O mundo do automobilismo terá maior presença das mulheres na próxima temporada. Com a chance de contar com uma brasileira no grid, a W Series quer revolucionar o esporte a motor ao lançar um campeonato somente com mulheres na pista. E a meta é ambiciosa: colocar uma pilota na Fórmula 1 nos próximos anos.
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– Eu acordo no meio da noite com sonhos de ver uma mulher num carro de Fórmula 1. Mas decidimos, no momento, não estabelecer nenhum prazo para isso acontecer – disse Catherine Bond Muir, CEO da W Series, ao jornal O Estado de S.Paulo.
Enfrentando preconceitos e as dificuldades naturais de se lançar uma categoria de automobilismo, Catherine anunciou a criação do campeonato em outubro após constatar a rara presença das mulheres nas principais competições da modalidade. Para tanto, se cercou de notáveis da área, como o ex-piloto da F-1 David Coulthard e Adrian Newey, um dos principais projetistas da categoria, atualmente na Red Bull.
Com ajuda da dupla e da DTM, categoria de carros de turismo da Alemanha, a CEO da W Series criou o campeonato que já tem calendário definido para 2019. Serão seis etapas entre maio e agosto, em circuitos famosos, como Hockenheim, na Alemanha, e Brands Hatch, na Inglaterra. A nova competição vai acompanhar parte da temporada da DTM, contando com seu suporte técnico. Para o futuro, Catherine não descarta chegar às Américas. E o Brasil é uma possibilidade.
– Seria ótimo fazer uma corrida aí. O Brasil tem uma grande história no automobilismo – disse a dirigente.
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Ainda em busca de patrocinadores, a W Series terá a sua primeira temporada bancada por investidores da área financeira de Londres. Patrocínios mais sólidos, contudo, ainda não são uma realidade. Mesmo com fundos ainda limitados, a categoria apresenta uma novidade na questão dos recursos. Ao contrário da grande maioria dos campeonatos pelo mundo, a W Series não vai cobrar pela participação das futuras pilotas. Bancará todos os custos e ainda vai oferecer uma premiação total de US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 5,8 milhões), sendo US$ 500 mil (R$ 1,9 milhão) à campeã. Todas as demais competidoras vão receber parte do valor restante.
As 18 futuras pilotas da nova competição ainda estão sendo escolhidas para guiar os carros modelo Tatuus T-318, que costuma ser usado na Fórmula 3. E a catarinense Bruna Tomaselli foi uma das 55 selecionadas na primeira fase do processo. Foram mais de 100 inscrições, de 30 países diferentes, de acordo com Catherine. A pilota brasileira, de 21 anos, foi escolhida com base em seu currículo e também com a ajuda de Bia Figueiredo. A compatriota que já disputou as 500 Milhas de Indianápolis, na Fórmula Indy, era a primeira opção da W Series, mas, por já ter compromissos em outras categorias em 2019, indicou a jovem.
Bruna reforça preparação para etapa da seleção
Sonhando com uma vaga no grid da W Series, Bruna Tomaselli reforçou a sua preparação física e técnica nos últimos meses, desde que entrou na lista inicial do processo seletivo para se tornar pilota da nova categoria.
– Estou fazendo ainda mais academia e simulador para chegar bem preparada e brigar por uma das 18 vagas – afirmou a atleta de 21 anos.
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A ansiedade não é por acaso. Em uma modalidade fortemente dominada pelos homens, a chance de correr em uma nova categoria, reservada às mulheres, é quase única para uma pilota, principalmente no Brasil, onde o automobilismo feminino praticamente inexiste.
A trajetória de Bruna, ainda que iniciante, revela as dificuldades para uma mulher se tornar pilota profissional. Nascida em Caibi, no extremo oeste de Santa Catarina (“quase na Argentina”, como ela mesmo brinca), a atleta começou no kart aos sete anos. Em diferentes categorias que competiu pelo país, nunca enfrentou mais que meia dúzia de meninas. Seus rivais sempre foram meninos e homens.
Com bons resultados no kart em nível estadual e regional, ela passou a competir em carros de fórmula aos 15 anos. Competiu na Fórmula Junior, Fórmula RS até chegar na Fórmula 4 Sul-Americana, em que ficou em quarto lugar em 2015. Em outro bom resultado, ficou em terceiro competindo com mais de 80 adversários no Skusa, uma das principais competições de kart do mundo, nos Estados Unidos, em 2011.
Tudo isso bancado pelo pai, dono de uma empresa familiar na mesma Caibi, de apenas 6.213 habitantes, segundo o IBGE. Foi o apoio da família que permitiu Bruna entrar na USF2000, algo como a “quarta divisão” da Fórmula Indy. O suporte familiar permitiu a continuidade de sua carreira. O apoio das pessoas ao seu redor também foi determinando para seguir em busca do sonho.
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– Desde pequena eu gostava de carros. Eu desenhava carrinhos, brincava. Troquei as bonecas pelos carrinhos. Aos sete anos, ganhei um kart e comecei a andar nas pistas perto da minha cidade. Até que um dia deixou de ser brincadeira para virar coisa séria – lembrou a pilota, que é fã de Ayrton Senna, Michael Schumacher e Felipe Massa.
Bruna é uma das 55 selecionadas para a segunda etapa da seleção para a W Series. No final de janeiro, ela viajará para a Áustria, onde será realizado novo estágio do processo de escolha das 18 pilotas que estarão no grid da primeira etapa da nova competição. As escolhidas serão conhecidas somente em maio, às vésperas do início da temporada, que contará com seis etapas na Europa.