Abandonada desde 2015, quando o carvão ficou escasso e os trabalhadores pararam de receber salários, a Mina Verdinho tornou-se alvo fácil de furtos, depredação e violência após interdição em julho do ano passado. Com o embargo, os ex-funcionários também pararam de descer ao subsolo para drenar a água e vigiar os equipamentos. Hoje, grupos se revezam para pilhar máquinas, motores, sucata e até madeira da empresa de Forquilhinha, no Sul do Estado.
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– Estamos tirando [sucata] para sobreviver. A gente trabalhava na mina, isso aqui é nosso. Eles [empresários] vão pagar. Os funcionários vieram aqui tirar também – justifica um dos homens que na quinta-feira passada retirava materiais do local afirmando ser um ex-empregado.
Nos primeiros meses após encerrar a atividade, a Carbonífera Criciúma, responsável pela área, contratava vigilância privada. O serviço durou alguns meses. Hoje, a mina recebe dezenas de pessoas diariamente, sem qualquer controle. Na estrada de terra que dá acesso ao local, caminhões carregados, reboques, motos e até bicicletas carregam o que podem.
Um sucateiro, que preferiu não se identificar, tem frequentado o local há pelo menos um mês. O quilo da sucata, que custa entre R$ 0,35 e R$ 0,40, segundo ele, rende cerca de R$ 2 mil por carga. Descontado o valor do aluguel do caminhão e do equipamento utilizado para retirar o ferro, chega a receber R$ 1,3 mil por dia. Ele reconhece que a prática é ilegal e teme represália de outras pessoas.
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– Também vim participar da sucata. Ninguém autorizou, a gente veio por causa do movimento. Está todo mundo tirando. Com certeza tem dono, mas ele fez alguma coisa para impedir? Deixou livre – justifica.
Ex-funcionários criticam sumiço de equipamentos
Parte do que está sendo furtado ou retirado foi dado como garantia na ação trabalhista de 240 ex-funcionários, demitidos em massa no final das operações da carbonífera. O sumiço do lavador de carvão e de outros equipamentos de grande porte, que chegam a valer cerca de R$ 30 milhões, é criticado pelos mineiros. Eles acusam os proprietários da mina de terem retirado o maquinário. Um dos sócios, Alfredo Gazzola, diz que o assunto é interno e prefere não comentar.
Porém, o advogado do empresário, Leonardo Bacha, confirmou que parte dos equipamentos está no pátio da nova sede da empresa, em Criciúma.
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– Muitos equipamentos foram transferidos para a nova sede, talvez esse lavador esteja na relação.
A empresa transferiu a sede e os sócios ficaram de depositários dos bens. Ainda tem máquinas no subsolo, na entrada da mina, mas só com mão de obra especializada para mexer – explica o advogado.
O passivo trabalhista da carbonífera no Ministério do Trabalho (MPT) é de R$ 16 milhões. O Sindicato dos Mineiros afirma que 780 ex-funcionários saíram sem receber.
A Justiça já bloqueou bens dos sócios da mina, mas, até o processo ser concluído, não é possível executar a venda dos itens para pagar a conta.
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Há trabalhadores que ainda estão fichados, mas não recebem desde outubro de 2015. Eles aguardam uma definição sobre o futuro da empresa.
Justiça do Trabalho pede bloqueio de novos bens
Em busca de mais recursos para os ex-funcionários, o juiz Erno Blume, titular da 4a Vara do Trabalho de Criciúma, determinou a inclusão no processo de uma nova empresa de José Luiz Freitas de Castro, Alfredo Gazzolla e Wolfgang Friedrich, sócios da Carbonífera Criciúma. O magistrado solicitou que esses bens também fossem alcançados pela ação movida pelos trabalhadores da mina, já que os sócios respondem como pessoa física no processo.
Ao juiz, Castro informou que o negócio de reflorestamento tem contrato com outra empresa, que vende lotes e terrenos. Ele disse que os lucros são divididos igualmente entre as duas partes. Com isso, a Justiça solicitou que esses valores fossem depositados em uma conta judicial. A decisão foi contestada pelos empresários por um mandado de segurança e aguarda sentença do Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina.
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