Depois de amargar anos de retração das vendas para o exterior – desde 2009 a balança comercial tem saldo negativo em Santa Catarina -, o novo patamar do dólar pode representar oportunidades para a indústria exportadora no Estado. Com a cotação da moeda norte-americana em alta e chegando a superar a faixa de R$ 3,20, empresas com negócios no exterior têm chance de multiplicar o faturamento e a rentabilidade das vendas.

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O setor de carnes representa uma das faces mais positivas desse novo cenário. Ganha vantagem porque tem dependência menor de matéria-prima importada. O Estado responde por 35% das exportações de suínos do país e 23,7% das exportações de frango. E como os contratos de venda são em moeda americana, a valorização significa mais reais em caixa. A receita externa de suínos foi de US$ 548 milhões no ano passado. Nas vendas de frango, o resultado foi quase o dobro disso.

– O reflexo é positivo para as indústrias porque melhora a rentabilidade e a expectativa é que isso ajude a recuperar o preço para o produtor – afirma o presidente da Associação Catarinense dos Suinocultores, Losivânio de Lorenzi.

Alternativa ao mercado interno

Para o polo metalmecânico do Estado – que tem três empresas entre as maiores exportadoras catarinenses neste ano -, as vendas para o exterior são uma alternativa para driblar o cenário pouco aquecido no mercado interno. No primeiro bimestre de 2015, os embarques catarinenses chegaram a U$ 1,08 bilhão.

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– As exportações representam 40% das vendas do setor. Com o dólar alto, somos mais competitivos para o exterior, e isso ajuda neste momento de queda no consumo no Brasil – diz Célio Bayer, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Mecânica e de Materiais Elétricos de Jaraguá do Sul e região.

A metalúrgica Tupy, de Joinville, exportou US$ 65 milhões no primeiro bimestre – a quarta empresa em volume de vendas em Santa Catarina no período. Do ponto de vista da receita, a alta do dólar representa um efeito positivo para o negócio.

Para a companhia, produtora de autopeças como blocos de motor, a variação no câmbio impacta o aumento de custos de materiais comprados em dólar. Mas, na forma como está estruturada, o efeito final é favorável. O primeiro bimestre do ano teve impacto positivo para a Tuper, de São Bento do Sul, no Planalto Norte catarinense.

A companhia, que tem foco em tubos de aço e também atua no setor automotivo, teve crescimento de 436% nas exportações – saltou de US$ 1,9 milhão para US$ 10,6 milhões no primeiro bimestre deste ano. De acordo com a empresa, o incremento no volume exportado é reflexo da exploração de novos negócios no mercado externo na área de óleo e gás.

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Como essa nova linha tem uma capacidade de produção de cerca de 180 mil toneladas/ano e o mercado interno ainda não proporciona escala suficiente, o mercado externo tem sido uma forma de compensar esses volumes.

Aumento tem impacto negativo nas compras de matéria-prima

Com o real valorizado, grande parte das empresas buscou no exterior fornecedores de matéria-prima como uma estratégia para reduzir custos. Agora, com a mudança de cenário, a indústria sofre com o impacto negativo.

– É uma situação perversa. Por um lado, o dólar alto é positivo para a exportação, por outro, ele deixa o custo mais caro, já que embalagens e insumos têm preço que depende da cotação – diz Maria Teresa Bustamante, presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc.

O presidente da entidade, Glauco José Côrte, afirma que o impacto é grande para empresas que dependem de matéria-prima importada:

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– Dos cinco principais produtos importados pelo Estado, quatro são insumos para o setor industrial: polietileno, cobre refinado, laminados de ferro e aço, e fios de fibra.

Empresas que buscaram empréstimos no exterior, por conta dos juros mais baixos, também estão sendo prejudicadas com a alta do dólar. Empresários catarinenses, que antes reclamavam da sobrevalorização do real, hoje fazem o mesmo contra a desvalorização da moeda brasileira.

– A nossa moeda valia muito e agora vale pouco. O ideal seria que o dólar estivesse estabilizado entre R$ 2,80 e R$ 2,90. Seria bom para quem vende para o mercado local e para quem exporta – diz Glauco José Côrte.

Cotação deve se manter em alta

João Pedro Brügger Martins, consultor financeiro da Leme Investimentos, não descarta que a moeda norte-americana suba ainda mais até o final do ano:

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– O próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, falou recentemente que o Brasil deve começar uma recuperação para atrair investidores a partir do próximo ano. Mas esse processo é demorado.

Para o professor de economia João Rogério Sanson, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a atual situação econômica do Brasil é resquício do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos, ainda em 2008. Nos anos seguintes, países europeus sofreram com a crise, mas já estão em processo de recuperação.

– O Brasil incentivou o consumo nessa época e não sentiu tanto os efeitos da crise. Mas esse remédio se esgotou e não houve investimentos em infraestrutura para a produtividade da indústria crescer – explica o professor.

Setor têxtil mantém aposta na importação

Depois de anos de forte presença no mercado internacional, a indústria têxtil catarinense mudou de lado na balança e passou a aproveitar o dólar baixo para trazer matéria-prima importada. Algumas empresas chegam a importar até 60% da Ásia. Os valores são tão atrativos que mesmo com o dólar alto, ainda é mais vantajoso comprar fora.

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Uma camisa básica que, produzida em Santa Catarina custaria cerca de R$ 12, é comprada da China por R$ 4. Apesar disso, segundo Renato Valim, diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau e região (Sintex), o setor tem o objetivo de voltar a exportar:

– No caso das exportações têxteis, o ciclo de retomada é mais longo. Reconquistar mercado perdido é mais demorado do que conquistar mercado. O mundo mudou muito, e o Brasil, incluindo a indústria têxtil, gradativamente foi perdendo espaço no mercado mundial.

Na indústria cerâmica, as exportações que já representaram 37% das vendas do setor, em 2005, hoje são apenas 8%.

– A cerâmica é a parte final da construção, então ainda estamos produzindo para obras que começaram há dois ou três anos. Para evitar problemas futuros, precisamos pensar em opções – diz Otmar Muller, presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Criciúma e região.

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