Nem o governo nem a cúpula do PT sabem como reverter a crise que engolfa Dilma Rousseff. A presidente e seus conselheiros esboçam uma reação, que passa por reconstruir a coalizão no Congresso e pela reaproximação com Renan Calheiros (PMDB-AL).
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Opinião ZH: combinação perversa
O cenário conturbado se acentuou. Com base parlamentar esfacelada, dólar e inflação em alta, Operação Lava-Jato a sangrar o PT e manifestações no dia 16, Dilma tem 71% de rejeição segundo o Datafolha, índice pior ao de Fernando Collor às vésperas do impeachment. O primeiro caminho para a virada é admitir o problema.
– Se começarmos a dizer que não há crise de maneira nenhuma, não ajudamos a superá-la – afirmou o vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Pesquisa Datafolha: reprovação de Dilma atinge 71% e supera índice de Collor
Dilma se reuniu nesta quarta-feira com o vice e, após, com ministros petistas. Das conversas saiu a estratégia de apostar a governabilidade no Senado, já que a Câmara está fora de controle. Um novo encontro ocorrerá no domingo, com nomes como Temer e os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Aloizio Mercadante (Casa Civil).
Quais são as pressões sobre Dilma
Líderes do governo no Senado indicam que os colegas estão mais sensíveis ao impacto da pauta-bomba e ao risco de fuga de capitais caso a nota de investimento do país seja rebaixada por agências de risco, o que só agravaria a crise econômica, sem previsão de melhoras no curto prazo. Por isso, a necessidade de reconquistar Renan, que mantém conversas rotineiras com o PSDB. O apoio do presidente do Senado também depende do aumento do espaço do PMDB na máquina federal.
Já a fragilidade na Câmara ficou escancarada após a aprovação em primeiro turno da proposta de emenda à Constituição (PEC) que aumenta os salários da Advocacia-Geral da União e de delegados – impacto de R$ 2,45 bilhões ao ano.
– Alguns aliados não têm o grau de fidelidade que precisariam ter – reconhece o deputado Henrique Fontana (PT-RS).
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Pelos cálculos petistas, uma base razoável teria pelos menos 320 votos na Câmara, cerca de cem a menos do que o palácio tem. Inimigo declarado do governo, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), terá de ser neutralizado no voto. O PT entende que a denúncia do peemedebista na Lava-Jato não será suficiente para enfraquecê-lo.
Apesar das saídas de PDT e PTB da base, aliados confiam em retorno. O PTB, que comanda o Ministério do Desenvolvimento, deseja a Casa da Moeda, enquanto o PDT aguarda a promessa de “porteira fechada” no Trabalho. Na bancada petista, ganha força o desejo de uma reforma na Esplanada para que os ministros assegurem a fidelidade de suas siglas. Além de PTB e PDT, legendas como PR (Transportes), PRB (Esporte) e PP (Integração) têm ministérios e derrubam o governo nas votações. Uma das reclamações nos bastidores é de que, mesmo com as pastas, maior parte dos cargos segue com o PT, que resiste em entregá-los.
Outro risco para Dilma, a eventual rejeição de suas contas, que poderia abrir discussão de impeachment, pode ser retardada no STF. A presidente da Comissão Mista de Orçamento, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), entrou com mandado de segurança para suspender a apreciação das contas de ex-presidentes por deputados. Rose alega que a análise é “competência exclusiva” do Congresso, e não da Câmara.
As federações das indústrias de São Paulo (Fiesp) e do Rio de Janeiro (Firjan) divulgaram nota conjunta em defesa da posição de Temer na qual reafirmam que o momento econômico e político brasileiro “é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil”.
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