Faz mais de 400 dias que Pedro Henrique, cinco anos, aguenta sem grandes queixas uma rotina de picadas de agulha e medicamentos que podem lhe tirar o humor, a força e os cabelos. Desde que foi diagnosticado com leucemia, em outubro de 2014, as internações têm sido frequentes. Devido à baixa imunidade, qualquer gripe vira motivo para mais uma jornada no hospital. E lá vai ele, com os brinquedos na mochila. Sem reclamar de nada disso.

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Quer dizer, de quase nada. Tem um, e único, motivo capaz de tirar os poderes do Menino-Aranha (apelido que ganhou por sempre estar com camiseta e bonecos do Homem-Aranha). É a falta de seu maior super-herói: o irmão gêmeo, João Vitor. Foi o que aconteceu na metade do ano passado, quando Pedro pegou catapora e teve de ficar 21 dias longe do mano. No hospital, os remédios não davam conta e a febre persistia.

– Tem cara de saudade – julgou uma enfermeira.

Possivelmente era, acredita a mãe, Viviane Azeredo da Cunha. Três semanas podem até não ser lá tanta coisa – mas se tornaram uma eternidade para eles, que não se desgrudavam desde que eram vizinhos na barriga da mãe. Não é à toa que a relação dos dois encanta gente que Pedro e João nem sabem que existe – mas que os acompanham pelas fotos e textos que Viviane posta no grupo “Pedro Henrique”. A página no Facebook reúne mais de 5,5 mil membros, que não poupam likes e comentários a cada momento compartilhado.

– Esses manos são exemplos de companheirismo para muitas pessoas – disse uma seguidora.

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– Assim que tudo se acalmar, quero abraçar todos vocês que me ensinaram qual o verdadeiro sentido da vida e me fizeram acreditar mais ainda que temos amigos, que não estamos sós – completou outra.

Veio cedo a primeira prova de que, no que depender do irmão, Pedro sempre terá companhia: ao ver o irmão careca em função da quimioterapia, João logo tratou de ficar ainda mais parecido com ele. Com quatro anos, pediu para raspar a cabeça. E não faltaram exemplos seguintes.

– No início do tratamento, quando Pedro ficou 55 dias no hospital, João contava os dias para visitá-lo. Ele tinha noção de que o irmão estava dodói. Mas eu não sabia como seria a relação dos dois quando Pedro voltasse para casa. Eu pensava: como vou explicar para uma criança que o mano não pode mais fazer o que fazia antes? E eu deveria privar o João porque o Pedro não pode? Ou explicar para o Pedro que ele não podia, mas o João sim? – lembra Viviane.

Hoje, ela se sente uma “boba” por ter se questionado tanto. Não precisou muito tempo para que a mãe percebesse que, sem que fosse necessário dizer muita coisa, ocorreria o seguinte: se Pedro não pode pegar sol, não pode ter contato com grama e bicho, não pode estar com muitas pessoas por perto e, por isso, não pode mais ir a festinhas infantis… tudo bem! Pedro sabe direitinho das suas privações. E, se o irmão não pode fazer determinada coisa, tal coisa passa a ser totalmente desinteressante para João. E a parceria vai além.

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– Quando cai um brinquedo na grama, João diz para Pedro: deixa que eu pego para você. Quando a cachorra se aproxima, João explica para ela que não pode ficar perto do Pedro. E quando Pedro vai para o sol, João dedura: “mãe, o Pedro está no sol!”. Eles agem muito naturalmente. Se estão juntos, não importa se não estão no sol, se não tem piscina. O João se contenta por estar com o Pedro onde o Pedro estiver – exemplifica a mãe.

Cumplicidade que anda lado a lado da imunidade

Por isso, ainda que caindo de sono, João ocupa a cadeirinha do banco de trás do carro, ao lado do irmão, e segue até a sessão de quimioterapia com ele. De Viamão, onde moram, a Porto Alegre, onde é feito o tratamento, os gêmeos vêm no maior cochilo. E na hora da picada, antes mesmo de Pedro chorar, João estende a mão – ele acha que é um super-herói transmitindo superpoderes. E não deixar de ser.

– Um tratamento não se faz só de remédios. O bem-estar também é fundamental para a saúde. Então, ter alguém que faça com que o paciente fique feliz o maior tempo possível ajuda muito a imunidade. No caso dos dois, a afinidade é contagiante. Desde a gestação, eles dividiram tudo até hoje. Não seria diferente nos momentos difíceis – afirma Jiseh Loss, oncologista de Pedro.

Em junho passado, os gêmeos brindaram com latinhas de refrigerante, ainda no estacionamento do hospital, o fim dos cinco primeiros e intensos meses de tratamento. Exames nos dias seguintes coroaram a vitória: não havia mais células malignas no sangue do Menino-Aranha. Agora, para garantir a cura, as quimioterapias seguem, mas têm prazo para acabar: cerca de um ano e meio. Eterna é a companhia de João.

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16 de janeiro de 2015

“Curtindo o Mano para a saudade não ser demais… vamos entrar em uma nova fase do tratamento, que tem que internar, ficar uma semana em casa e outra no hospital. Vai internar segunda-feira e, se tudo ocorrer conforme o previsto, dura em média dois meses essa fase. Mas ele está bem, está correspondendo bem ao tratamento. Tudo faz parte e o importante é que estamos no caminho certo, com muita fé em Deus que tudo vai dar certo.”

18 de janeiro de 2015

“E o mano quis ficar carequinha também. Lindos”

3 de fevereiro de 2015

“Já em casa aos cuidados do mano. Ocorreu tudo bem, está um pouco enjoado, mas já medicado”

17 de fevereiro de 2015

“E a internação se prolongou por mais alguns dias. O Pedro baixou para a quimioterapia, mas começou a apresentar febre desde sábado à noite. Hoje o mano veio passar a tarde novamente com ele, passou na Capela para pedir para o papai do céu cuidar do mano e depois foi passar no leão pedindo mais coragem. Depois tiveram uma tarde muito divertida juntos. Apesar da febre, o Pedro se mantém firme. Vamos rezar para a febre ir embora, e logo poder voltar pra casa”

5 de junho de 2015

“E como os dias bons sempre chegam… Última picadinha, fase concluída com direito a tim-tim para comemorar. Segunda tem exames e consulta, aí vamos confirmar, mas já estamos entrando na manutenção, que é bem longa, mas as quimioterapias são menos frequentes. Da fase pesada já estamos nos despedindo com a graça de Deus e um alívio no coração. Ainda temos que manter todos os cuidados de sempre. A luta continua, mas chegar até aqui já é uma grande vitória e temos q agradecer. Obrigada Deus por nos amparar, cuidar do meu pequeno e lhe manter forte sempre. E a vocês, amigos e familiares, obrigada por todas as orações, pensamentos positivos e a toda ajuda que nos deram até aqui. Vamos seguir a caminhada até a cura juntos e vamos comemorar juntos também. O dia lá fora chora de alegria, e eu também”

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3 de agosto de 2015

“Hora do banho. Bem mais divertido com a companhia do mano. O Pedro está bem. Sábado estava bem amoladinho, mas domingo já acordou bem melhor, cheio de energia. Hoje bem cedinho têm exames, e consulta à tarde. E assim seguimos… rumo à cura. Uma boa noite a todos”

30 de dezembro de 2015

“E hj é dia de mais um pouquinho de cura e de muita alegria pois o mano Joao Vitor veio acompanhar”