Desde que passou a ser um dos principais técnicos do país, Muricy Ramalho convive com a fama de ser avesso a jogadores das categorias base. No entanto, no Santos, um dos maiores formadores de craques do Brasil, ele está tendo de colocar em prática seu lado educador.
Continua depois da publicidade
O meia Felipe Anderson, de 19 anos, e o atacante Victor Andrade, de 17, formados no Peixe, são os principais alunos e o técnico praticamente os adotou. A relação externou métodos rígidos, acentuados a cada escorregão dos educandos. O argentino Patito, de 22 anos, também entra na lista.
Nenhum teve de ajoelhar no milho ou apanhar de palmatória, como nas escolas conservadoras do passado, mas a cobrança é constante. Os castigos também.
Felipe Anderson foi o primeiro. Insatisfeito com as atuações do prodígio meia, Muricy cansou de esbravejar publicamente e ameaçou desistir do jogador. Cobrou mais atenção, disse que não poderia ser eterna promessa, mas seguiu dandos chances. A medida surtiu certo efeito positivo.
O meia melhorou, se destacou em alguns jogos e hoje é titular do time, sobretudo após a saída de Paulo Henrique Ganso.
Continua depois da publicidade
– Tem muito o que aprender, mas é um menino de ouro – disse Muricy.
Com Victor o buraco foi mais embaixo. O técnico condenou o que chamou de “marra” do atacante após alguns jogos no profissional e chegou a rebaixá-lo para a equipe sub-20. Houve entrevero com o estafe do atleta.
Já após o último jogo, Muricy, que diz não gostar de falar individualmente de jogador, relembrou as derrapadas e disse que queria ser um “paizão” na carreira dele.
– Quero que ele aprenda muito comigo, trouxe para perto de mim por isso e lá na frente quero olhar e ver que ele evoluiu muito comigo – afirmou o comandante.
No clube, há quem diga que Muricy quer ser visto como o formador dos garotos. Veem também necessidade, já que o clube se desfez de jogadores de nome e está refém de Neymar. Diferente dos grandes elencos montados para o técnico em seus últimos clubes. Seja o que for, é cada vez mais vísivel o lado professor de Muricy. Eficiente ou não.
Continua depois da publicidade
O perfil dos “alunos”:
Victor Andrade
É do tipo que abusa da autoconfiança e, às vezes, deixa de fazer algumas lições.
– Tem de ser mais humilde – orienta Muricy.
Patito
É da turma do fundão. Tem de obedecer mais.
– Se Neymar cai na esquerda, ele não pode ficar ali – ensina o professor.
Felipe Anderson
Dedicado, mas se desconcentra fácil.
– Tem de dar uma pancada para ele não ficar dormindo – diz o mestre Muricy.
Muricy e os garotos em outros clubes:
São Paulo – Ficou no clube de 2006 até 2009 e conquistou o tri do Brasileiro. Mesmo assim, viveu momentos ruins, nos quais a maior crítica estava relacionada ao “esquecimento” da base. O técnico, porém, lançou o zagueiro Breno e foi o primeiro a usar Oscar. Por outro lado, deu poucas chances a Sérgio Motta, promessa que nunca emplacou.
Palmeiras – Chegou no segundo semestre de 2009 e saiu no início de 2010. Nem teve tempo de lapidar alguma joia e apostava em um time cheio de medalhões, como Vagner Love e Diego Souza. O treinador ainda deu chance a alguns jovens, como o zagueiro Gualberto e o meia-atacante Joãozinho, mas nenhum deles vingou. A base do clube era criticada à época.
Fluminense – Campeão brasileiro em 2010 sem lançar jogadores. Em 2011, Wellington e Matheus foram promovidos, mas Muricy logo saiu. Wellington foi emprestado ao Figueirense, voltou, e hoje é conhecido como Wellington Nem, cogitado até para a Seleção. Já Matheus agora é chamado de Matheus Carvalho e faz parte do elenco tricolor.