As dores nas costas foram o motivo do zagueiro Neto desistir de tentar voltar aos gramados, depois de três anos de tentativa de ser recuperar das sequelas do acidente com o avião da Lamia, ocorrido em novembro de 2016, próximo de Medellín. Ele já tinha anunciado que não voltaria a jogar futebol na semana passada, no Jornal do Almoço de Chapecó, e nesta terça-feira, anunciou a decisão em entrevista coletiva, na Arena Condá, acompanhado da mulher e os dois filhos, além de dois médicos que o trataram nos últimos três anos: Carlos Mendonça e Marcos Sonaglio.

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— Hoje oficialmente quero declarar minha aposentadoria, o encerramento da minha carreira, devido à lesões, não foi algo planejado por mim, encerrar, mas, devido às lesões os médicos optaram que eu parasse de jogar. Sinceramente é uma vida nova, um pouco diferente. Estou feliz pela carreira que Deus me deu, tudo que ele me deu, as vitórias, as derrotas. Todas as derrotas que eu tive me impulsionaram pra que eu tivesse uma carreira sólida. Não fui zagueiro de seleção brasileira, mas creio que para a Chapecoense fui um dos melhores que passou, que vestiu a camisa, que se entregou. Fico feliz por isso. Espero ter contribuído junto com o clube. Agora essa fase se encerra e Deus vai preparar um novo caminho para mim – disse.

Ele afirmou que ainda tem contrato com o clube até o ano que vem mas que já está em conversa com a diretoria para ver uma mudança o contrato e uma forma de colaborar nos bastidores . Mas ressaltou que é algo que precisa ser amadurecido. Agora ele quer aproveitar para fazer algumas coisas que não podia fazer nas férias quando era atleta, como tomar refrigerante e comer churrasco.

Neto disse que, apesar da aposentadoria precoce, aos 34 anos, se sente realizado.

— Eu acho que realizei tudo que eu tinha para realizar. Só não realizei o sonho de meu pai, que era flamenguista e ele queria me ver com a camisa do Flamengo. Ele tinha sonho de ver com a camisa do Flamengo. Mas o sonho principal era me ver como atleta profissional. Mas acho que até ultrapassei meu sonho. Tinha sonho ser profissional, depois chegar mais longe. Não tive categoria de base. Tinha que trabalhar mais que os outros para chegar numa Série A. O nível é alto. Depois cheguei Série A, Guarani, Santos, poder pisar na vila Belmiro, jogar com o Neymar, onde o Pelé jogou, foi mais do que um sonho realizado. Com 17 anos estava jogando pelada na rua. Para mim era uma coisa absurda. Foi algo tremendo. Depois vim par a Chapecoense que era um clube pequeno que falavam que ia cair e a gente conseguiu fazer algo bacana – destacou.

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Um dos momentos mais marcantes da carreira foi o gol de bicicleta contra o Vasco, na vitória por 1 a 0, em 2015. Disse que seu pai ligou chorando após o jogo dizendo que tinha sido o melhor presente da vida. Até amigos vascaínos ligaram parabenizando-o.

No ano seguinte ele teve problema na coluna cervical e teve que colocar uma placa de metal. Conseguiu ser recuperar em apenas três meses, metade do tempo previsto, para ajudar a Chapecoense a chegar na final da Sul-Americana. Infelizmente as finais não saíram, pelo acidente que matou 71 pessoas. Neto foi um dos seis sobreviventes.

De acordo com o médico Marcos Sonaglio, já foi um milagre o jogador ter sobrevivido. Uma nova lesão na coluna, acabou comprometendo sua volta aos gramados.

— Ele teve uma lesão óssea na coluna, que necessitava de cirurgia, que acabou cicatrizando. O Neto não tinha condições clínicas de fazer a cirurgia na Colômbia – lembrou.

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O outro médico que tratou o jogador, Carlos Mendonça, disse que Neto esteve muito próximo de voltar a jogar, até foi cogitado de ele ser relacionado, mas como estava tomando um medicamento para combater uma asma brônquica adquirida após o acidente, havia o risco de um falso positivo para doping.

Nos últimos tempos Neto disse que estava sentindo muitas dores para treinar. Os médicos avaliaram que, como o jogador não conseguiria aguentar mais jogos inteiros em alto nível, a melhor opção era preservar uma boa condição de saúde para o futuro do atleta.

Além de ajudar a Chapecoense ele afirmou que quer continuar ajudando as famílias das vítimas.

— Estou com as famílias também, a gente foi para Londres. O clube também perdeu, as famílias mais ainda. Essa luta é para que quem errou venha a arcar com esses erros, seja na parte financeira, seja na parte criminal. Estou nessa luta e vou até o final. Não fiquei vivo para brincar, me deixou vivo para que justiça fosse feita e eu pudesse ajudar nesse processo – disse.

Ele também espera que a Chapecoense volte a ser campeã estadual, volte para a Série A e também a disputar uma Libertadores, como em 2017 e 2018.

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