Santa Catarina vive um momento de alta da dengue e o número de casos prováveis da doença já é 650% maior do que no mesmo período do ano passado. Além disso, 155 cidades catarinenses estão infestadas pelo mosquito Aedes aegypti. O cenário, com sobrecarga de hospitais, filas para atendimento e oito mortes colocou o Estado como o segundo do Sul do país a registrar mais óbitos e confirmações da doença em 2024, ficando atrás apenas do Paraná, que já registrou teve 21 vítimas.
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Neste ano, já foram registradas oito mortes e 17.696 casos prováveis de dengue em 177 cidades. Também foram identificados 12.885 focos do aedes aegypti em 215 dos 295 municípios. Neste contexto, o governo do Estado anunciou que aderiu ao decreto emergencial a fim de buscar recursos em âmbito federal para evitar que o sistema de saúde das regiões entre em colapso, visto que o quadro de dengue já levou, pelo menos, a 213 internações em hospitais públicos de SC.
As unidades mais afetadas são o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, em Joinville, com 24 pacientes, e o Hospital Infantil Pequeno Anjo, em Itajaí, com 12 crianças hospitalizadas. As unidades ficam nas regiões com maior incidência de casos: Nordeste, com 1.076,71, e Foz do Rio Itajaí, com 392,93.
O Paraná também lidera a lista com relação à incidência dos casos no Sul do Brasil, já que é o Estado com maior proporção de casos por mil habitantes. Na sequência vem Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
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Como está o cenário da dengue na região Sul do Brasil
Cenário preocupante e desafiador em Joinville
Maior cidade do Estado, Joinville está em situação mais crítica e puxa a gravidade em SC. O município foi o que mais registrou mortes, com seis óbitos, tem 1.944 casos confirmados, 6.295 prováveis e decretou emergência. O pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoDengue, Leonardo Bastos, diz que a cidade apresenta um cenário “bastante preocupante e desafiador”, pois usualmente uma região com uma ou duas epidemias seguidas entra em um período de baixa atividade por um tempo.
Número de casos e mortes faz oito cidades catarinenses decretarem emergência pela dengue
Ele cita como exemplo comparativo o Rio de Janeiro, que estava sem grandes epidemias há alguns anos e enfrenta um elevado número de casos neste ano. Joinville, no entanto, vem com uma sequência de epidemias.
– Não há explicação clara. Temos uma falta de treinamento dos serviços de saúde para identificar casos de dengue. E a dengue é uma doença que é necessário o monitoramento mais próximo, pois se o quadro se agravar e o paciente for tratado precocemente, as chances de evitar um óbito são grandes – destaca Bastos.
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Caso a situação ocorra ao contrário, se o agravamento não for identificado rapidamente, as chances do caso evoluir para óbito aumentam.
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– E essa falta de treinamento ou de experiência das equipes de saúde em tratar pacientes com dengue está relacionada com o fato da região não ter o histórico de epidemias de dengue – complementa o pesquisador.
Joinville vive quinta epidemia seguida
Joinville entra no quinto ano seguido com alta em casos de dengue e, no ano passado, foi uma das cidades do país que mais registrou mortes pela doença (39). Conforme o gráfico abaixo, antes de 2020, a cidade não tinha casos de dengue. Mas, a partir de então, os números passaram a subir e a cidade enfrenta a quinta epidemia seguida da doença.

O sistema de saúde local foi ainda mais sobrecarregado com a chegada da Covid-19. À época, com as unidades colapsadas por causa do coronavírus, houve também restrições e distanciamento social, impedindo os agentes de vigilância de ir às casas e, com isso, o mosquito tomou a cidade.
Para o pesquisador da InfoDengue, o cenário implica diretamente na maior gravidade dos casos.
– Um volume muito grande de casos afeta todo o sistema de saúde, vimos isso na Covid. E, infelizmente, um grande número de casos implica também em um aumento de casos graves que precisam ser identificados o mais cedo possível para que não evoluam.
