*Por Elisabetta Povoledo
Roma – Dezenas de guias turísticos e agentes de viagens vestidos de preto dançaram recentemente com guarda-chuvas brancos ao som de “Singing in the Rain” em frente ao Panteão, uma das principais atrações turísticas de Roma.
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O problema é que quase não havia turistas para ver.
O Panteão, um antigo templo romano, está entre as atrações italianas que foram reabertas este mês, após o lockdown do coronavírus. O flash mob de guias e agentes estava entre inúmeros eventos similares realizados em diversas cidades italianas para chamar a atenção para os graves problemas surgidos desde que a pandemia paralisou o turismo – uma das principais fontes de renda do país.
Nos primeiros dias após o fim das primeiras restrições do lockdown, os italianos aproveitaram as ruas vazias, redescobrindo monumentos e museus que costumavam evitar, já que as filas eram sempre enormes.
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Porém, mesmo após o fim da proibição de viagens pela Europa, as pessoas continuam evitando viajar para outros países. As previsões de reservas de voos para a Itália sugerem uma queda de 95,2 por cento em junho, 82,4 por cento em julho e 76,4 por cento em agosto, em comparação com os mesmos períodos do ano passado, de acordo com a agência nacional do turismo da Itália, a Enit.
De acordo com os trabalhadores que dançavam em frente ao Panteão, isso é um verdadeiro desastre. Eles acreditam que foram deixados de lado pelo governo e muitos estão exigindo subsídios para a próxima temporada, quando quase todos perderão o emprego.
“Sem o turismo, a Itália morre”, disse Ilenya Moro, guia turística em Roma que ajudou a organizar o flash mob.
Depois de dançar, os participantes caminharam até a praça em frente ao Parlamento italiano, onde continuaram a manifestar suas queixas.
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Cerca de 3,5 milhões de pessoas na Itália dependem do turismo para sobreviver, incluindo taxistas, donos de restaurante, garçons, trabalhadores do setor de hotelaria, 25 mil guias turísticos e 20 mil agentes de viagem. Os guias e agentes geralmente são trabalhadores informais.
Em 2018, o turismo foi responsável por cerca de 13,2 por cento do PIB italiano, trazendo 232 bilhões de euros para a economia local, de acordo com a Enit. Em 2019, mais de 63 milhões de estrangeiros foram à Itália, um aumento de 2,3 por cento em relação ao ano anterior.
Este ano, a previsão da Enit é sombria. Os dados indicam uma queda de 72,9 por cento entre maio e outubro no número de viajantes vindos dos EUA, uma parte importante dos turistas na Itália. “Os americanos geralmente são abertos e fáceis de lidar, e muitos deles preferem viajar com guias turísticos”, afirmou Moro.
Além disso, eles costumam dar gorjetas. “Mas não tanto quanto antigamente. A grana está curta em todos os lugares”, acrescentou.
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Em abril, a associação de trabalhadores do setor de hotelaria da Itália, a Federalberghi, registrou uma queda de 99,1 por cento no número de clientes estrangeiros, em comparação ao mesmo mês do ano passado. Representantes do setor expressaram preocupação com a próxima temporada.
Atualmente, apenas 40 por cento dos hotéis italianos estão de portas abertas, de acordo com uma porta-voz da Federalberghi. Outro grupo, o Confturismo-Confcommercio, estima que o setor hoteleiro tenha perdido cerca de 11 bilhões de euros entre primeiro de março e 31 de maio, mais ou menos o período do lockdown no país.
Para os guias e agentes de viagens italianos, as perdas não foram menos expressivas. “Tenho cinco filhos, uma esposa e sou o único que trabalha. Enquanto os voos internacionais não recomeçarem, não teremos trabalho”, disse Stefano Pace, guia turístico que participou do flash mob em frente ao Panteão.
O governo já alocou algum dinheiro para o setor de guias turísticos – recorrendo às verbas que destinaram 600 euros para os freelancers em março e abril. “Mas isso não dura muito”, observou Pace.
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Em seu mais recente decreto financeiro, o governo italiano prometeu que distribuiria mais mil euros para trabalhadores informais em maio, mas muitos disseram que as regras e restrições dificultarão o acesso a esse dinheiro.
“Isso tornará ainda mais difícil a situação de muitas pessoas que provavelmente estarão desempregadas no ano que vem”, declarou Giuliano Varchetta, que é agente de viagens e cuida da logística e do acompanhamento de grupos de turistas no país.
“O turismo é um setor muito específico e só haverá retomada quando os turistas voltarem em peso”, disse Varchetta, durante o protesto em frente ao Parlamento Italiano.
“Pedimos que o governo continue nos dando 600 euros por mês até março do ano que vem, pois não há trabalho para nós. Ninguém está viajando, os italianos não querem visitas guiadas e muitos museus nos proíbem de entrar com grupos grandes. Precisaremos de ajuda até o ano que vem”, afirmou Margherita Capponi, fundadora da AGTA, uma associação de guias turísticos que organizou o flash mob e os protestos.
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Para assegurar o distanciamento social, muitos museus e sítios arqueológicos italianos permitem no máximo dez pessoas por visita guiada.
“Junho costuma ser o melhor mês do ano, porque os clientes americanos começam a viajar durante as férias escolares”, comentou Capponi.
Mas este ano será diferente. Desde que o lockdown começou, Capponi trabalhou apenas um dia – dois de junho –, levando um pequeno grupo aos museus do Vaticano, um dia depois da reabertura. “E sou uma das poucas pessoas que trabalharam”, disse.
Para ajudar os mais necessitados, a organização criou um fundo de emergência para os trabalhadores. “Algumas pessoas não tinham o suficiente para comer”, contou.
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Alguns romanos entraram no Panteão após medirem a temperatura. O interior cavernoso geralmente estaria completamente lotado.
Um zelador contou que o Panteão costumava receber 30 mil visitantes por dia, mas isso não é mais possível, já que agora apenas 80 pessoas podem entrar por vez.
“Do ponto de vista econômico, isso é uma tragédia para nós. A pandemia devastou a vida nas ruas da cidade. Espero que os americanos voltem logo ao nosso país”, comentou Azzura Mancini, guia turística que aproveitou a manifestação para visitar o antigo templo romano.
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