Apesar da distância e muitas vezes da fila que separa Barreiros, em São José, da Prainha, na região central de Florianópolis, a família Dias passa pelo menos cinco dos sete dias da semana na Paróquia Santa Teresinha Menino Jesus, a igreja do bairro da Capital. A presença, que já era constante, se tornou ainda mais forte nos últimos três anos, quando Tatiana e o marido Adilson se tornaram o casal festeiro da Festa do Divino na comunidade. A celebração de origem portuguesa faz parte da vida do casal que agora prepara uma das filha para ser a imperatriz do festejo no próximo domingo (12).

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Casal festeiro é o nome que se dá a quem arrecada dinheiro, enfeita a igreja com retalhos de tecido, constrói barraquinhas e passa em torno de um ano organizando toda a Festa do Divino. Eles compõem a corte que é formada ainda por uma imperatriz, um imperador e sete porta-bandeiras. O grupo ocupa o altar ao lado do padre e participa de cortejos para divulgação da celebração.

A festa na Prainha é uma das 14 que ocorrem em Florianópolis entre junho e setembro. Elas resgatam um pertencimento dos manezinhos à cultura dos Açores, território de origem de boa parte dos portugueses que aqui se estabeleceram.

A celebração tem origem de uma promessa familiar. Na tentativa de conciliar o filho e o marido, a Rainha Isabel de Aragão teria prometido divulgar a imagem do Divino Espírito Santo pelo mundo. Com o desejo realizado, a tradição se estabeleceu em Portugal e depois em seus territórios como o de Açores. Lá a celebração é forte até os dias de hoje.

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— Onde tem dois ou três açorianos, vai ter Festa do Divino. Aqui em Florianópolis é uma questão de pertencimento, as pessoas se sentem parte da tradição — comenta o coordenador do Núcleo de Estudos Açorianos, Francisco do Vale Pereira.

Bandeira, cortejo e coroa são os símbolos

Entre os vários símbolos e tradições da festa, três se destacam: a bandeira, o cortejo e a coroa. O primeiro simboliza o Espírito Santo, e sua passagem entre os fiéis é um dos pontos mais emocionantes da celebração, conta Edson Aranha. Para o festeiro da Prainha do ano de 2019, é o momento de falar com Deus.

— A passagem da bandeira é algo muito espiritual, é o símbolo de toda a fé. Quando essa bandeira passa é como se a pessoa projetasse toda a fé naquele momento para que ela receba graças ou agradeça às que recebeu. Para as pessoas que vivem a Festa do Divino, a passagem da bandeira é o ponto alto da festa — explica Edson.

O cortejo, outro ponto de destaque, é o momento em que toda a corte percorre a comunidade convidando a população para a festa. Já a coroa é entregue à corte da festa em um dos dias da celebração.

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Em Florianópolis, todas as 14 comunidades que celebram o Divino possuem uma coroa. A última a receber foi da Prainha, em março deste ano. O item foi doado pelo governo dos Açores à comunidade e é feito em prata.

Um quarto símbolo, menos religioso, mas não menos importante, é o bingo. O jogo acaba trazendo a comunidade para dentro das paróquias.

— Quando se pensa em Festa do Divino se associa logo ao bingo que acontece nas festas — diz Samanta Dias, membro do Conselho pastoral da igreja da Prainha.

Na paróquia, o dinheiro do bingo e de todas as vendas de comida nos dias de festa será usado para custear a construção de salas para as aulas de catequese. Além dos ensinamentos religiosos, o espaço vai servir também para atividades sociais com as crianças e adolescentes da comunidade.

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Casal festeiro ocupa o cargo há três anos

O reinado de Tatiana e Adilson como casal festeiro da paróquia da Prainha poderia facilmente entrar no livro dos recordes. A dupla foi empossada quando o mundo desconhecia o coronavírus e ocupa o posto há três anos. Com a pandemia, a festa teve que ser adaptada. O cortejo a pé foi transformado em carreata, e a festa na paróquia foi adiada até 2022.

Neste ano, a celebração começa nesta quinta-feira (9) e se estende até domingo. A expectativa de é que marque a volta de vários fiéis à igreja.

— Temos alguns servos que acabaram indo com a pandemia, mas alguns filhos estão tomando o lugar dos pais. Isso é uma coisa que comoveu muito a gente dentro da paróquia: ver os filhos servindo no lugar dos pais — comenta Samanta Dias, membro do Conselho Pastoral da Igreja.

Tatiana, que tem a presença das filhas e do afilhado na igreja, lembra com carinho de uma senhora que sempre participava da festa. Responsável pela barraca de carnes, a dona Cleir, do “Espetinho da Cleir”, faleceu no último ano. Neste ano, a filha pediu para trabalhar na festa que a mãe tanto trabalhou.

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— A mãe amava tanto essa festa que a filha não queria ficar de fora — diz Tatiana emocionada.

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