Educar pode ser uma tarefa árdua, mas uma experiência enriquecedora. E se há um caminho mais fácil, nem sempre ele é a melhor opção. Bem sabe Paulo Lima, que no ano passado lançou um desafio para a filha que insistia em pedir mesada. Ao incentivar Larissa, de 10 anos, a escrever um livro, colocá-lo à venda na internet e a ganhar o próprio dinheiro, ele sabe, contudo, que ensinou muito mais do que uma lição de educação financeira.
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– Eu buscava incentivar sua proatividade, empreendedorismo, mas, principalmente, que ela exercitasse produzir algo de que goste, relacionado aos seus interesses. São estímulos que eu não recebi quando criança e que, lamentavelmente, acabaram surgindo por outros caminhos mais tarde na minha vida – diz.
– Ele me disse: “Quem sabe tu ganha dinheiro de uma forma mais legal, educativa e que se divirta, além de só um jeito de ganhar mesada?” E lembrou que eu gosto bastante de ler e escrever – afirma Larissa ao reproduzir o diálogo com o pai.
Biólogo de formação, Lima atuou no Nordeste por mais de três anos, mas decidiu retornar a Porto Alegre com a mulher e a filha pequena para abrir o próprio negócio como consultor em treinamento. Hoje, ele é proprietário de uma empresa especializada em adaptar livros para os principais formatos digitais do mercado editorial, expertise fundamental para o projeto da primogênita. Daí para dar vida à fantasia dela não demorou.
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Uma semana depois da conversa inicial, Larissa, estudante da 5ª série do Colégio Israelita, retornou com a ideia:
– Pensei que ela própria fazer pulseiras e colares com miçangas, como algumas coleguinhas, mas me chamou a atenção quando disse que iria escrever um livro.
A decisão não surpreendeu totalmente ao pai e à mãe, também bióloga. Donos de uma ampla biblioteca na casa em que residem no bairro Alto Petrópolis, na Capital, eles estimulam desde o nascimento o hábito da leitura tanto na menina, quanto em Caio, de 5 anos, que, segundo o pai, já lê.
Dois meses depois, o pai tinha em mãos O Espanta Tranqueiras, história fictícia de um casal de irmãos que viaja nas férias para a casa dos avós, onde todo tipo de guloseimas cresce nas árvores. O livro chama a atenção ainda pela preocupação com hábitos alimentares saudáveis. Larissa fez as narrações, e, Paulo, como prometido, as ilustrações e formatações necessárias para envio do material para a Apple.
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– Achei bárbara a ideia de árvores que davam refrigerantes, pirulitos e outras tantas comidas que ela está ciente de que não são saudáveis, justamente pelos hábitos que mantemos em casa – relata o pai orgulhoso.
Na semana passada, sete meses depois do processo iniciado com a marca norte-americana, o livro (reprodução acima) O Espanta Tranqueiras foi aprovada está à venda por USD 3,99 na iBooks Store. Desde então, já foram realizados 55 downloads, totalizando US$ 80 em vendas (sem contar os impostos), números monitorados diariamente por Paulo e Larissa, que acompanha ansiosamente o interesse pelo o que ela própria criou.
– Mais do que o rendimento gerado, a grande lição que tanto ela quanto o Caio me dão diariamente é: “pai, faz mais porque eu consigo absorver”. Hoje, os pais limitam demais os filhos com muitos “nãos” e restrições. O livro é resultado de um conjunto de coisas que não se limita a uma forma de conseguir dinheiro, mas sim de despertar a criatividade, a imaginação e, claro, a consciência de que é preciso esforço para conseguir algumas coisas na vida. Senão, fica fácil agora, e difícil depois.
Animada com a experiência e com o incentivo dos pais, Larissa já pensa no próximo livro.
– Estou botando pilha desde cedo porque esse comportamento abre muitas portas. Estou plantando uma semente, ainda que no futuro ela opte por uma atividade não relacionada com a escrita e até por um emprego de carteira assinada, como eu optei por muito tempo – afirma Lima.
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