreja dá a oportunidade de conhecer, acolher essas pessoas, conversar com elas, tirar as suas dúvidas, mostrar a beleza profunda também deste espaço santo — comenta o pároco João.

O início e recomeço da Igreja do Espírito Santo

Projetada em um estilo neogótico por arquitetos como Henrich Krohberger, a Igreja do Espírito Santo foi inaugurada em 1877. Desde então, o local passou por pequenas intervenções até chegar ao maior restauro em 2021, que custou cerca de R$ 7 milhões.

O trabalho minucioso durou 18 meses e envolveu líderes religiosos, empresas, além da própria comunidade. A arquiteta Rosália Wall participou dessa etapa. Para ela, acompanhar o projeto exigiu uma boa dose de cuidado e comprometimento, já que se trata de um patrimônio histórico. Isso significa que, além de pensar em avanços, também é necessário preservar as características originais.

— É muito gratificante trabalhar em uma obra com projetos de arquitetos com tanta qualificação. Então ali também entra uma responsabilidade, como o respeito. Você vai intervir e respeitar a concepção desses arquitetos — comenta.

A obra contemplou desde detalhes estruturais até grandes objetos. O órgão, por exemplo, foi ampliado com 252 tubos e um novo sistema de som. Já o relógio do templo também passou por restauração, assim como os grandes vitrais de Pentecostes e Ascensão, que ficaram novinhos em folha depois do trabalho de um especialista.

Veja também: Fotos revelam beleza e detalhes da Igreja do Espírito Santo, em Blumenau, agora restaurada

Hoje, apesar de guardar o passado de Blumenau, a Igreja do Espírito Santo também ajuda a construir novos capítulos da história de quem passa pelo local. O pastor Milton Jandrey comenta que não é raro encontrar pessoas que viveram algum momento marcante no espaço, como um casamento ou formatura. Lembranças que também seguem intactas.

— Essa igreja realmente faz parte da vida das pessoas de Blumenau. Em algum momento alguém passou por aqui e vivenciou algo dentro da igreja — relata o pastor.

Com informações de Suelen Eskelsen, NSC TV

Estagiária sob supervisão de Augusto Ittner

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