Ingrid queria ser mãe mesmo que a trombose rara que a acomete tornasse uma possível gravidez “catastrófica”, como descreveram os médicos. Queria ser mãe mesmo sem os R$ 35 mil que custavam uma fertilização. Queria ser mãe apesar dos comentários maldosos que recebeu questionando como criaria uma criança estando doente. Já Rosicléia queria ver a filha feliz, e a felicidade da família Carlsem ganhou o nome de Maria Clara. A bebê de oito meses e quatro dentes foi gerada pela barriga solidária da avó. Esse 8 de maio, em que será celebrado o Dia das Mães, será o primeiro em que esse trio de mulheres, que além do sobrenome compartilha o mesmo sorriso fácil, estará junto.
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A doença de Ingrid, a trombofilia, faz com que o organismo dela forme coágulos em maior quantidade e de maneira mais fácil que para os que não têm a condição. O problema lhe roubou a tranquilidade. Dos médicos, ela ouviu que não poderia gerar um filho de forma natural. Algumas mulheres com trombose até melhoram na gestação, disse um dos profissionais, mas para ela o risco era de morte.
Mas Ingrid nasceu para ser mãe, como ela faz questão de frisar. Rosicléia então ofereceu o corpo para que a filha pudesse realizar esse sonho. Foi o corpo inteiro e não só o útero, porque ela emprestou também a coluna e os pés para suportar o peso da barriga durante a gestação e os peitos para alimentar Maria nos primeiros meses de vida. Só o coração que não precisou de empréstimo. Esse, segundo ela, triplicou de tamanho.
— Eu só sinto gratidão. Faria tudo de novo se ela pedisse — conta a professora.
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Para que Rosicléia pudesse gerar a neta, a família da Tapera, no Sul da Ilha de Florianópolis, precisou mobilizar uma campanha solidária. O procedimento, que usou fertilização in vitro para gerar o embrião, custava mais de R$ 35 mil. As “arteiras”, como se definem mãe e filha, começaram a criar panos de pratos, artesanatos e fazer rifas.
— Cada R$ 1 mil que a gente conseguia era uma gritaria. Todo mundo ficava feliz e emocionado — diz a avó.

Família passou a viver em etapas
Por um período, os dias deixaram de ser a forma como a família via o tempo passar. O que valeu mesmo foram as etapas do tratamento até que Maria Clara enfim estivesse nos braços da avó e da mãe.
Primeira etapa: fertilização dos óvulos. Foram coletados 23 óvulos de Ingrid e apenas um vingou. Toda a esperança da gravidez foi depositada nele, mas a insegurança tomou conta da Musa Santa Catarina 2021
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— Esmoreci. Fiquei com medo, porque se não desse certo, eu não teria saúde e nem dinheiro para tentar de novo — conta Ingrid.
Segunda etapa: confirmação da gravidez. A família acostumada a comemorar, segurou o choro e o grito de alegria por 12 semanas, período considerado seguro para os médicos. Mas o tempo correu, em dias mesmo. Foram 20, 25, até completar as 37 semanas.
Maria Clara nasceu em 19 de agosto de 2021, uma quinta-feira. Media 49 centímetros e pesava 3,310 quilos. Foi do colo da avó para o da mãe, cena que se repete até hoje.
Sonho realizado
No sofá de casa, Rosicléia segura a neta no colo. Maria Clara, que há pouco tinha acordado de uma soneca matinal, está calma. A mãe, Ingrid, está ao lado, sorrindo para a filha. A bebê retribui com o olhar de atenção. Com as mãos, ela pede que a mãe se aproxime.
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Maria troca o colo da avó e vai para o da mãe. Debruçada sobre Ingrid, ela tateia o cabelo longo e encosta a cabeça nos ombros. Em poucos minutos, volta a dormir. O sono não é interrompido nem mesmo pelas risadas da conversa entre as parentes.
— Isso aqui é a melhor coisa do mundo — celebra Ingrid.