O clima no Iega, tradicional bar localizado na Carvoeira, em Florianópolis, era uma mistura de alegria e nostalgia no fim da tarde desta terça-feira. Depois de 31 anos de atividade, o terreno que ficou famoso reunindo universitários e nativos foi vendido para uma construtora e em breve vai dar lugar a um prédio.

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Lá dentro, no balcão, o proprietário João Adilson Martins, que administra o bar com o irmão “Nonô”, recebia abraços e cumprimentos dos clientes com um sorriso contido, um tanto emocionado e com os olhos cheios d’água.

– Estou sentindo um pouco de tristeza. Estamos aqui há 31 anos, mas nosso pai assumiu o ponto em 1975. Isso aqui virou uma família. A gente conseguiu construir uma amizade muito grande. Hoje estamos saindo, mas com o coração partido. Já teve muita choradeira – conta o empresário.

Não é exagero e nem uma emoção restrita aos donos do negócio. Velhos e novos amigos fizeram questão de se reunir para se despedir do bar, e teve até quem veio de longe para não perder a comemoração. O biólogo Eduardo Salies, por exemplo, veio de Salvador, na Bahia, só para dizer tchau ao bar que marcou sua vida universitária – ele veio estudar na Capital catarinense em 1986, mesmo ano que o Iega nasceu.

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– Semana passada, me ligaram falando que ia fechar. Depois de meia hora sentado, sem falar nada, pensei: eu vou. Aqui é diferente de outros bares. Teve essa coisa de mesclar o pessoal da comunidade com a universidade. E é boteco que, por mais que foi mudando a forma, sempre teve essa mesma característica, da sinergia do mané com os universitários. Você chegava aqui e sempre tinha um amigo sentado – relembra Eduardo, que chegou nesta terça pela manhã e já vai embora na quarta-feira.

Perto da mesa onde ele se reunia com os antigos amigos da biologia, senhores de cabelos brancos estavam bem animados ao lado de uma costela, que foi trazida especialmente para marcar a despedida. Seu Edgar Pereira frequenta o local há bem mais de três décadas, desde quando o terreno abrigava o armazém comandado pelo pai do João e do Nonô, o Casa Martins.

– Venho desde quando a estrada era de barro vermelho e não tinha nada desse puxadinho aqui. Tinha carvão, gás, leite. É uma perda para a cidade, porque é muito tradicional. Comida de boteco de primeira linha. Acho que é uma marca que vale muito, toda a cidade conhece – opina.

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Da nova geração de frequentadores, os amigos Rafael Vieira, Jonathan Sagaz e Bruno Scandolara, moradores do Saco dos Limões e da Costeira, todos com 24 anos, já falavam em abrir o próprio bar para suprir a carência que o Iega vai deixar.

– A gente vai ter que abrir um. A maioria dos bares é universitário e aqui é mais família, o pessoal que trabalha é mais amigo, é uma coisa tranquila. Esse é o bom daqui – diz Rafael.

Para Mário Henrique Vieira, que mora na Carvoeira há 20 anos e conhece os donos do bar desde criança, o Iega faz parte da rotina da família. Quando ele conheceu Josiani, hoje sua mulher, o namoro começou por lá. Hoje eles são pais de Lucas, de oito anos.

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– Hoje, quando eu falei para ele que ia fechar, ele começou a chorar. A gente almoça aqui todo dia.

Iega significa “Iremos Encontrar Grandes Amigos”. A demolição da casa está prevista para dezembro e o novo edifício deve ficar pronto em três anos. A ideia é que, quando o prédio ficar pronto, os irmãos voltem a comandar o bar na sala comercial que ganhará, negociada durante a venda do terreno.

Vai deixar saudades

A maminha na tábua, o pastelzinho de camarão e as tábuas de carnes e fritas. Já a tradicional cachacinha ainda poderá ser comprada diretamente com o João pelo telefone (48) 99621-5710.