Os constantes reajustes nas tarifas de itens como água, luz, gasolina e gás de cozinha estão mudando a forma como o joinvilense controla o orçamento. De acordo com economistas, é perceptível o crescimento no número de famílias que mudam hábitos ou aderem a medidas de controle financeiro para manter o padrão de vida. Criação de planilha, redução de despesas e busca por renda extra são algumas opções para evitar o rombo no bolso.
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Apontado como o vilão deste ano, o preço da gasolina teve 20 variações de preços nas refinarias somente no último mês, 11 deles para cima, respingando no valor cobrado nas bombas. O mais recente passou a valer no fim de semana: alta de 1,9%. Vendido hoje em média a R$ 3,75 por litro, em outubro a mesma quantidade de combustível custava R$ 3,62. Há um ano, o preço médio era de R$ 3,34.
Esse aumento, somado às três altas seguidas nos botijões de gás (até 13 quilos) de uso residencial – de 12,9% e 4,5% em outubro e de 8,9% desde terça-feira –, além da bandeira vermelha na conta de energia – de R$ 3 para R$ 5 a cada 100 kWh –, provoca elevação nos gastos da casa. Além disso, a tarifa mínima de água e esgoto na cidade ficou em R$ 32,91 na categoria residencial, valor 5,02% maior que o cobrado há cinco meses: R$ 31,34.
Se somados, os novos valores chegam a consumir até R$ 100 a mais do orçamento, segundo moradores ouvido pela reportagem. O impacto é alto, se considerado o rendimento médio da população da cidade.
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Dados da prefeitura, por meio do levantamento no Joinville – Bairro a Bairro 2017, mostram que em 35 das 43 áreas urbanas o rendimento médio mensal dos moradores varia de um (R$ 937) até três (R$ 2.811) salários mínimos. Os valores são, respectivamente, 75% e 25% menores do que o salário mínimo brasileiro necessário apontado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que idealmente deveria ser de R$ 3.754,16.
Valor da cesta básica destoa e tem queda
Na contramão dos aumentos, as compras no supermercado têm ajudado a manter o equilíbrio das finanças para algumas famílias. Entre os meses de outubro e novembro, o preço médio da cesta básica baixou 1,06% nos estabelecimentos de Joinville, quando passou de R$ 238,89 para R$ 236,35. O valor dos mantimentos considerados essenciais também é mais baixo do que o registrado há 12 meses, quando o valor médio por cesta era calculado em R$ 269,47.
Economistas comentam cenário
O economista Fernando Pinho, pós-graduado em Psicologia Econômica pela PUC/SP e mestre em Finanças pela Universidade Mackenzie, explica que o aumento atinge principalmente as tarifas públicas. Para ele, resultado de um represamento de reajustes necessários que não foram feitos em governos anteriores na última década, o que provocou um déficit de caixa em estatais como Petrobras e Eletrobrás.
– O que está ocorrendo agora é a necessidade de recompor as contas públicas. Isso porque, quando se cria artificialismo na economia, uma hora essa bomba explode. O que houve é que esses aumentos vieram junto com a perda dos empregos, inflação e em um momento em que a renda das pessoas baixou. Essa política de reajustes, tanto para cima quanto os recuos, ao que parece, veio para ficar – diz.
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Jani Floriano, economista e professora da Universidade da Região de Joinville (Univille), aponta que, para muitas famílias joinvilenses, os problemas financeiros muitas vezes nem chegam a ocorrer por causa dos aumentos, mas pelo acúmulo de cartões de crédito, de lojas, de seguradoras e de supermercados.
– Os cartões, não só os de crédito, costumam ser vilões caso não usados corretamente. Isso acaba comprometendo o orçamento das famílias. Porém, o que eu tenho notado e de forma positiva é que, em decorrência disso, muitas pessoas começaram a desenvolver práticas de controle financeiro. Estão com mais consciência, e a educação financeira está repercutindo melhor – explica ela.
