As faculdades estão aí para formar pesquisadores e profissionais com vontade e capacidade de mudar o mundo – mas quem disse que é preciso ter o diploma em mãos para colocar um projeto em prática? Mesmo ainda absorvendo os conceitos das carreiras que desejam seguir, muitos estudantes universitários mostram que conhecimento e iniciativa, quando aliados, podem resultar em boas ideias. E nem é preciso esperar o final do curso para implementá-las.
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Quer ser cientista? O caminho pode começar ainda no Ensino Médio
Projetos inovadores podem vir de áreas tão variadas quanto Engenharia e Turismo. Todos têm em comum o desejo de aplicar novos conceitos no dia a dia das pessoas, aproveitando as lições aprendidas em sala de aula. Para chegar lá, há diversos caminhos: laboratórios da faculdade, oportunidades de iniciação científica, programas de professores, premiações de empresas. O desafio está em ter uma ideia e desenvolvê-la.
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Enquanto alguns chegam à graduação com um projeto pronto e decidem aprender mais sobre o assunto para aprimorá-lo, outros propõem ideias com a aproximação da necessidade de desenvolver um projeto de conclusão de curso. O estudante de Desenho Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Bruno Pergher acabou misturando os dois caminhos: fez da vontade de mudar a cidade uma criação para terminar a faculdade que rendeu frutos.
– Sempre gostei de design urbano, e queria um dia projetar mobiliário urbano de verdade. Criei um bebedouro público acessível a todos motivado pelo fato de que Santa Maria é bem precária nesse quesito. Queria solucionar essa necessidade da cidade e acho que deu certo – diz Bruno (confira abaixo).
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O estudante contou com o apoio de professores e da infraestrutura da universidade, mas iniciativa e execução ficaram por sua conta. É assim que surgem os projetos: misturando inspiração e suporte para se chegar a um produto tangível, de aplicação prática – capaz de mudar o mundo, quem sabe. A maior dificuldade, porém, está em ultrapassar os limites das empresas e universidades. É nessa etapa que estão os três jovens cujas ideias inovadoras envolvendo acessibilidade, inovação e sustentabilidade nós contamos aqui.

Bruno Pergher desenvolveu um bebedouro que pode ser usado também por pessoas com deficiência (Foto: Arquivo pessoal)
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Água ao alcance de todos
Do curso de Design para as ruas
A necessidade de desenvolver um projeto final para a graduação em Desenho Industrial veio ao encontro de um desejo antigo de Bruno Pergher, 22 anos: implementar um projeto útil a todos na cidade onde mora. Ele avalia que em Santa Maria – assim como em muitos outros municípios – faltam instalações públicas adequadas. Aliado a isso, há tempos ele nutria a vontade de contribuir para o mobiliário urbano com um desenho próprio. Então surgiu a ideia de criar um bebedouro público com diferentes funções, e o principal: que fosse acessível a toda a população.
Reunindo sua criatividade com o apoio dos professores da universidade, foi possível viabilizar a ideia original. O bebedouro foi concebido no formato de torneira, e contém compartimentos capazes de encher de copos pequenos a grandes garrafas. Mais importante, porém, é o foco dado às pessoas. Adequando a criação às exigências da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ele encontrou um meio termo em que qualquer usuário – incluindo pessoas com deficiência – poderia usar o sistema adequadamente.
– A ideia do bebedouro surgiu durante o trabalho de conclusão de curso, que envolveu entender as necessidades da população – diz o jovem, explicando que a proposta foi bem aceita. – A gente sempre tem o sonho de que aquilo possa ser realmente implementado na cidade, mas nunca imaginei que haveria tanto interesse.
A criação está agora na fase de “modelo funcional”, sendo testada enquanto aguarda o financiamento de empresas para viabilizá-la. O trajeto começou com projetos de pesquisa durante a faculdade, mas passou por muita vontade de fazer e incentivo de professores. Feito o projeto, foi a vez de inscrevê-lo em premiações – e levar alguns troféus para casa. Agora, a concepção feita dentro da academia está quase pronta para tomar as ruas.
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Suplemento sem gosto artificial
Nutrição para atletas exigentes
A partir de uma demanda pessoal, a nutricionista Adriane Rodriguez (no topo da página) criou um suplemento para esportistas que logo pode chegar ao mercado. Com um colega que também é atleta amador, ela buscou uma solução para quem tem dificuldade de consumir alguns produtos por não gostar de coisas artificiais. Assim surgiu a ideia de um suplemento com ingredientes naturais de baixo índice glicêmico.
Adriane aproveitou os laboratórios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) para desenvolver a ideia, e contou com o auxílio de professores que a guiaram na conclusão.
– Desenvolvi muitas coisas durante duas faculdades (Biologia e Nutrição) e um mestrado (em Biologia Celular e Molecular), que me possibilitaram ser diferente tanto como estudante quanto como profissional – garante Adriane.
O ímpeto da pesquisa é fruto da vontade de ir além. A criação não fez parte de compromissos acadêmicos, não foi feita por obrigação em alguma cadeira, mas acabou sendo refinada e direcionada ao longo do trabalho de conclusão de curso: uma iniciativa que teve reflexos na faculdade e na profissão.
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Adriane soube no final de novembro que uma empresa expressou o desejo de comprar a patente do projeto, que foi deixada no Escritório de Transferência de Tecnologia da PUCRS – uma espécie de “banco” de sugestões que funciona como anúncios de apartamentos em uma imobiliária. A possibilidade de venda da patente surpreendeu a nutricionista, que não ficou esperando a comercialização. Ela recomenda que, mesmo formados e com uma ideia que possa render, os estudantes nunca deixem de se especializar.

Carolina Stetner criou projeto de blocos de construção com areia reaproveitada (Foto: Arquivo pessoal)
Menos impacto ambiental nas obras
Engenharia a favor do ambiente
A ideia surgiu durante um trabalho na faculdade de Engenharia Ambiental: fazer blocos de vedação com o uso de areia de fundição para tornar a construção de prédios mais sustentável. Carolina Nucci Stetner, 28 anos, propôs o conceito junto a um colega da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São Paulo. Eles descobriram que a alternativa pode diminuir em mais de 30% os impactos ambientais de uma obra.
A areia de fundição, proveniente de fábricas onde se fundem metais, passa por um processo térmico em que são eliminados vestígios de metais corrosivos. Carolina garante que os blocos feitos com o material são idênticos aos convencionais em relação à resistência, porém reduzem a necessidade de extração de areia do ambiente em todo o processo.
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O objetivo agora é convencer a indústria da viabilidade do projeto e ampliar o uso dessa tecnologia limpa, inclusive em uma gama maior de artefatos.
– Provamos que o bloco é totalmente ecológico e econômico. Os próximos passos são difundir essa alternativa e esperar pelo início da comercialização – torce Carolina, aluna do nono semestre de Engenharia Ambiental.
A iniciativa partiu dela própria e contou com o apoio de colegas e do maquinário disponível na universidade, que abriu suas instalações para o projeto. Carolina contou também com a parceria de fábricas, e revela que o objetivo agora é abrir uma empresa para vender os blocos sustentáveis.
O projeto, desenvolvido para o 18º Encontro de Iniciação Científica, rendeu a ela o primeiro lugar no mais recente Prêmio Caixa, que teve como tema “Ciência para um Planeta Urbano”. A estudante quer ver sua criação posta em prática: empregá-la, garante Carolina, só traria benefícios.
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* Zero Hora