Quatro dias depois da operação da Polícia Civil que prendeu seis policiais militares em Balneário Camboriú, no Litoral de Santa Catarina, os ânimos entre integrantes das duas corporações continuam acirrados. O clima de revolta é maior dentro da Polícia Militar (PM), que no domingo fez um protesto contra a ação da última quinta-feira. Por conta dessa instabilidade, os comandos das duas corporações se reuniram na manhã desta segunda-feira e decidiram criar um protocolo para regular as próximas prisões.
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Assim, se futuramente integrantes das duas polícias forem presos, alguns procedimentos devem se seguidos conforme as regras a serem estabelecidas. O principal questionamento da PM é a forma com que os homens do Pelotão de Patrulhamento Tático (PPT) foram detidos. Segundo eles, a Divisão de Investigação Criminais (DIC) da Polícia Civil, sob o comando do delegado Osnei de Oliveira, agiu de forma incorreta durante a abordagem e até mesmo no uso de agentes da Guarda Municipal para a operação.
Em reunião em Balneário Camboriú nesta manhã de segunda, o delegado-geral Artur Nitz, e o comandante-geral, coronel Paulo Henrique Hemm, discutiram ações para restabelecer a relação entre as duas corporações. Segundo Nitz, o momento é de cautela:
— Os comandos locais precisam ter bom senso e apaziguar os ânimos. O caso está na esfera judicial e lá que tem que ser discutido. Não tenho conhecimento dos autos e não tenho como pré-julgar. Essa discussão tem que parar, vamos sentar com os comandos, ver onde houve equívoco e quais foram.
A reportagem tentou contato com Hemm por telefone, mas ele não atendeu. Temendo reação nas ruas e até mesmo represálias, o comando regional da PM no Litoral conversou com os policiais operacionais nos últimos dias para pedir cautela nos trabalhos. Nenhum problema envolvendo policiais das duas corporações foi registrado durante o fim de semana.
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Durante esta segunda-feira vão ocorrer outras reunião em Balneário Camboriú para discutir o assunto. Uma delas será entre a PM e o prefeito Fabrício Oliveira (PSB). Também haverá um encontro dos comandantes das duas corporações na região do Litoral com o Ministério Público e o juiz responsável pelo caso.
Em Florianópolis, Nitz e Hemm vão se reunir com o secretário de Segurança Pública, César Grubba. O caso repercutiu até mesmo dentro do governo do Estado no fim de semana. O governador Raimundo Colombo cobrou explicações de Grubba sobre o impasse entre as corporações.
Polícia Civil abre procedimento para investigar postagem de delegado
Uma postagem do delegado Procópio Batista Silveira Neto, integrante da Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Balneário Camboriú, na última quinta-feira, acirrou ainda mais os ânimos entre as duas polícias. Na imagem, ele está ao lado de outro policial em uma selfie em frente ao 12º Batalhão da PM, onde foram cumpridos alguns dos mandados da operação que prendeu os PMs.
Entre os militares, a imagem repercutiu com uma provocação. O comportamento de Silveira Neto também causou descontentamento ao delegado-geral da Polícia, Artur Nitz. Ele disse que vai solicitar à Corregedoria a abertura de um procedimento interno para apurar o ato do delegado de Balneário Camboriú. Nitz entende que o policial não necessariamente pode ter agido com intenção de provocar, mas o contexto da imagem e da operação exigiam mais cuidado:
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— Esse é um fato que vai ser apurado. Não posso aceitar isso.
Silveira Neto não questiona a decisão de Nitz. Pelo contrário, afirma que o delegado-geral está fazendo o que ele mesmo faria.
— É óbvio que tem que existir um procedimento administrativo. Se há denúncia, que se apure e se chegue a uma conclusão. Isso serve para mim e para qualquer servidor. Mesmo sabendo que não fiz nada de equivocado, isso não me exime do procedimento.
Em nota enviada nesta segunda-feira, Silveira Neto argumentou que a foto postada era privada e que foi difundida de forma incorreta, com significado diferente daquilo que a imagem retratava. O delegado diz que foi “uma tentativa sórdida de manipular e distorcer o trabalho realizado pela Justiça, tentando justificar o cometimento de um crime com outro crime e, ainda, coagindo as demais autoridades a aceitarem condutas criminosas, por meio de ameaças e represálias”.
Nova crise ameaça parcerias entre as duas polícias no Litoral
Esse novo embate entre as polícias Civil e Militar no Litoral de Santa Catarina ameaça uma parceria que estava em andamento na região. As duas corporações, com a ajuda da Guarda Municipal de Balneário Camboriú, pretendiam criar um núcleo de investigação conjunto. A força-tarefa estava praticamente criada, restando apenas o aval final do secretário de Segurança do Estado.
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Com a prisão dos policiais e a polêmica criada na última semana, a parceria fica ameaçada. Um grupo criado no Whats App para reunir delegados e oficiais da PM está praticamente vazio nos últimos dias. Desde a operação, ficaram por lá apenas os integrantes da Polícia Civil. Os militares reagiram às prisões e à foto postada por Silveira Neto e deixaram o grupo.
Segunda crise em três meses
Em fevereiro deste ano as duas polícias tiveram outra crise na mesma região. Desta vez o caso aconteceu em São João Batista. Um tenente da PM foi preso momentos antes de uma coletiva da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) sobre uma operação contra caixeiros.
O oficial foi até a reunião para contestar o trabalho dos policiais civis por entender que eles haviam colocado em risco a vida dos PMs que não teriam sido avisados da operação. Naquele episódio, a SSP também se reuniu com os comandos para acalmar os ânimos.
A situação ficou mais tensa a partir de 2013, quando a PM invadiu uma festa de confraternização entre agentes da Polícia Civil e um policial militar atirou contra um investigador. Na época, a PM alegou ter recebido uma denúncia de que havia pessoas armadas na festa. As versões foram conflituosas e causaram mal estar nas duas corporações.
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Uma nova saia-justa ocorreu em abril do ano passado, quando a Polícia Militar montou uma operação de busca pelo menino Ícaro Alexandre Pereira, desaparecido desde fevereiro de 2016, e não comunicou a Divisão de Investigações Criminais da Polícia Civil (DIC), responsável por apurar o caso.