A dificuldade em garantir valorização do fumo para a safra 2010/2011 tem levado produtores no Extremo Sul do Estado a procurar atividades econômicas alternativas.
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Hortifrutigranjeiros, avicultura e até o gado leiteiro aparecem como apostas paralelas à monocultura da planta.
Em Timbé do Sul, a equipe técnica da Secretaria de Agricultura estruturou grupos de produtores para mudar a rotina no campo. Há um ano a ideia é testada no município. De acordo com o técnico agropecuário Giovani Dassi, diante das dificuldades para produzir e comercializar nos últimos anos, a tradição de Timbé do Sul pode entrar em “decadência” e a alternativa no gado pode representar melhora de vida dos moradores do campo.
– Pelas características das propriedades, a família é a mão de obra e o tamanho das lavouras gira em torno de 12 hectares. Nas últimas safras, tiveram a área de plantio reduzida e podem dar lugar ao pasto perene – explica Dassi.
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A intenção da prefeitura não é acabar com a atividade fumageira, mas dar a oportunidade às famílias de ver o que é mais interessante e rentável, esclarece o técnico agropecuário. Com o fumo, a renda anual varia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. Com o leite, haverá um rendimento de R$ 10,8 mil por ano.
Por enquanto, das 600 famílias fumicultoras, apenas nove desenvolvem a atividade paralela. O volume ainda é pouco, considera o veterinário Gilmar Michels, mas esses produtores têm para onde direcionar o produto. Uma empresa de lacticínios em Sombrio compra a produção de leite para a fabricação de queijos.
– A capacidade industrial dessa empresa é de 10 mil litros ao dia, mas por enquanto consegue apenas quatro mil ao dia. Por enquanto, a capacidade dos produtores de Timbé do Sul é de 18 mil litros ao mês. Ou seja, temos um nicho pedindo para ser explorado – constata Michels.
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Há 20 dias, o casal Nilton, 58 anos, e Fátima Anelli, 48, fez um financiamento de R$ 34 mil para a compra de 15 vacas jersey, resfriador com capacidade para 800 litros, ordenhadeira e a construção de uma sala de ordenha. Nilton, que cultivava fumo desde os 14 anos, há dois largou a atividade e agora aposta nos animais.
Para Nilton Anelli, a grande diferença é a mão de obra e três horas de trabalho por dia. Os 70 mil pés em quatro hectares que plantavam virou pasto e capim que se refazem o ano todo e o custo de manutenção mais barato.
– Tivemos que aprender a lidar com essa tecnologia e estamos indo bem. O custo mais alto até agora é a energia elétrica. Se há 20 anos o gado leiteiro tivesse sido apresentado dessa forma não estaríamos com dívidas e nem tão velhos – ressalta Fátima.
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Área plantada pode ficar 30% menor
Para o coordenador técnico da filial da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) em Araranguá, Guido Ripplinger, a ideia de substituição “ganha corpo” em razão da má situação da fumicultura quanto à qualidade e valorização das folhas. A seca entre os meses de julho e setembro afetou o desenvolvimento da planta.
– Ganhamos em tonelagem e perdemos em qualidade. Na região temos 35% de fumo escuro, que é de preço baixo, e 65% de claro, que são mais valorizados, mas as empresas estão menos tolerantes com esse tipo de fumo, o que tem gerado revolta dos fumicultores.
A expectativa é de que não se revejam as negociações de preço do fumo. Em 2010, a média do quilo do fumo foi de R$ 6,30. Este ano, apesar do quilo do fumo top ser de R$ 7 e ter variações abaixo de R$ 2, a média deve ser de R$ 4,80, estima o coordenador técnico.
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No que depender dos agricultores, explica o coordenador, a próxima safra poderá ter uma redução de área plantada de 30%. Ou seja, dos 20 mil hectares plantados em 2010/2011 pode chegar a até 15 mil hectares na safra 2011/2012. A diminuição não preocupa a Afubra, afirma Ripplinger, mas representa muito para o setor fumageiro porque poderia ocasionar a falta do produto, que hoje tem de sobra, e provocar a readequação do setor.