Toda a vez que o cidadão recorre à Justiça com as próprias mãos é sinal de que o Estado falha em seu dever de preservar direitos
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A inesperada resistência dos moradores do norte da Ilha de SC à invasão de uma área na SC-406 por integrantes de um movimento cujo rosto ainda não é totalmente reconhecido pela sociedade catarinense suscita reflexões para impasses futuros que, espera-se, não se repitam.
À primeira vista, saem vitoriosos os nativos do bairro Rio Vermelho e adjacências em sua resistência. De fato, como condenar a população por sua reação a um ato originado do vácuo deixado pelos entes públicos responsáveis por gerir o conflito? Porém, toda a vez que o cidadão comum recorre à Justiça com as próprias mãos é sinal de que o Estado democrático falha em seu dever de garantir segurança e preservar direitos.
Por pouco o episódio da chamada Ocupação Amarildo não terminou em tragédia, pois policiais militares tiveram de agir para evitar um confronto. Os próprios invasores do terreno alheio, assustados com a reação dos vizinhos, acabaram pedindo a intervenção do governo do Estado e da Polícia Militar.
O caso aparentemente inédito parece ter se originado a partir da lentidão do poder público, conforme apontou este espaço de Opinião da RBS na edição de ontem. Desde dezembro a tomada de um terreno privado no norte da Ilha de Santa Catarina – às margens da SC-401 – expõe dezenas de famílias usadas como massa de manobra, ocupa a energia das forças policiais, corrói o pouco tempo do Judiciário e deixa a população da Grande Florianópolis em eterno suspense, sempre à espera do próximo passo de um movimento com motivações ideológicas.
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Temerosos de que se iniciasse no Rio Vermelho um novo capítulo de uma novela aparentemente sem fim, os próprios moradores arregimentaram forças da região e montaram uma patrulha privada, disposta a tudo, inclusive o confronto físico.
A contraofensiva dos moradores só ocorreu pelo vácuo do poder público, denunciado ontem neste mesmo espaço. É de se louvar a disposição do governador que abandonou o descanso do feriado para agir, em conjunto com o comando militar, no caso – de tênis, abrigo e camisa de manga curta.
É isso que se exige das autoridades: postura e celeridade. Se gestos como esses ocorressem com mais frequência, a população certamente não teria tanta disposição para, de maneira equivocada, desesperada e perigosa, tentar agir com as próprias mãos. É de se aguardar infelizmente os próximos capítulos de um episódio que entristece e preocupa a todos os moradores de Santa Catarina.