A disparada do dólar está fazendo muita gente que vai ou pensa em ir para o exterior repensar os planos de viagem. Quem já está com as malas prontas recorre à calculadora para conferir se o dinheiro guardado será suficiente para cobrir as despesas programadas. Se as contas não fecham, o jeito é adaptar o roteiro à realidade cambial.

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– Os que já compraram passagem não vão deixar de viajar, mas serão mais comedidos com os gastos lá fora – avalia Gilmar Villain, sócio-proprietário da TW Viagens e Turismo.

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É o caso da comerciante Karina Roncaglio, de 24 anos, que embarca para os Estados Unidos em novembro. O passeio, inicialmente, previa compras e visita aos parques da Disney. Com a moeda americana nas alturas, porém, ela diz que terá de optar entre um ou outro.

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No início de janeiro, o fotógrafo Thiago Tribess, de 27 anos, começou a planejar uma viagem para Nova York. Ele chegou a encontrar bons preços de passagens aéreas, mas como não comprou dólares com antecedência os custos, agora, ficaram inviáveis.

– Fiz as contas e vi que não valia a pena – explica.

Para quem está decidido a conhecer novos ares, mas nem um pouco disposto a encarar as despesas inflacionadas por causa da valorização da moeda americana, mudar o destino final pode ser uma boa saída para não deixar a vontade de viajar de lado. Cristine Nort Viel, sócia-gerente da empresa Erns Tur, lembra que as companhias aéreas e a rede hoteleira estão com bons preços de pacotes domésticos, principalmente para regiões como o Nordeste.

Se o desejo é sair do Brasil, uma alternativa mais econômica são países menos badalados. Sarah Reinert, que trabalha na área de marketing de uma empresa, também pretendia ir aos Estados Unidos, mas mudou de ideia diante do atual cenário do câmbio.

– Como eu pensava em fazer compras, não seria interessante ir para lá com essa finalidade agora – conta.

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Depois de realizar pesquisas de preços, Sarah optou por viajar para o Peru, país que sempre teve vontade de conhecer. Por lá, ela estima que vai gastar metade do que desembolsaria nos Estados Unidos.

Reflexo em missões empresariais

A alta do dólar não está afetando apenas os planos de viagens dos turistas, mas também das empresas. Sueli Bonnati Buhatem é proprietária da Primeiro Mundo Viagens, agência de turismo que trabalha com pacotes para feiras e missões empresariais no exterior. Ela revela que, em função da elevação da cotação da moeda americana, muitas companhias estão cortando a ida para eventos fora do país. E o cenário não deve mudar no ano que vem.

– Não tenho muita perspectiva para 2016 – conta.

Desconfiança e crise elevam a cotação

No dia 6 de agosto do ano passado, o dólar comercial estava cotado a R$ 2,27. Desde então, a moeda americana avançou 55,5% – ontem, fechou a R$ 3,53. O preço do dólar turismo acompanhou o mesmo ritmo nesse período, subindo de R$ 2,39 para R$ 3,73 – mas algumas casas de câmbio estão cobrando até R$ 3,97. É esse valor que o turista precisa desembolsar para comprar cada dólar.

A equação que determina a cotação da moeda americana envolve diferentes variáveis. Raphael Figueredo, analista de mercado da Clear Corretora de Valores, atribui a escalada do dólar a dois fatores. O primeiro é o cenário doméstico. A instabilidade financeira e a crise política que arranha a imagem do governo criam, segundo ele, um clima de incertezas no mercado.

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O segundo fator vem dos Estados Unidos. A disposição do governo americano em subir as taxas de juros sugere o aumento da cotação por aqui. Por conta disso, o dólar tende a subir, inclusive, em escala global – afetando outras moedas, como o euro e a libra, que também ficam mais caros. Juros mais altos nos EUA acabam atraindo para lá recursos atualmente aplicados em outros mercados, como o Brasil.

Em resumo, o dólar é visto pelos investidores como uma reserva de valor e aplicação segura em períodos de instabilidade. Nesses momentos, a busca por proteção cresce, o que eleva a cotação da moeda americana. Essa situação não deve continuar por um bom tempo.

– Essa escalada não deve parar tão cedo – aposta Figueredo.

Entenda a diferença

Dólar comercial: câmbio oficial. É o preço-base da moeda oficializado pelo Banco Central que serve de referência para os negócios entre o Brasil e o exterior e vice-versa.

Dólar turismo: câmbio praticado para as viagens internacionais. É negociado pelas casas de câmbio, que têm como referência o dólar comercial, porém com o acréscimo de um spread – diferença entre o câmbio oficial versus o que é praticado nas casas de câmbio. Por isso a cotação é maior.

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Fonte: Raphael Figueredo, analista de mercado da Clear Corretora de Valores