A obra de uma nova estação de tratamento de esgoto em Rio Tavares, em Florianópolis, atingiu cerca de 70% de sua construção ainda com um impasse sobre onde irá ser despejado o volume tratado no local. Apesar de já durar mais de uma década, o empreendimento não tem garantida a construção de um emissário submarino no Sul da Ilha, uma proposta da Casan para levar os efluentes ao fundo do oceano.

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O emissário submarino é uma tubulação com cerca de um metro de diâmetro que despejaria o efluente a cerca de 5,5 quilômetros da costa e a uma profundidade de 35 metros. O projeto está judicializado e aguarda aprovação do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), que só concedeu licença até então para a estação de tratamento. A parte que avançaria debaixo do mar aguarda estudos técnicos.

Na altura do Novo Campeche, onde o emissário seria construído, a ideia segue sendo contestada por moradores, que temem contaminação do mar com o despejo.

— É unânime na ilha a opinião sobre o emissário submarino, de que não queremos. A gente já discutiu o reuso da água, que isso é possível [em vez do emissário]. A gente tem a preocupação de que, com ele, vá acontecer algum problema, como aconteceu lá na Lagoa da Conceição — disse a presidente da Associação de Moradores do Campeche (Amocam), Roseane Panini, em entrevista à NSC TV.

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Engenheiro da Casan, Alexandre Trevisan discorda da previsão da líder comunitária e diz que não haverá risco de contaminação da faixa litorânea na região.

— Não é o esgoto na água, no mar, é o efluente tratado, que tem possibilidade de se reutilizar. Nós vamos reutilizar esse efluente dentro do nosso processo — disse.

— Hoje o Sul da Ilha é a região que tem o maior déficit de infraestrutura de saneamento da cidade, então é onde a gente tem os piores indices de atendimento coletivo. Essa obra vai permitir que a gente avance nesses índices — completou.

A avaliação dele é corroborada pelo presidente da Associação Catarinense de Engenheiros Sanitaristas e Ambientais (Acesa), Vinicius Ragghianti.

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— Com o emissário, nós praticamente afastamos o risco de contato com esse efluente e, mais do que isso, a gente acelera e muito o processo de diluição dele na natureza. As pessoas tendem a ter um mito de que o emissário submarino vai lançar esgoto bruto na beira da praia, quando, na verdade, isso é o que a gente tem hoje com as ligações irregulares — afirmou, também à NSC TV.

Professor de oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Felipe Pimenta diz que, tendo em vista a realidade da cidade, o emissário submarino é uma alternativa viável, mas com ponderações sobre como isso seria feito.

— Lançar para as baías não é o melhor destino, por causa das dinâmicas delas. O lançamento dos dejetos em fossas sépticas vai contaminar os mananciais, os rios e as lagoas, que são ambientes muito mais sensíveis e têm menor capacidade de depuração que os oceanos. Então o emissário submarino é uma solução viável, a melhor alternativa que a gente tem no momento. Agora, o planejamento da distância desse emissário é o ponto-chave para que esse material não retorne realmente para a costa.

Ele sugere ainda a criação de um programa de monitoramento permanente e um experimento com tintas alimentícias que simularia o comportamento dos efluentes no oceano quando fossem eventualmente lançados pela tubulação submarina.

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Já a biológa Bruna Roque Loureiro, especializada em aquicultura e também pesquisadora da UFSC, defende serem necessários mais estudos sobre os impactos do emissário submarino no mar e, consequentemente, na pesca.

— Precisa ter um levantamento mais criterioso, sobre os pescadores que vão ser diretamente afetados e as áreas de produção pesqueira que são de grande importância para eles, se elas realmente não vão ser afetadas.

Também ligado à UFSC, mas já como professor aposentado, o engenheiro sanitarista Daniel José da Silva diz que a construção de um emissário não é a melhor alternativa.

— Do ponto de vista da engenharia, dizer que o emissário é uma solução ecológica é um despropósito. O que temos que pensar é uma solução ecológica para o tratamento, e não dizer que o emissário é uma solução ecológica — afirmou o engenheiro, que propõe o tratamento do esgoto na origem da rede, ou seja, nas próprias casas.

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— A Embrapa tem um tipo de fossa de um metro quadrado, fechada. O esgoto é recebido dentro dela, em um cubo, e é trabalhado através de plantas e de evaporação. A própria biologia se encarrega de evaporar. Ali o microplástico, por exemplo, que nós não vemos, não vai para o oceano — disse.

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