Dois anos após o ataque na creche de Saudades, no Oeste de Santa Catarina, que deixou cinco pessoas mortas, as escolas da rede estadual aguardam o reforço na segurança que foi prometido pelo governo em 2021. O executivo tinha anunciado que colocaria vigilantes em mais de mil unidades e chegou a abrir licitação. Porém, a iniciativa nunca foi discutida com a categoria, que defende o retorno da figura do zelador, e não saiu do papel. As informações são do g1 SC.

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Quase dois anos da tragédia em Saudades, um novo ataque a creche ocorreu em Blumenau, no Vale do Itajaí, onde quatro crianças morreram. Com isso, a discussão sobre a contratação de guardas para as escolas volta à tona.

Como evitar novas tragédias como o ataque a creche de Blumenau

O processo de contratação chegou a ser aberto em 2021, porém, como não houve audiência pública, ele foi suspenso. Segundo a legislação federal, a reunião é necessária para tratar licitações acima de R$ 150 milhões. De acordo com o Portal de Compras do Estado, o serviço seria de R$ 18 milhões por mês durante dois anos.

Continua depois da publicidade

Em 30 de março, uma semana antes da tragédia em Blumenau, o governo estadual foi questionado sobre a contratação, que informou que “a licitação de vigilância humana está em andamento”. A pasta disse, ainda, que realiza estudos para novos processos e a necessidade de união de esforços entre as secretarias para o reforço da segurança.

O g1 voltou a questionar o governo na quarta-feira (5), no dia do ataque, mas não teve retorno até a publicação.

Na mesma nota, a Secretaria de Estado da Educação (SED) informou que escolas da rede estadual possuem cerca de 4 mil câmeras de vigilância no pátio e entrada que armazenam imagens por, no mínimo, 60 dias, além de sensores.

“Para reforçar ainda mais a segurança, a secretaria analisa um estudo técnico para ampliar esse monitoramento”, diz a nota.

Continua depois da publicidade

A pasta alegou, ainda, que o currículo escolar trabalha com competências e habilidades para ampliar o respeito e a empatia na sociedade. As coordenadorias regionais também recebem o apoio com psicólogos e assistentes sociais, que compõem o Núcleo de Prevenção às Violências Escolares (Nepre).

Sindicato cobra por melhorias

De acordo com o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte-SC), Evandro Accadrolli, é preciso fazer um debate sobre a violência feita por radicalizados contra escolas para “transformar o discurso de ódio em discurso de paz”.

Ele defende também que a segurança deve ser feita pela comunidade escolar e defendeu a volta da figura do zelador.

— Não acreditamos em portas giratórias que ficam impedindo a entrada de metal. Nesse caso, por exemplo, a pessoa pulou o muro. [Defendemos] um acompanhamento da polícia, da inteligência, para encontrar movimento nas redes sociais de grupos extremistas — afirma.

Continua depois da publicidade

Já para a fundadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Violências (NUVIC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ana Maria Borges de Sousa, a presença de vigilantes ou policiais nas escolas na lógica de “criar personagens que fazem a repressão” pode auxiliar no combate à violências, mas não é o suficiente. De acordo com ela, é necessário políticas públicas para incentivar uma cultura de direitos humanos e direito à vida.

— A gente precisa incentivar nas escolas, nas famílias nas instituições uma cultura de direitos humanos e de direito à vida. É preciso implementar uma gestão de cuidado com a vida — explica.

Dois ataques em dois anos

O ataque a creche em Blumenau é o segundo em quase dois anos em Santa Catarina. Em maio de 2021, um homem, que aguarda julgamento, matou duas professoras e três bebês em Saudades, no Oeste. As vítimas são:

  • Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos, era professora e dava aulas na unidade havia cerca de 10 anos
  • Mirla Renner, de 20 anos, era agente educacional na escola
  • Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses
  • Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses
  • Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses.

Continua depois da publicidade

Já em Blumenau, o crime ocorreu no início da manhã de quarta-feira (5) na creche Cantinho Bom Pastor. A unidade é particular e as vítimas têm entre 4 e 7 anos. Outras cinco crianças se feriram. As vítimas são:

  • Bernardo Cunha Machado – 5 anos
  • Bernardo Pabst da Cunha – 4 anos
  • Larissa Maia Toldo – 7 anos
  • Enzo Marchesin Barbosa – 4 anos

Por conta do ataque, a prefeitura de Blumenau anunciou que instalará 125 câmeras de segurança em todas as escolas e Centros de Educação Infantil (CEI) do município. O equipamento será conectado à Central de Controle Operacional (CCO). O executivo disse, ainda, que avalia o reforço de policiais militares nas escolas.

Já em Florianópolis, capital do Estado, a prefeitura anunciou que faz uma varreduras nas escolas municipais para melhorias de segurança nos ambientes. Além disso, uma linha direta entre comunidade escolar e forças de segurança está sendo criada.

Continua depois da publicidade

Leia também:

Psicóloga explica como lidar com traumas após ataque em creche de SC

Saudades presta solidariedade a Blumenau por ataque em creche: “Nosso coração está com vocês”

Única representante de SC em grupo que combate discurso de ódio defende regulação da internet