Depois que o Brasil deixou de ser o queridinho entre os emergentes, a presidente Dilma Rousseff ensaia uma reaproximação com empresários brasileiros e estrangeiros por um longo caminho.

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Neste ano, a presidente decidiu estrear como chefe de Estado no Fórum Econômico Mundial realizado na próxima semana em Davos, na Suíça.

Um dos trunfos que Dilma leva à estação de esqui onde se reúnem líderes da economia mundial é a elevação na taxa de juro decidida na quarta-feira pelo Banco Central (BC). Na avaliação do governo, a elevação da Selic para 10,5% ao ano poderia funcionar como gesto econômico poderoso para dar sinais ao mercado financeiro de que o objetivo de reduzir a alta de preços é “crucial”. O gesto seria também político, já que o governo busca, de todas as formas, recuperar a credibilidade arranhada dentro e fora do país com sucessivas manobras contábeis para fechar as contas nos últimos dois anos.

Com a nova Selic em 10,5%, Dilma inicia o ano em que busca sua reeleição com uma taxa básica de juro muito próxima daquela que vigorava quando recebeu a faixa presidencial, em janeiro de 2011, então em 10,75% ao ano. Nos últimos três anos, a presidente fez da redução do juro uma de suas principais bandeiras. Diante da desconfiança em relação à política fiscal, a própria equipe econômica passou a encarar a política monetária como principal – para não dizer a “única” – arma para combater o avanço dos preços no ano eleitoral que começa.

Esta é a primeira vez em que Dilma aceita o convite da organização do fórum e terá uma sessão especial dedicada a ela: vai se pronunciar na próxima sexta-feira, dia 24, diante de centenas de empresários. A presidente havia recusado participar do evento em diversas ocasiões, apesar dos repetidos convites.

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Neste ano, a confirmação da viagem ocorreu apenas no último momento. A presidente levará com ela uma das maiores delegações, com oito participantes, entre os quais os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. O ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, participará de um debate sobre “guerra cibernética” com um senador dos EUA, no momento em que o escândalo das escutas telefônicas ganha novos capítulos. Apenas as delegações de Índia, Nigéria, Reino Unido e EUA terão em Davos mais representantes do que o Brasil.

Brasil enfrenta uma “crise de meia idade”

Na visão da organização do encontro, o Brasil vive uma “crise da meia-idade”, um período de incertezas, com baixo crescimento econômico, inflação resistente e baixa credibilidade fiscal causada por manobras contábeis.

O interesse do empresariado mundial, portanto, é justamente saber o que Dilma prepara para este ano e eventualmente para um segundo mandato para superar essa situação. Na apresentação do programa do fórum, o freio no crescimento dos emergentes é um dos principais temas.

– A presença da presidente é um grande sinal da confiança que ela tem na comunidade empresarial – afirmou Klaus Schwab, fundador do fórum de Davos.

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Serviço

Quando: de 22 a 25 de janeiro

Quem: são esperadas cerca de 2,5 mil pessoas, incluindo em torno de 40 chefes de governo ou de Estado, 1,5 mil líderes empresariais e outras autoridades

Chefes de Estado ou de governo que irão discursar no evento

Dilma Rousseff, David Cameron (Reino Unido), Enrico Letta (Itália), Enrique Peña Nieto (México), Shinzo Abe (Japão), Park Geun-Hye (Coreia do Sul) e Tony Abbott (Austrália)

Quem tem poder para influenciar a economia estará presente

Christine Lagarde, diretora-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), Jacob Lew, secretário do Tesouro dos EUA, Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, Mark J. Carney, presidente do Banco da Inglaterra, e Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC)

Na agenda

O tema principal é O redesenho do mundo: consequências para sociedade, política e negócios

Inovação disruptiva

Como pessoas, organizações, indústrias e instituições podem tornar as descobertas científicas e as inovações tecnológicas em oportunidades de longo prazo.

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Crescimento inclusivo

Que modelos de negócios, setores, indústrias poderão gerar expansão igualitária em meio a maior desigualdade.

Novas expectativas

Os passos para orientar os negócios a longo prazo, tornar os governos mais transparentes e reforçar a participação cívica num mundo com ampla erosão na confiança em líderes de governo e de empresas.

Um mundo de 9 bilhões

Países e a própria economia global tem o desafio de buscar um caminho mais sustentável de desenvolvimento num mundo em que milhões de pessoas estão mais ricas e saudáveis e vivendo por mais tempo.

Outros temas

Crise nos orçamentos das economias desenvolvidas, freio no crescimento econômico dos países emergentes (como Brasil, México, Índia, Rússia e China), futuro do Oriente Médio e do norte da África, desafio do desemprego entre jovens e futuro da saúde e dos cuidados médicos também serão objeto de debate no encontro de Davos, na Suíça.

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