Os números são positivos e trazem alento em relação a um dado que preocupa Santa Catarina cada vez mais: os registros de violência doméstica caíram 29% no Estado entre fevereiro e abril, e os feminicídios de 24 para 19 na comparação entre os primeiros quatro meses de 2019 e 2020. No entanto, os resultados podem apenas disfarçar agressões que continuam ocorrendo nos lares catarinenses, mas abafadas pelo isolamento social durante a pandemia do coronavírus.

Continua depois da publicidade

O alerta é feito desde março pela coordenadora Estadual das Delegacias de Proteção à Criança ao Adolescentes à Mulher e ao Idoso (DPCAMI), delegada Patrícia Zimmermann D'Avila. Ela comemora a redução real nos casos de feminicídio, mas pondera o cenário das denúncias de violência doméstica:

– Podemos estar em um cenário de subnotificação, de volta naquele papel de submissão do feminino ao masculino, da mulher voltando a cuidar da casa. Tivemos uma redução grande de feminicídios, o que alivia um pouco a tensão que a gente está, mas quando essa pandemia acabar é que vamos ter uma dimensão exata do que aconteceu dentro de casa.

A redução tem sido notada em quase todas as regiões de Santa Catarina, mas com a dúvida sobre a subnotificação em aberto. Na região Norte do Estado, a delegada Georgia Bastos, da DPCAMI de Joinville, cita um aumento nas denúncias através da Delegacia Virtual da Polícia Civil, que hoje representam quase a metade dos boletins de ocorrência sobre violência doméstica.

– Houve diminuição de casos em Joinville, mas isso não quer dizer que diminuiu a violência doméstica. O que ocorre é que o isolamento social, a falta de transporte, a falta de acesso à internet e a presença do homem em casa dificultam a denúncia – analisa.

Continua depois da publicidade

Polícia reforçou atuação e prioriza casos urgentes

A Polícia Civil tem aumentado a divulgação sobre canais de denúncia que a mulher pode utilizar em sair de casa, como a Delegacia Virtual, os telefones 100 e 181 ou até o número de WhatsApp (48 9 8844 0011). A delegada Patrícia Zimmermann explica que as DPCAMIs estão dando prioridade aos inquéritos graves e continuam fazendo os pedidos de medidas protetivas. As delegacias funcionam normalmente e policiais fazem o acompanhamento por telefone com as mulheres que têm medidas de proteção ativas.

Há uma preocupação também em manter a segurança das mulheres vítimas de agressão dentro da própria casa. Por isso a Polícia Civil mantém o foco nos pedidos de prisão preventiva dos agressores, retirando eles de casa ao invés da mulher. Quando não é possível, abrigos continuam recebendo as vítimas durante a pandemia.

– Nossa preocupação é flexibilizar os canais de acesso, as formas de comunicação com as vítimas, com os terceiros que podem denunciar também, para a polícia prestar o atendimento mais sério possível e com atenção máxima na proteção das mulheres para que a violência não se agrave, porque o agravamento pode acabar em feminicídio. O recado para essas mulheres que estão em casa, vítimas de agressão, é que elas não estão sozinhas. E para o homem agressor, que nós vamos chegar nele – finaliza a delegada Patrícia.

Denuncias violência doméstica
(Foto: Arte NSC)