Reduzir gastos sem deixar o lazer de lado
Apesar dos reajustes constantes, nem sempre é preciso cortar na carne e deixar aquele passeio para outra hora. Segundo Jani Floriano, o ideal é reduzir os gastos ou potencializar os ganhos em vez de cancelar alguma atividade, como ir ao cinema, frequentar restaurantes ou deixar de consumir. Com a retirada dos excessos, o resultado compensa os aumentos sem comprometer uma área específica.
Para a economista, uma dica simples para manter o controle diante de promoções em meio ao orçamento apertado, por exemplo, é pensar com a razão.
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– Antes de efetuar uma compra, o consumidor deve fazer duas perguntas: eu preciso? Tenho como pagar? Se a resposta for não para uma ou as duas perguntas, é melhor esperar e adquirir esse produto em outro momento.
O bom senso na hora de gastar também é considerado primordial para o economista Fernando Pinho:
– Ainda é um momento em que, com as contas apertadas, o brasileiro tem que controlar os gastos e ter cuidado com as compras de fim de ano porque 2018 ainda deve ser de incerteza na economia.
Joinvilenses buscam alternativas para driblar aumento nas contas e o rombo no orçamento
Controlar a balança financeira doméstica é uma prática seguida pelo casal Bárbara Laustidio e Thomaz Lima, moradores do bairro Saguaçu. Mesmo sem sentir os impactos dos aumentos tarifários, eles afirmam que perceberam elevação significativa na conta de luz. A média de gasto, que antes era de R$ 100, teve um incremento de R$ 20 a R$ 30. Apesar disso, os dois alteraram poucos hábitos, um deles a redução dos pedidos delivery, além de manter as contas em dia com ajuda de uma planilha que engloba rendimentos e despesas.
– Utilizamos a planilha para ter ciência de quanto gastamos e quanto sobra no mês. Esse controle é importante porque, quando um sugere a aquisição de algum produto diferente, por exemplo, refletimos a necessidade da compra e se cabe no orçamento – diz Bárbara.
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Outra aposta do casal está na mudança no método das idas ao supermercado. Antes feita uma vez por mês, agora eles fazem compras fracionadas durante a semana e esperam ter impacto econômico positivo. A mudança é recente e, entre as percepções deles, está o aproveitamento maior dos alimentos que não precisam ser descartados por causa do prazo de validade.
Ao contrário deles, o advogado e professor universitário Fernando de Lima não mantém nenhum método de controle de gastos. No entanto, ele diz que busca ter certeza de que as despesas são menores que seus rendimentos mensais. Adepto do carro como meio de transporte, é na gasolina que ele sente o peso no bolso ficar maior.
– Eles (reajustes) pesam cada ano mais no bolso, minha remuneração mensal não aumenta na mesma proporção que sobe o meu orçamento pessoal. A gasolina é o vilão, pois, além de muito cara, aumenta diversas vezes no decorrer do ano. Todos estes itens e mais o plano de saúde aumentaram em torno de 15% no balanço mensal.
Para manter o padrão de vida no mesmo patamar, Fernando também aderiu a novos hábitos.
– Passei a frequentar menos os restaurantes e comecei a comprar roupas em lojas mais acessíveis. Também frequento supermercados mais populares e valorizo as promoções anunciadas nas gôndolas. Em casa, a opção por lâmpadas mais econômicas foi uma medida acertada – afirma.
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Trabalho alternativo para ganhar uma renda extra
Para o corretor de imóveis Henrique Marini, do bairro Glória, a ação foi outra. Há cinco meses, ele conta com uma renda extra que vem dos transportes por aplicativo. Como utiliza o veículo da família para realizar as viagens, ele diz que o aumento maior é sentido nos postos de combustíveis.
– Aumenta o gás em um dia, luz no outro, a gasolina, e o consumidor só percebe quando esses novos valores acumulam. No caso do combustível, dizem que há aumento e também recuo, mas o consumidor não sente. Antes, era possível encher o tanque com R$ 100, mas agora são necessários cerca de R$ 140 – critica.