No início do século passado, as ferrovias eram inquestionáveis. A economia em Santa Catarina, e no Brasil, se movia pelas estradas de ferro. Mas, entre os anos 1940 e 1950, mudanças nas políticas de infraestrutura do país privilegiaram o transporte rodoviário. As ferrovias, aos poucos, foram deixadas de lado.

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Silvio dos Santos, gerente de ferrovias de Santa Catarina, explica que a decisão teve a ver com uma mudança de paradigma econômico no país:

– Três coisas que vão desenvolver as rodovias. Você tem dinheiro marcado, né? Do imposto. Você tem aço para fazer a chapa do automóvel. E você tem o combustível refinado no Brasil.

Atualmente, o Estado tem 763 quilômetros de ferrovias em atividade. Apenas 4,5% da malha do país fica em Santa Catarina. A última ferrovia construída no Estado foi há 55 anos. É o trecho do Tronco Sul, que liga Lages a Vacaria, no Rio Grande do Sul. Essa é a única, entre as duas ferrovias catarinenses ativas, que está ligada à malha nacional.

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Nenhuma estrada de ferro passa pelo Oeste do Estado, onde ficam as principais agroindústrias catarinenses. Lenoir Broch representa diversas entidades da região que defendem a construção de ferrovias. Segundo ele, elas poderiam otimizar a chegada de insumos e o escoamento da produção agropecuária local.

– No modal ferroviário, existem estimativas e pesquisas que a economia no transporte pode chegar de 20% até 30% ou até mais. Mas mesmo que a gente tenha uma economia de 20%, hoje, somente para o transporte de grãos para a nossa agroindústria, gastamos em torno de R$ 3,5 bilhões por ano. Se retirar 20% disso, já teríamos uma economia de quase R$ 700 milhões anualmente, somente com transporte – argumenta Broch, coordenador do Movimento pró-Ferrovias.

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Neste ano, o governo do Estado está patrocinando estudos para viabilizar a construção de uma ferrovia que pretende ligar Chapecó a Correia Pinto, na Serra. Dessa forma, o Oeste estaria ligado por estradas de ferro à malha ferroviária nacional, e poderia mandar e receber mercadorias através do porto de São Francisco do Sul, no Litoral Norte.

Para o produtor rural Félix Júnior, que durante o ano planta trigo, milho e soja em Chapecó, a chegada de ferrovias ao Oeste do Estado ajudaria a reduzir os custos de produção.

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– Principalmente adubos, ureias, cloreto, que a gente utiliza nas nossas lavouras, já que isso daí vem tudo via portos. E com certeza, traria a redução do nosso custo, principalmente o custo com frete. Assim, a gente conseguiria ter um menor custo nas lavouras – pondera o agricultor.

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No Litoral, outra ferrovia, essa com um trecho mais curto, também está em fase de estudos pagos pelo governo do Estado. Ela ligaria Araquari a Navegantes. Somados, os investimentos com os dois projetos custaram R$ 32 milhões ao Estado. Os estudos devem ficar prontos em novembro.

– O Estado faz a parte estratégica, contrata os projetos e a iniciativa privada é que vai executar essas obras. Sabemos que são obras demoradas, mas é preciso tirar do papel, é preciso alguém assumir essa liderança, esse papel, que infelizmente, ao longo dos anos, não foi feito em Santa Catarina – conta Robison Coelho, secretário de Estado de Portos, Aeroportos e Ferrovias.

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Os planos para a Ferroeste e a Ferrovia do Frango

Outra ferrovia muito esperada em Santa Catarina é a Ferroeste, que ligaria Maracaju, no Mato Grosso do Sul, a Chapecó. Ela pode tornar mais barato o abastecimento de alimentos para a produção de suínos do Oeste. No ano passado, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) solicitou ao governo do Paraná estudos de impacto social, já que ela vai passar por territórios indígenas no estado vizinho. A abertura da licitação para empresas está prevista para 2025.

O novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), divulgado pelo governo federal em 2023, trouxe de volta uma ideia antiga, em Santa Catarina: a Ferrovia do Frango. Em 2020, a Valec, estatal responsável pelo planejamento econômico das estradas de ferro no Brasil, deu parecer negativo à construção da nova ferrovia. Mas, agora, parte do valor destinado ao PAC deve ser destinado a um novo projeto, que ainda não tem previsão de entrega.

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Para o Félix, que já tem que lidar com os diversos desafios da produção agrícola, como o clima e as pragas, a esperança é que pelo menos a logística não seja mais um deles:

– É uma empresa “a céu aberto”. A gente não depende somente 100% de nós. E sim, dependemos de São Pedro. Dependemos de vários fatores. Fatores globais, questão de preço, dólar. Mas estamos aí. O agricultor sempre está aí pra produzir o alimento, pra que chegue cada dia melhor e com mais quantidade na mesa de toda a população brasileira – conclui.

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