Há dez anos os moradores de Paial, que moravam a 35 quilômetros do centro de Chapecó, levavam mais de uma hora para percorrer o trajeto, que contava com 25 quilômetros de estrada de chão e a travessia do rio Irani era feita de balsa. O município era um dos 54 entre 295 municípios do estado que não tinham acesso asfáltico na época, segundo dados da Secretaria de Infraestrutura do Estado.

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Pois agora os moradores de Paial levam apenas 30 minutos para irem até Chapecó. A inauguração da SC 157, ocorrida no sábado passado, pôs fim à lista de municípios sem acesso pavimentado.

A obra que iniciou em 2009 custou R$ 32 milhões. Houve um atraso em virtude de que parte da rodovia passa por uma reserva indígena, o que atrasou o licenciamento da obra, segundo Cobalchini. Aliás, ainda faltam asfaltar 250 metros da rodovia, dentro da aldeia de Toldo Chimbangue, para encerrar a obra.

O secretário de Infraestrutura do Estado, Valdir Cobalchini, afirmou que as cidades sem asfalto tinham um muro em volta delas, que não permitia o desenvolvimento. Agora ele acredita que muitas pessoas que saíram de suas cidades possam voltar.

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O agricultor aposentado Flávio Baú, que mora nas margens da SC 157, disse que um pedaço de terra que antes valia R$ 20 mil, agora está valendo R$ 500 mil.

– Um monte de gente está comprando terra aqui – afirmou. O motivo é que, com o asfalto, ele chega no centro de Chapecó antes do que moradores de alguns bairros chapecoenses. Sua mulher, Janice Baú, comemora o fato de não ter mais poeira na frente de casa.

Para o motociclista Tafarel de Matos, de 19 anos, o acesso asfáltico permite que ele vá a Chapecó cinco ou seis vezes por mês, a maioria das vezes para passear. A facilidade é tanta que ele pensa em deixar de trabalhar em Seara e arrumar um emprego em Chapecó. Mas vai continuar morando em Paial.

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A auxiliar de limpeza Liamara de Oliveira lembra que, antes do asfalto, levava mais de uma hora para ir até o dentista, em Chapecó.

– Era sofrido, em dias de chuva os carros atolavam – lembra. Ela espera que o asfalto traga desenvolvimento, indústrias e emprego para o município, que vê sua população encolher ano a ano. O município tinha 1.763 habitantes em 2010 e, a estimativa para 2013, era de 1.698 habitantes. Mesmo que a população não aumente, os atuais moradores estão felizes pois não se sentem mais num “fim de mundo”. Agora eles estão “a um pulinho” da maior cidade do Oeste.

“A falta de asfalto limita o desenvolvimento, mas ele não vai reverter o quadro de retração de alguns municípios”, diz doutor em Gestão Territorial

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A presença de acesso asfáltico em todos os municípios catarinense é considerado um fator que interfere em índices de desenvolvimento, segundo o professor do Mestrado em Administração da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e Doutor em Gestão Territorial pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rógis Juarez Bernardy.

Ele considera que esta ação representa melhora na qualidade de vida dos moradores. No entanto ele afirma que essa política isolada não significa que esses municípios vão se desenvolver só porque o asfalto chegou nas suas casas.

:: Confira a entrevista:

Diário Catarinense – Qual a importância de Santa Catarina ter todos os municípios com acesso asfáltico?

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Rógis Juarez Bernardy: O acesso asfáltico é condição básica para o desenvolvimento. Os índices de desenvolvimento social são mais baixos em cidades sem ligação asfáltica. Os municípios ficam isolados e isso limita o desenvolvimento.

Diário Catarinense – Paial, por exemplo, vinha diminuindo sua população ano a ano.

Bernardy: Sim, eles tiveram uma retração de 3,68% na população entre 2010 e 2013. Mas somente o asfalto não vai reverter o quadro de retração. Ele é super importante mas, onde não tiver emprego, não tem como fixar os jovens.

DC- Isso quer dizer que aqueles municípios que ficam “no fim de linha” de uma rodovia podem reduzir o ritmo do êxodo mas o asfalto não resolve o problema?

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Bernardy: Sim. Muitos municípios tem pouca diversidade econômica, ou dependem da Prefeitura e/ou da produção primária. Estes devem continuar a retração. Na região Oeste os municípios com maior diversidade e que mais crescem são os que ficam às margens da BR 282.

Em Santa Catarina, o principal eixo de desenvolvimento fica no eixo da BR 101, entre Florianópolis e Joinville. Essa faixa, que abrange Blumenau e Itajaí, deve concentrar 40% da população de Santa Catarina em dez anos. É uma região que atrai investimentos, até pela facilidade de ligação com Curitiba. Um exemplo é o investimento na área automobilística. E os municípios pequenos, próximos dessa região, também serão beneficiados.