Nas linhas que se cruzam na cidade, há sempre alguém querendo chegar a algum lugar. Famílias, trabalhadores e todo tipo de cidadão passam pelas ruas de Florianópolis o tempo todo. Nesse meio tempo, ainda tem mais gente chegando à capital catarinense. Na última década, a população do município cresceu 36%, comparando o resultado do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a pesquisa de 2010.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Agora, a Capital conta com 574 mil habitantes. O aumento é como se Florianópolis tivessem recebido, nos últimos 12 anos, em média, 35 novos moradores por dia. O número é suficiente para encher um ônibus e também para lotar as ruas em veículos enfileirados em uma infraestrutura que ainda não cresceu tanto quanto a população.

Um dos moradores que escolheu a Ilha de Santa Catarina como lar é Douglas Navarros, vendedor natural de Cuiabá, no Mato Grosso. Ele conta que sempre foi apaixonado pela cidade e que realizou um sonho, junto da esposa, em se mudar para o Sul há dois anos. Apesar do deslumbramento com o visual da cidade e a qualidade de vida que Capital proporciona, a rotina não é fácil.

Morando no bairro dos Ingleses e trabalhando no Centro, Douglas utiliza o transporte público para se deslocar pela cidade. Ele embarca no primeiro dois dois ônibus antes das 7h e segue pelo trajeto por cerca de 30 quilômetros. Assim como o vendedor, outras 188 mil pessoas usam o transporte coletivo diariamente.

Continua depois da publicidade

— Leva de um hora e 30 a uma hora e quarenta minutos. O jeito é mexer no celular, escutar música e dormir, é o que dá para fazer — relata Douglas.

Em um veículo próprio, carro ou moto, o caminho poderia ser feito em aproximadamente 30 minutos, nos dias sem congestionamento. Esse é um dos desafios da Capital com o crescimento nos últimos anos: o transporte público da Capital não tem conseguido competir com o individual.

Segundo o professor Bernardo Meyer, coordenador do Observatório de Mobilidade Urbana da UFSC, falta uma priorização do transporte público dentro do planejamento urbano.

— A gente precisa que as vias urbanas de Florianópolis e da região metropolitana estejam preparadas com faixas preferenciais, com vias exclusivas para o transporte público. Dessa forma, a gente consegue segregar a movimentação do transporte público do tráfego de automóveis. Essa segregação é fundamental para dar maior velocidade e aumentar a qualidade e eficiência do transporte público — avalia o coordenador.

Continua depois da publicidade

No ano passado, as primeiras pistas exclusivas para ônibus foram criadas no campus da Universidade Federal de Santa Catarina, por onde circulam 40 mil pessoas por dia. Em horários de pico, quem está de ônibus agora economiza pelo menos 20 minutos durante o trajeto. No entanto, a questão é como promover essa vantagem aos usuários do transporte coletivo em outros pontos críticos da cidade.

A Secretaria Municipal de Transportes e Infraestrutura promete um grande obra na Avenida Beira-mar Norte. As quartas faixas em cada sentido da via deverá fazer um corredor exclusivo de ônibus e ainda contar com uma nova alça do elevado do CIC, segundo secretário da pasta, Rafael Hahne.

— Vai aumentar a velocidade [do fluxo] e os ônibus não vão ficar compartilhando o espaço com os veículos comuns — garante o secretário.

Mudança de cultura na mobilidade

A longo prazo, outro desafio é a mudança da cultura do uso do veículo individual. Hahne destaca que há uma preferência da população por sair com o próprio carro, mas reforça que a cidade cresceu e mudou, de forma que o comportamento das pessoas também precisa acompanhar as transformações.

Continua depois da publicidade

— As pessoas não utilizam o transporte público ou não confiam no transporte público. Isso nos leva a uma outra condição que é sermos uma das regiões metropolitanas do Brasil onde mais se tem carros por habitantes — observa o professor Meyer.

Em média, são dois habitantes para cada carro em Florianópolis. O resultado é uma superlotação nas principais rodovias e avenidas que geram quilômetros de congestionamento. Porém, isso também é consequência da presença de carros das cidades vizinhas à Capital.

O fluxo entre as pontes que ligam a Ilha de Santa Catarina ao continente soma 300 mil veículos circulando todos os dias. Desde a via expressa, o caminho que leva à entrada da ilha já é um reflexo do trânsito que é preciso enfrentar por todos os lados.

— O ideal é que nós conseguíssemos, de uma vez por todas, implementar o sistema integrado metropolitano na Grande Florianópolis. Paralelamente, também iniciar um processo de criação de faixas preferenciais de vias exclusivas para que a gente consiga realmente dar a eficiência necessária que um sistema metropolitano na capital do Estado demandaria — reforça o coordenador do Observatório de Mobilidade.

Continua depois da publicidade

Trânsito para todos os lados, para todo mundo

Não importa o meio de transporte escolhido pelo cidadão, hoje Florianópolis mostra que o trânsito impacta mais na qualidade de vida do que poderíamos imaginar. De ônibus, carro, moto ou bicicleta, as vias públicas são o caminho para chegar ao trabalho, escola e ao hospital.

Muitos moradores se deslocam grandes distâncias por conta dos seus diversos destinos. Um desafio para o presidente do FloripAmanhã, Jaime de Souza, é descentralizar os serviços para que as pessoas tenham a comodidade de ter empregos, educação e saúde perto de onde vivem.

— O maior desafio hoje é fazer com que os distritos se tornem autossuficientes com relação a sua economia e com relação ao serviço público. Obviamente que fazendo com que o cidadão não precise sair do seu distrito, do seu bairro, para vir para o centro da cidade, resolverá de forma significativa a mobilidade urbana — opina Souza.

Outro plano da Prefeitura de Florianópolis é aumentar a cobertura de áreas com ciclovias. A expectativa é chegar a 250 quilômetros de espaços exclusivos ou compartilhados para ciclistas.

Continua depois da publicidade

Mais qualidade de vida

Para quem estuda mobilidade urbana é óbvio que o trânsito impacta muito na qualidade de vida. Glaucia Pereira, especialista no assunto, avalia que a mobilidade atravessa a vida das pessoas em mais de um aspecto pois está presente diariamente para inúmeros fins.

— Quando a gente tem um trânsito mais calmo, claro que a gente vai ter mais pedestres nas ruas, mais ciclistas e tudo isso faz a cidade ser muito mais calma e muito mais convidativa para que as pessoas de fato façam uso em outros modos de transporte. Mas, também é melhor para quem está dentro do carro e em cima das motos, a cidade fica muito mais tranquila e isso faz com que as pessoas não fiquem tão estressadas — garante Pereira.

Mesmo com as horas perdidas no trânsito, Douglas diz que deixar Cuiabá em busca de uma nova vida na capital catarinense valeu a pena.  

— Aqui ainda é bem melhor, lá [em Cuiabá] é mais demorado e tem pouco ônibus. É uma cidade menor, mas com poucos ônibus. Aqui, por ser uma cidade maior, demora e deveria melhorar um pouco mais com certeza — observa o vendedor.

Continua depois da publicidade

Veja vídeo sobre o aniversário de Florianópolis