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Maior incidência está nas casas e especialista alerta para cuidados
Conforme dados da Dive, os focos do mosquito em Santa Catarina são encontrados, principalmente, em imóveis residenciais, com 37,8% de incidência, seguido de comércios (30,8%) e terrenos baldios (2,4%). Carlos José de Carvalho Pinto, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, afirma que o Ministério da Saúde não trabalha com o termo erradicação para a dengue, pois a doença já está bem estabelecida no país. O que se trabalha, portanto, é em deixar a população de Aedes aegypti bem baixa para que não ocorram epidemias.
– Precisamos melhorar o controle do mosquito vetor. Em todas as épocas e locais do mundo onde a população de Aedes aegypti esteve muito alta, houve transmissão de dengue. Mesmo com a vacina contra dengue, o ideal é que a população de Aedes aegypti esteja baixa, pois ele transmite mais três doenças para o humano além da dengue: Chikungunya, Zika e Febre amarela urbana – argumenta.
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Embora haja novidades no controle do mosquito, como o uso da bactéria Wolbachia, o especialista reforça a necessidade de se manter o controle dos criadouros.
– Além disso, como na maioria do Estado já existe a transmissão pelos mosquitos, o ideal é evitar se expor à picada deles. Se possível, usar roupas que tapem o corpo, especialmente no início da manhã e final de tarde, usar repelente, dar preferência para as roupas claras, pois não atraem tanto os mosquitos quanto as roupas escuras.
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Imunização contra dengue começa neste sábado (24) em Joinville; veja quem pode se vacinar
Além da chegada da vacina contra a dengue em 13 municípios catarinenses nesta semana, de acordo com a Dive-SC, o Estado tem intensificado ações, como o repasse de recursos financeiros, campanha de comunicação e apoio técnico aos municípios. Também estão sendo feitas reuniões com os gestores municipais para acompanhamento da implantação de novas estratégias em conjunto com o Ministério da Saúde, como é o caso do Wolbachia. No momento, a bactéria está sendo aplicada em Joinville.
Com preparação durante o ano, dengue pode ser parada, diz especialista
Para Carlos José de Carvalho Pinto, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, existe a possibilidade de as cidades se prepararem para a dengue antes mesmo da crescente nos casos, mas isso demandaria maior investimento em equipes de vigilância epidemiológica.
Ele diz ser necessária a presença de mais agentes em campo visitando casas e fazendo trabalho de prevenção e conscientização ao longo de todo ano para que, com a chegada das altas temperaturas de verão, o mosquito não encontre condições para se reproduzir, como água parada em residenciais e comércios.
– Além do número de pessoas, essas equipes têm que ter boas condições de trabalho, como veículos para se movimentarem, por exemplo. As casas devem ser visitadas constantemente. Hoje vemos casas que os profissionais passam uma ou duas vezes no ano. É muito pouco – frisa.
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Infográfico mostra o ciclo de vida do Aedes aegypti, mosquito da dengue, chikungunya e zika
O professor acrescenta que o Aedes aegypti pode se desenvolver de ovo até adulto em de sete a 10 dias, e cada fêmea pode botar dezenas de ovos. Ele alerta que no Litoral, por exemplo, é muito comum a presença de casas de veraneio, que ficam fechadas boa parte do ano.
– Elas precisam ser fiscalizadas. Imagina uma piscina que fica em uma casa fechada por meses. Em algumas situações, as equipes têm que ter drones e outras facilidades tecnológicas para poderem exercer bem o trabalho de fiscalização. O controle dessa doença tem um custo – defende.
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Entre os acertos do poder público, cita a estruturação dos serviços de vigilância epidemiológica em vários municípios para o combate ao Aedes aegypti e a formação dos profissionais de campo e de laboratório feito pela Vigilância Epidemiológica Estadual. Também destaca a participação, desde 2014, no Programa Mundial de Mosquitos através da Fundação Oswaldo Cruz, com financiamento do Ministério da Saúde em parceria com governos locais, no projeto de soltura dos mosquitos infectados com Wolbachia (método aplicado apenas em Joinville).
– Mas o principal erro está no baixo investimento nas equipes de vigilância epidemiológica pelos municípios. As residências e comércios têm que ser visitados e fiscalizados com frequência. Não teremos como enfrentar a dengue se não investirmos em prevenção – pontua.
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