Estudantes do curso de medicina da Universidade do Contestado (UnC), de Mafra, reclamam da falta de professores na instituição. Em uma publicação nas redes sociais, alegam que estão desembolsando R$ 12 mil de mensalidade por 11 disciplinas, no entanto, estão recebendo apenas três dessas aulas. O problema também se repete em outros cursos e, nesta sexta-feira (3), alunos se manifestaram em frente à faculdade do Planalto Norte catarinense.

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Alunos protestaram em frente à faculdade por não estarem recebendo todas as aulas nesta sexta-feira (Foto: Arquivo pessoal)

Uma universitária que pediu para não se identificar diz que, nos últimos meses, pelo menos quatro professores teriam pedido demissão da UnC. Ela ainda que a defasagem no quadro docente se arrasta desde outros semestres, no entanto, a situação se agravou neste ano. Quando procuram a direção, nunca recebem uma resposta concreta ou não são recebidos, diz.

— Sempre falam que estão resolvendo, que estão preocupados em em resolver. Quando questionamos o coordenador, ele disse que estava fazendo diagnóstico da situação e falou “entrei aqui em outubro e ainda não tive tempo suficiente para descobrir porque os professores saem” — relata outra jovem.

A estudante diz que o curso de medicina abriu recentemente em Mafra e a primeira turma se formará neste ano. Atualmente, cerca de 50 alunos — que estudam em semestres diferentes —, estão matriculados no curso e, portanto, sofrem com a situação.

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Alguns, inclusive, desse e de outros cursos, tiveram de trancar a faculdade, segundo ela.

— A universidade é uma das maiores da região, tem em outras cidades também, tecnicamente não teria fins lucrativos, tem interface social, tanto que atendemos em laboratórios públicos, então tem esse trabalho filantrópico. No entanto, pagamos a mensalidade mais cara do Estado. Não temos um canal de transparência expondo o destino dos recursos e não vemos o retorno, nem em estrutura, muito menos em corpo docente. Os professores que estão resistindo só o fazem por muito amor à profissão mesmo — expõe.

Cartazes com reivindicações foram pendurados no portão da universidade (Foto: Arquivo pessoal)

Alunos deixaram famílias e empregos para estudar

Uma das jovens que conversou com A Notícia diz que muitos dos que estudam na Universidade do Contestado são de outros Estados e até de fora do país, por isso o caso se torna ainda mais complicado. Por causa da carga horária, inclusive, muitos não conseguem trabalhar e dependem da ajuda financeira de terceiros.

Leila*, 40, saiu de Tubarão, deixou os dois filhos, de sete e 14, e o emprego de enfermagem para realizar o sonho de cursar medicina. Ela conta com a ajuda dos pais, que são de idade, para arcar com as despesas da faculdade. Ela vive em Mafra desde 2021.

— Pra mim é muito difícil estar aqui, porque eu tenho pais idosos e são eles que estão pagando a minha universidade. Eles trabalham, em média, de 15 a 18 horas por dia, em quatro empregos, pra eu poder estar aqui. Então, não é fácil pra gente pagar essa mensalidade de R$ 12 mil por mês, além de aluguel e além de alimentação — reclama.

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Solange*, 27, é natural de Joinville e, mesmo que a cidade seja próxima da região do Planalto Norte, conta que também precisou deixar o emprego antigo para se dedicar aos estudos.

Com a carga horária atual de 600 horas/aula do semestre, explica que, fora do horário de aula, ainda precisa se dedicar aos estudos durante à noite e, por isso, também não consegue trabalhar e depende da ajuda de custo de familiares.

— É uma cidade nova, tudo novo, pagando um absurdo, rios de dinheiro e não ver um retorno. E tem outros gastos, porque o custo de vida não é barato, o aluguel custa em média R$ 2 mil, além das despesas do dia a dia. É muito frustrante — desabafa.

O AN tentou contato, via telefone, com a universidade, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.

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Alunos foram ao Procon

Em dezembro do ano passado, após diversas tentativas de diálogo com as coordenações dos cursos, os alunos foram ao Procon de Mafra e registraram a denúncia.

Por meio de nota, a diretora do Procon de Mafra, Alessandra Boege, afirma que recebeu mais de 30 reclamações desde novembro de 2022. As manifestações foram feitas pelos cursos de Direito, Psicologia e Medicina. 

Ao todo, alguns consumidores registraram reclamações e outros optaram por ações judiciais individuais. Conforme o órgão, se tratam da falta de funcionalidade do “Portal do Aluno”, financeiro, aulas à distância sem previsão na grade, cobrança de multa e juros abusivos, edital com prazos reduzidos e exigências que colocam o consumidor em desvantagem exagerada.

O Procon ressalta que enviou uma denúncia para o Ministério Público em 6 de dezembro de 2022 sobre cobrança de taxas e juros abusivos de boletos atrasados.

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Agora, por se tratar de uma instituição privada, o caso está com o Ministério Público Federal.

*Foram usados nomes fictícios para preservar a identidade dos alunos.

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